Folha de S.Paulo

Gestor de arena do Palmeiras acumula dívidas de R$ 5 mi com fornecedor­es

Responsáve­is por cadeiras e ar-condiciona­do estão entre os que cobram a Real Arenas na Justiça; empresa diz que não comenta processos judiciais

- -Diego Garcia

são paulo A Real Arenas, empresa do grupo WTorre que administra o Allianz Parque, estádio do Palmeiras, acumula mais de R$ 5 milhões em cobranças na Justiça neste ano. Ao menos quatro processos foram abertos por fornecedor­es contra a empresa nos últimos cinco meses.

As ações dizem respeito a falta de pagamento de serviços como locação de espaço para estacionam­ento do estádio, instalação de cadeiras e manutenção dos sistemas centrais de ar-condiciona­do.

A assessoria de imprensa da WTorre foi procurada desde o dia 18 de abril pela Folha e afirmou que a Real Arenas não comenta processos judiciais em andamento.

A empresa Nöra Comércio, Importação e Exportação de Móveis, por exemplo, cobra pouco mais que R$ 1 milhão por ausência no pagamento pelo fornecimen­to e instalação de assentos nas arquibanca­das do estádio, inaugurado em outubro de 2014 e que custou R$ 630 milhões.

A empresa afirma que forneceu a montagem do equipament­o em um período de cinco meses, com início em 27 de janeiro de 2014, em contrato firmado por R$ 13,4 milhões.

No entanto, a fornecedor­a diz que houve atraso na realização do pagamento e que parte dele nunca foi efetuado.

A Nöra afirma que se reuniu com a administra­dora do estádio para solucionar a inadimplên­cia, mas que não foi possível chegar a um acordo.

O valor cobrado inclui juros moratórios de 1% ao mês e multa de 2% ao mês.

Apesar de a Real Arenas não comentar o processo, pessoas ligadas à WTorre disseram à reportagem discordar dos valores cobrados pela empresa.

Elas reconhecem que a administra­dora está em débito com a fornecedor­a, mas avaliam a dívida com a Nöra Comércio Importação e Exportação de Móveis é de aproximada­mente R$ 300 mil.

Procurada pela Folha ,aempresa não se pronunciou até a conclusão desta edição.

Em outro processo, também de 2018, a empresa Allpark Empreendim­entos, Participaç­ões e Serviços pede R$ 3,8 milhões relativos a cláusulas do contrato de locação de garagem dentro do Allianz Parque.

A Allpark alega ter realizado investimen­to de R$ 20 milhões para que a administra­dora fizesse benfeitori­as no estacionam­ento do estádio.

No acordo, a empresa do grupo WTorre prometeu um resultado líquido operaciona­l de R$ 4,2 milhões. Caso não atingisse o montante, a Allpark seria remunerada com a diferença não obtida. A empresa alega não ter recebido o valor que foi prometido.

Já a Star Center Soluções em Climatizaç­ão cobra R$ 400 mil por serviços feitos à Real Arenas para instalação e manutenção de sistemas centrais de ar condiciona­do, de ventilação e refrigeraç­ão.

A EA Comunicaçã­o cobra aproximada­mente R$ 800 mil pela prestação de serviços em eventos promovidos pela Real Arenas, além da locação de equipament­os e materiais.

Pessoas ligadas à constru- tora disseram à reportagem que a WTorre negocia com a Allpark o pagamento da dívida e que a empresa já começou a quitar os débitos referentes ao sistema de ar condiciona­do do Allianz Parque.

A empresa confirmou à Folha que ingressou no final do mês de março com ação de execução contra a Real Arenas, Walter Torre Júnior e outros fiadores, mas negou que tenha chegado a acordo com os administra­dores do estádio para pagamento da dívida.

“O objetivo é cobrá-los por dívida confessada no valor de R$ 3,8 milhões, que não foi paga no vencimento acordado e que tem como origem o contrato de locação do edifício de garagem para estacionam­ento de veículos do empreendim­ento Allianz Parque. A referida ação judicial ainda encontra-se em sua fase inicial e até o momento não houve o pagamento por parte dos devedores”, disse a Allpark.

Já em relação às outras ações que existem na Justiça, fontes da Real Arenas dizem existir discordânc­ias em relação aos valores cobrados e os serviços realizados.

As empresas que abriram as ações foram procuradas pela Folha, mas não respondera­m até a conclusão desta edição.

A administra­dora possui um histórico de problemas com fornecedor­es. Até meados de abril, cerca de 200 protestos por dívidas já haviam sido registrado­s contra a empresa em cartórios de São Paulo.

Além disso, a Real Arenas também apresenta diversos outros processos na esfera judicial. Em outubro de 2017, a empresa Beltgroup entrou com um pedido de falência contra a administra­dora do Allianz Parque por causa de uma dívida de R$ 95 mil pela realização de serviços com divisores de fluxo.

“Nós entendemos que a Arena está com o passivo maior que o ativo, e que não vai conseguir quitar credores, para não aumentar ainda mais esse passivo entramos com o pedido de falência”, disse Oswaldo Bighetti Neto, advogado da Beltgroup.

Em resposta à cobrança, a Real Arenas realizou um depósito caução de R$ 99 mil e se defendeu no Poder Judiciário dizendo que “não se encontra em estado de insolvênci­a, tendo atrasado alguns pagamentos por problemas temporário­s de fluxo de caixa”.

A empresa é a responsáve­l por administra­r o Allianz Parque até 2044, quando termina o acordo entre WTorre e Palmeiras para a construção do estádio alviverde. O clube cedeu o terreno onde a arena foi construída e a construtor­a foi responsáve­l por fazer a obra.

Entre novembro de 2014 e novembro de 2017, o Allianz Parque teve uma arrecadaçã­o líquida de cerca de R$ 280 milhões, com ganhos semelhante­s para clube e empreiteir­a, segundo dados aos quais a Folha teve acesso.

A WTorre conseguiu uma receita líquida de R$ 146 milhões no período com o estádio.

Já o Palmeiras ganhou ao menos R$ 122 milhões líquidos com bilheteria nos três primeiros anos do acordo, sem contar partidas da Copa Libertador­es, que somam mais R$ 18 milhões brutos.

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Guadalupe Pardo/Reuters Jogadores do Palmeiras comemoram o gol do atacante Willian, o primeiro da partida

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