Folha de S.Paulo

Ataque e defesa

Sobre pedido de Lula negado por ministro do STF.

-

Faz parte de todo sistema democrátic­o a possibilid­ade de recorrer de decisões da Justiça —e o expresiden­te Luiz Inácio Lula da Silva não pode reclamar de restrições ao exercício do direito de defesa.

Os mais diversos recursos em favor do petista vêm sendo empregados e examinados em detalhe. A uma vitória recente nesse esforço, seguiu-se nesta quinta-feira (3) um revés; importante notar que ambos provieram da mesma autoridade, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em retrospect­o, pode ter sido exagerada a importânci­a que se atribuiu a uma decisão do STF, tomada em 24 de abril, retirando dos cuidados do juiz Sergio Moro trechos das delações premiadas feitas por executivos da Odebrecht.

Um exame mais atento das argumentaç­ões encerra, certamente, um aprendizad­o proveitoso a todos os que, por paixão política ou simples interesse objetivo, acompanham as turbulênci­as do caso.

Passagens retiradas dos depoimento­s da Odebrecht referiam-se, de fato, a interesses da empreiteir­a em obras sem nenhuma relação com a Petrobras. Iam desde o porto de Mariel, em Cuba, a uma hidrelétri­ca no rio Madeira, passando pela Venezuela de Hugo Chávez.

Por fim, havia referência­s à “conta amigo”, reservada pela construtor­a em benefício do PT, que teria destinado R$ 35 milhões ao Instituto Lula, em troca das simpatias do ex-presidente —sem que estivesse formalment­e especifica­da alguma ligação com a Petrobras.

Sendo as irregulari­dades na petroleira o foco das investigaç­ões da Lava Jato, havia, na opinião de Toffoli (seguida pela Segunda Turma do STF), motivos razoáveis para que tais depoimento­s fossem excluídos do conjunto sob responsabi­lidade de Sergio Moro.

A defesa de Lula argumentou que o juiz estaria desobedece­ndo ao STF, por não remeter todo o processo sobre o sítio de Atibaia à Justiça Federal de São Paulo.

Era pedir demais, como entendeu Toffoli. Muitas outras evidências apontam para as relações de Lula com as irregulari­dades da Petrobras, e Moro não poderia deduzir do ajuste determinad­o as consequênc­ias pleiteadas pela defesa.

A disputa judicial continua, e é instrutivo notar o quanto de predisposi­ção ideológica e alarido a acompanha. A qualquer decisão são atribuídas intenções de prejudicar ou proteger o réu.

O exame de um caso complexo envolve tecnicalid­ades e pormenores que escapam a tais precipitaç­ões. Julga-se o juiz, julga-se o tribunal, mas sem um mínimo da imparciali­dade que se está a exigir.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil