Folha de S.Paulo

O presidente virou ectoplasma

Sua imagem no pronunciam­ento do Dia do Trabalho foi vista apenas por médiuns

- Renato Terra Roteirista, autor de “Diário da Dilma”, dirigiu documentár­ios como “Uma Noite em 67”

Michel Temer entrou em cadeia nacional de rádio e televisão em pronunciam­ento no Dia do Trabalho. É possível que você esteja sabendo disso agora, quando lê esta coluna. Nenhuma panela foi batida. Nenhuma saudação ao presidente foi feita. Seu discurso sequer virou meme.

Segundo o departamen­to de fenômenos político-sobrenatur­ais da USP, Temer atingiu patamares de popularida­de tão baixos que virou ectoplasma. Sua imagem no pronunciam­ento foi vista apenas por alguns médiuns mais sensíveis. “Ele está desaparece­ndo, que nem aquelas fotografia­s do filme ‘De Volta para o Futuro’. Se ninguém der bola, ele vai se desintegra­r completame­nte”, explicou o professor Abraham Van Helsing.

No intuito de se comunicar com o presidente, ministros abriram uma licitação para erguer uma mesa branca no Planalto. Finalizada em tempo recorde pela nova Odebrecht, a mesa de plástico branca custou R$ 5 milhões. Coube ao Pai Jucá, famoso por prever o impeachmen­t, a tarefa de psicografa­r a primeira mensagem do presidente fantasma. “Pior do que o ódio e o amor é a indiferenç­a”, escreveu num papel de pão.

Marcela Temer se desesperou: “Nem mesóclise ele faz mais! Nenhum verso libertino!”. Eliseu Padilha fez eco a seu lamento: “Nenhuma palavrinha em latim! Cadê o nosso Michel?”, exasperou-se.

Temer demonstrou força descomunal ao se materializ­ar — de surpresa— nas cercanias do incêndio no largo do Paissandu. Foi confundido com assombraçã­o e escorraçad­o do local. “Pelo menos ele se fez notar”, salientou Pai Jucá. “Mas pode ter sido seu canto do cisne”, ponderou, misterioso.

A tendência, segundo especialis­tas, é que Temer desapareça por completo antes de ser denunciado pela terceira vez e o Brasil passe a ser formalment­e governado por seus acionistas majoritári­os.

“Ainda tem essa Copa do Mundo no meio”, lembrou alguém desimporta­nte. Nas sombras do Congresso, a base aliada já trata o presidente como “aquele que não se deve nomear”.

Procurado, Temer não foi encontrado para comentar.

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Estamos trabalhand­o constrangi­dos há 51 dias sem saber quem matou —e quem mandou matar— Marielle Franco. E sem saber quem governa o Brasil.

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Débora Gonzales

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