Segunda leva de venezuelanos interiorizados chega a Manaus
manaus O jardineiro venezuelano Wilman Mendoza, 22, diz que precisava juntar dois meses de salário na Venezuela para comprar uma lata de leite em pó para seu filho. “Estávamos passando fome”, afirma.
Mendoza é um dos 164 imigrantes que estavam em abrigos em Boa Vista, em Roraima, e chegaram a Manaus (Amazonas) nesta sexta-feira (4), na segunda etapa do programa de interiorização do governo federal.
Ao todo, 233 imigrantes venezuelanos deixaram Boa Vista em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB), mas 69 seguiram para abrigos de São Paulo. Os demais foram distribuídos entre três abrigos da capital amazonense.
A medida foi anunciada pelo presidente Michel Temer em fevereiro, quando se estimava em 40 mil os venezuelanos apenas em Boa Vista.
O fluxo intenso que foge da crise econômica no regime de Nicolás Maduro tem sobrecarregado o sistema de saúde e as escolas de Roraima, primeiro destino dos cerca de 50 mil venezuelanos que vieram para o Brasil (para a Colômbia foram cerca de 750 mil).
O estado também já foi palco de episódios de xenofobia.
Wilman e a mulher, a estudante Gisele Lugo, 19, decidiram tentar a vida em outro país para espantar a ameaça da fome de casa. Sem emprego e com a inflação anual de 1.088% que pulveriza a moeda do país, o medo deles era ver os dois filhos sofrendo.
A auxiliar de serviços gerais Olivia Misel, 38, aproveitou a chegada ao abrigo montado na Paróquia Santa Catarina de Sena, na zona centro-sul de Manaus, para tomar um banho de chuveiro e deitar em uma cama, coisa que ela não fazia há um bom tempo.
A crise econômica levou à falência a indústria onde trabalhava o marido dela, o industriário Jeberson Diaz, 35, e fez sumirem todas as opções de emprego que ela procurou. Sem alternativa para sustentar os dois filhos, o casal decidiu que era hora de tentar a vida em outro país.
Jeberson veio na frente, em janeiro. Após trabalhar por 20 dias em uma fazenda, comprou as passagens de ônibus para a mulher e a filha, Gleidy, de 13 anos.
Mãe e filha chegaram em fevereiro a Pacaraima, cidade a 215 quilômetros de Boa Vista. Sem dinheiro para comprar uma nova passagem até Boa Vista, onde estava Jeberson, elas decidiram fazer o percurso a pé, com mala e tudo.
Mas nem todos tiveram a mesma sorte. O guia turístico Geraldo Gil, 24, e a mulher, a auxiliar de farmácia Luisa Guerrero, 19, decidiram trocar Margarita por Manaus para fugir da crise econômica e também da violência, mas esbarraram nela no caminho.
Eles foram assaltados, a mão armada, por um venezuelano, no período que permaneceram em Boa Vista. Chegaram a Manaus sem nada do pouco que tinham quando saíram da Venezuela.
Dividindo o quarto do abrigo com Geraldo, o pedreiro Jonatan Carmona, 32, estava aliviado por ter, enfim, conseguido chegar a Manaus com a mulher, Monica Algarin, 31, e os quatro filhos, de 5 anos, 10 anos, 13 anos e 15 anos.
“Depois de passar fome, dormir na rua, sob chuva e de toda a incerteza sobre nosso futuro, é muito bom, enfim, poder chegar a algum lugar que podemos chamar de casa.”