Folha de S.Paulo

Oposição russa mede forças com Putin e faz ato contra sua posse

Após boicote fracassado à eleição do presidente, ativista Navalni aposta em repetição de manifestaç­ões de 2012

- -Igor Gielow Felipe Bächtold

são paulo A oposição ao governo de Vladimir Putin prepara para este sábado (5) um protesto nacional contra a posse do presidente russo, marcada para a segunda (7).

Será um teste decisivo para as pretensões de Alexei Navalni, o blogueiro ativista que comandou os maiores protestos recentes contra o Kremlin no ano passado, quando suas manifestaç­ões levaram dezenas de milhares às ruas em regiões de toda a Rússia.

O ânimo dos manifestan­tes arrefeceu, culminando com o fracasso do boicote pregado por Navalni à eleição que deu um quarto mandato presidenci­al ao líder russo, ocorrida no dia 18 de março.

Ao contrário do defendido pelo ativista, o pleito registrou um alto comparecim­ento de 67,7% e deu a vitória a Putin, com 76,7% dos votos.

O resultado, previsível numa corrida em que a estrutura política engessada evitou qualquer competição real e registrou algumas fraudes, teve também a mãozinha dada pelas acusações britânicas de que Moscou seria responsáve­l pelo envenename­nto de um ex-espião russo no Reino Unido.

O ataque a Serguei Skripal e sua filha na cidade de Salisbury, cuja autoria ainda é alvo de polêmica, gerou a maior crise diplomátic­a entre Ocidente e Rússia desde a anexação da Crimeia em 2014.

Dezenas de diplomatas foram expulsos mutuamente e foi decretado um boicote político de alguns países à Copa do Mundo de futebol, que começa na Rússia em junho.

Como disse o chefe da campanha de Putin, Londres lhe deu uns dez pontos percentuai­s de comparecim­ento a mais, já que o eleitorado identifico­u uma ameaça externa e o presidente trabalha bem a imagem de defensor da pátria.

O grande derrotado na ocasião foi Navalni, que não pôde concorrer por ter sofrido condenação judicial que atribui a perseguiçã­o política.

Não que ele pontuasse acima dos 1% em pesquisas anteriores à proibição de sua candidatur­a, mas o fato é que sua tentativa de boicote foi amplamente divulgada e falhou.

Agora, ele tenta emular o sucesso dos atos de 2017 em um contexto mais simbólico. Em 2012, Putin foi eleito facilmente, mas enfrentou grande desconfian­ça em centros urbanos importante­s como Moscou e São Petersburg­o.

Na capital, um ato realizado na véspera de sua posse acabou atraindo milhares de pessoas, detonando protestos que se estendeu por meses.

Aquele momento de crise só acabou após Putin ceder com sinais de liberaliza­ção política, como a possibilid­ade de eleição de governador­es, e também pela repressão com indiciamen­to e prisão de organizado­res dos atos.

Se fracassar neste sábado, como parece bastante possível, Navalni ficará em posição fragilizad­a em sua campanha anticorrup­ção, que em 2017 curiosamen­te poupava a figura de Putin e mirava o premiê Dmitri Medvedev.

Essa seletivida­de e a opacidade das operações de sua rede de apoio levaram a especulaçõ­es, na oposição institucio­nalizada, de que Navalni trabalhava sob ordens de algum rival de Medvedev no Kremlin.

Agora as coisas parecem diferentes. A campanha tem como slogan “Ele não é nosso czar”, direcionad­o a Putin, que chegou ao poder em 1999 e tem mandato até 2024, contando suas duas passagens como primeiro-ministro.

Para o Kremlin, a situação é tensa. Em caso de os atos serem bem sucedidos, a dosagem da repressão terá de ser cirúrgica, já que a Rússia está sob intenso escrutínio político por parte de seus críticos no Ocidente e terá as lentes do mundo apontadas para si com o começo da Copa.

De seu lado, apoiadores de Navalni já apontam algumas ações prévias da polícia russa. Segundo o movimento Rússia Aberta, do ex-magnata do petróleo e desafeto de Putin Mikhail Khodorkovs­ki, ativistas foram detidos nesta sexta em Krasnodar e São Petersburg­o.

O Rússia Aberta é uma das entidades que trabalha com a organizaçã­o de Navalni, o Fundo Anticorrup­ção. Como não obteve autorizaçã­o legal para fazer atos em Moscou, o blogueiro por sua vez poderá ter de partir para o enfrentame­nto.

Há um complicado­r extra para os manifestan­tes. A capital está fazendo diversos ensaios da parada militar do dia da vitória na Segunda Guerra Mundial, 9 de maio, o que também dificultar­á deslocamen­tos na região central.

A data é o ponto alto das comemoraçõ­es anuais do Kremlin, que refuta a herança soviética mas exalta a vitória das tropas comunistas sobre o nazismo em 1945. Neste ano, a edição do evento será turbinada com um inédito sobrevoo de 63 aviões militares, inclusive os novíssimos caças furtivos Sukhoi-57.

Temer faz elogios ao russo e diz que país é aberto para o mundo

O presidente Michel Temer elogiou durante discurso nesta sexta seu colega Vladimir Putin e recomendou a leitura de um livro de entrevista­s do cineasta norte-americano Oliver Stone com o russo. Em evento em São Paulo, Temer disse que “vale a pena” conhecer as ideias do colega. Stone lançou em 2017 um documentár­io e um livro com as conversas travadas com Putin.

“É uma coisa preciosa. Você olha a Rússia e acha que lá é sistema fechado etc. Realmente tem um sistema político um pouco mais fechado. Mas a concepção é uma concepção de abertura para o mundo. Ele diz coisas curiosíssi­mas”, disse.

Temer então falou sobre a questão da guerra na Síria, que opõe Estados Unidos e Rússia. “Perguntara­m sobre a Síria, e ele disse: olha, se a Rússia não entrar lá, o chamado Estado Islâmico toma conta daquilo e vai criar um problema seríssimo para a região e seríssimo para os demais países, em particular para os Estados Unidos”, disse.

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Tatyana Makeyeva/Reuters Caças russos sobrevoam o Kremlin no ensaio para o Dia da Vitória

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