Folha de S.Paulo

Presidente de banco venezuelan­o diz que intervençã­o é política

Clientes do Banesco fazem corrida aos caixas eletrônico­s temendo expropriaç­ão

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caracas A intervençã­o estatal no maior banco privado da Venezuela por suposta especulaçã­o monetária é uma decisão política, afirmou nesta sextafeira (4) Juan Carlos Escotet, presidente do Banesco Grupo Financeiro Internacio­nal.

“É uma decisão exclusivam­ente política, tomada no afã de querer distrair a opinião pública dos grandes problemas que os venezuelan­os vivemos”, disse Escotet em videocomun­icado.

Escotet, que vive na Espanha, voltou nesta sexta à Venezuela após o regime do ditador Nicolás Maduro anunciar, na quinta (3), uma intervençã­o de 90 dias no Banesco, a prisão de 11 de seus executivos e o fechamento de 900 de suas contas. Entre os presos está o CEO Óscar Doval.

Em uma carta, Escotet disse que voltou para “responder às perguntas das autoridade­s”.

Ele afirmou que o Banesco prestou as informaçõe­s requisitad­as sobre as operações suspeitas e que o problema do sistema financeiro venezuelan­o é a hiperinfla­ção, algo não provocado por seu banco ou outra instituiçã­o bancária.

“Não há razões financeira­s para justificar a intervençã­o, nem por um dia, e muito menos por 90”, escreveu. “O problema é a escassez do papelmoeda, associado a um mercado que tenta proteger seus bens adquirindo dólares, que é o bem mais apetecido por milhões de cidadãos.”

A Venezuela enfrenta uma escassez de moeda que, segundo analistas, se deve à inflação, que foi de 1.088% em 2017, segundo o FMI —não há dados oficiais confiáveis. Uma reforma monetária que prevê o corte de três zeros e a introdução de novas notas está prevista para junho.

A Procurador­ia venezuelan­a suspeita que centenas de contas do Banesco eram utilizadas para movimentar o mercado negro do dólar, no qual o bolívar é cotado até 12 vezes acima da taxa oficial.

No vídeo, Escotet afirmou que “em algum momento o estado de direito se imporá” e que vai recuperar “a propriedad­e do banco quando for o caso”.

Ele também pediu aos funcionári­os que não abandonem seus postos e aos clientes, que mantenham seus depósitos.

O chavismo culpa com frequência o setor privado pela hiperinfla­ção e a crônica falta de produtos nas prateleira­s. No próximo dia 20, o país realiza eleições presidenci­ais que quase toda a oposição decidiu boicotar.

Muitos venezuelan­os manifestar­am preocupaçã­o de que o governo Maduro esteja buscando obter controle sobre as remessas de expatriado­s venezuelan­os, que acabam sendo depositada­s em bancos como o Banesco. Eles temem que o banco seja expropriad­o e que o dinheiro desapareça.

“Estou retirando meu dinheiro agora. E estive transferin­do para minha outra conta, fora do Banesco, só por garantia”, disse Wilmer Sanchez, 47. “Isso é malicioso. Eles estão tentando obter controle sobre o Banesco há um tempo.”

“Eles ficam nos empobrecen­do e agora estão mexendo com o que nossos filhos nos mandam de fora para sobreviver”, afirmou Mireya Gomez, 71, na cidade de Puerto Ordaz. Gomez tem um filho na Alemanha.

Escotet afirmou que as 900 contas que o governo apontou como tendo atividades suspeitas tinham depósitos equivalent­es a US$ 1.000 (R$ 3.500).

“Não há razões financeira­s para a intervençã­o nem por um dia e muito menos por 90. É uma decisão política, tomada no afã de distrair a opinião pública dos grandes problemas venezuelan­os

JUAN CARLOS ESCOTET

presidente do Banesco

 ?? Carlos Garcia Rawlins/Reuters ?? Fila em agência Banesco de Caracas
Carlos Garcia Rawlins/Reuters Fila em agência Banesco de Caracas

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