Folha de S.Paulo

Desemprego assusta atletas experiente­s e revelações que sonham com fama

Em busca de sucesso, jovens lutam por vaga em equipes pequenas enquanto veteranos tentam se manter jogando para sustentar a família

- Alex Sabino

são paulo Rodrigo Antonio de Oliveira Fornazier, 31, é empresário, marqueteir­o e assessor de imprensa de si mesmo. É o único jeito de ir atrás de um novo clube cada vez que acaba um contrato.

“Está ficando cada vez mais difícil arrumar clube. O tempo vai passando... É meio deprimente. Cansei de empresário­s. Meu empresário é Deus”, afirma o zagueiro.

Ao seu lado, Sandro Ricardo Chagas de Lima, o meia Kaká, 29, balança a cabeça concordand­o. Os dois disputaram neste ano a Série A3 do Paulista (terceira divisão estadual) pelo Taboão da Serra, time da Grande São Paulo.

Eles sabem que o tempo passa e o sonho de riqueza, fama e glória que tinham quando jovens não vai mais se materializ­ar. O futebol virou uma questão de sobrevivên­cia e luta para conseguir permanecer empregado na carreira na qual investiram a maior parte de sua juventude.

Por isso que Rodrigo pergunta se a Folha pode ceder as fotos feitas para acompanhar este texto. As imagens serviriam para ele se vender.

É o mesmo pensamento que tem Kaique Rocha da Silva, 22, goleiro desemprega­do e que treina três vezes por semana no Expressão Paulista, projeto mantido pelo Sindicato dos Atletas Profission­ais para jogadores que estão sem clube.

“No futebol, se você não está jogando, não tem valor nenhum”, constata Kaique.

Ele está no outro extremo. Ainda pode ser visto como alguém em começo de carreira. Ainda mais na posição de goleiro, na qual jogadores conseguem atuar até depois dos 40 anos de idade.

Mas alguém que afirma ser jogador profission­al e está sem clube com 22 anos desperta suspeitas. Como isso aconteceu? Se passou sete anos na base do Corinthian­s, como aconteceu com ele, por que saiu? Por que não conseguiu outra equipe?

“Quando você passa por um clube grande, sai e fica desemprega­do, cada vez mais as pessoas querem saber o porquê. Quando você sai da base e entra no profission­al, o que você fez antes não vale nada. Tem de mostrar tudo de novo, a partir do zero”, afirma.

Veteranos e jovem, Rodrigo, Kaká e Kaique têm em comum a passagem por equipes de ponta do país e a busca diária por novas oportunida­des que os levem de volta à elite do futebol nacional.

“Eu cheguei ao Santos aos 12 anos. Saí aos 21 e comecei a passar por clubes pequenos. Kaká, 29

Às vezes dá vontade de parar. Mas aí você lembra que ama o futebol. A gente joga mais por amor do que por dinheiro

Quando você sai da base e entra no profission­al, o que você fez antes não vale nada

Kaique, 22

 ?? Bruno Santos/Folhapress ?? Kaique Rocha da Silva passou pela base do Corinthian­s e ainda não se firmou no profission­al
Bruno Santos/Folhapress Kaique Rocha da Silva passou pela base do Corinthian­s e ainda não se firmou no profission­al

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