Sacralidade do ofício move atriz em musical sobre Bibi Ferreira
Amanda Acosta interpreta dama do teatro em temporada a partir desta sexta (4)
são paulo Amanda Acosta não sabia, mas tinha um encontro marcado com Bibi Ferreira.
A partir desta sexta (4), ela dará vida à artista de 95 anos no espetáculo “Bibi, uma Vida em Musical”, em temporada no Teatro Bradesco após passagem elogiada pelo Rio.
Texto e músicas se concentram na biografia da filha do ator Procópio Ferreira —um recorte que se confunde com a história do teatro brasileiro.
Foi há 23 anos que a atriz paulistana descobriu a veterana carioca; ganhou de uma professora de teatro uma fita com um registro de “Gota d’Água” (1975), musical de Chico Buarque e Paulo Pontes.
Tudo fez sentido, diz. “Eu imaginava as cenas para depois apresentar em saraus”.
O arrebatamento também inspirou a jovem criada em Itaquera, na zona leste de São Paulo, a explorar o universo do teatro e dos musicais.
Já são 25 peças, duas novelas e quatro filmes em carreira que começou cedo —Amanda foi vocalista do grupo infantil Trem da Alegria de 1988 a 1993.
Nos anos que se seguiram, houve outras intersecções entre sua trajetória e a da dama do teatro brasileiro.
Amanda protagonizou a mais recente montagem de “My Fair Lady”, musical que, em 1962, Bibi interpretou com Paulo Autran (1922-2007).
“Nessa época, encontrei a Bibi em um camarim após um show dela. Ela pegou nas minhas mãos, olhou nos meus olhos e disse: ‘Isso é trabalho, minha filha. Muito trabalho’.”
Marcada por incessantes esforços, a carreira de Bibi é toda revisitada no espetáculo.
Desde os 19 anos até tempos recentes, quando alternou-se entre shows dedicados a nomes como Édith Piaf e Frank Sinatra e a direção de peças.
“Estava tenso sobre o que ela acharia; além de ser a maior estrela do Brasil, é muito crítica”, diz o diretor Tadeu Aguiar, aliviado: Bibi gostou.
Segundo ele, que no musical dirige outros 17 atores, como Leo Bahia, a escolha pela protagonista priorizou caráter, aptidão e qualidade.
“Ela tem o tipo físico perfeito pra Bibi: ela é baixinha, elétrica, tem vivacidade e temperamento fortes. Amanda é brava e estuda sem parar.”
Trabalho, sempre ele: “O artista jovem tem uma vaidade, mas é preciso aprender com Bibi que teatro não é o tapete vermelho, é varrer o palco”.
Amanda, que adotou como mantra o que chama de “sacralidade do ofício”, viu a convivência ficar mais frequente após o episódio do camarim: viram peças uma da outra, homenageou-a em um show.
Ambas começaram cedo; Bibi aos 24 dias de vida, quando substituiu uma boneca de pano em uma peça; Amanda, um pouco mais tarde.
“Sempre cantei, dancei, interpretei. No quintal de casa, mesmo; juntava gente.”
Um vizinho que trabalhava na TV sugeriu ao pai dela levar a garota, aos 4 anos e meio, para se apresentar —ao vivo— no programa do Raul Gil.
Amanda cantou “Ursinho Pimpão”, da banda A Turma do Balão Mágico. Do episódio, duas lembranças dão timbre ao inconsciente da artista:
“Meu pai me fez uma roupinha com lantejoulas, e lembro de gostar daquele brilho. Lembro também de chorar no palco porque errei a letra. Desde cedo me cobro demais.”
A dois dias da estreia em São Paulo, Amanda parece embebida da personagem; chega a ser difícil separar atriz e ídolo.
“O teatro é sagrado. E é a salvação da humanidade, um momento em que se resolve questões de vida.”
Bibi, uma Vida em Musical
Teatro Bradesco - Shopping Bourbon - r. Palestra Itália, 500. Qui., 19h, sex. e sáb., 21h, e dom., 20h, até 1º/7. Ingr.: R$ 65 a R$ 150 (uhuu.com). 10 anos.