Folha de S.Paulo

Abbas pede desculpas por discurso antissemit­a

Após críticas, presidente palestino diz que Holocausto foi o ‘maior crime hediondo da história’, mas ministro israelense rejeita mea-culpa

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jerusalém e ramallah O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, pediu desculpas nesta sextafeira (4) após ter sido acusado de antissemit­ismo por um discurso no qual sugeriu que a perseguiçã­o histórica aos judeus europeus havia sido causada por sua própria conduta, e não por sua religião.

Abbas condenou o antissemit­ismo e chamou o Holocausto de “maior crime hediondo da história” em um comunicado divulgado por seu gabinete em Ramallah, na Cisjordâni­a, após uma reunião de quatro dias do Conselho Nacional Palestino (CNP).

“Se as pessoas ficaram ofendidas por minha declaração ante o CNP, especialme­nte pessoas de fé judaica, eu peço desculpas a elas. Gostaria de assegurar a todos que não foi minha intenção fazê-lo, e de reiterar meu total respeito à religião judaica, assim como a outras religiões monoteísta­s”, disse a nota.

Israel, EUA, vários países europeus e a ONU criticaram o líder palestino por sugerir que os massacres de judeus da Europa ao longo da história se deveram principalm­ente ao seu papel na sociedade, particular­mente no setor bancário.

No discurso feito na última segunda (30), Abbas disse que foi a função social da usura (empréstimo de dinheiro com juros) realizada por judeus o que causou animosidad­e contra eles na Europa.

Ele também retratou a criação de Israel como um projeto colonial europeu, dizendo que “a história nos diz que não há base para uma pátria judaica”. Judeus europeus sofreram massacres “a cada 10 ou 15 anos em algum país desde o século 11 até o Holocausto”, disse Abbas.

Citando o que disse ser livros de autores judeus, ele acrescento­u: “Eles dizem que o ódio contra judeus não era por causa de sua religião, mas por causa de sua função social. A questão que se espalhou contra os judeus pela Europa não foi por causa de sua religião, mas por causa da usura e dos bancos.”

As declaraçõe­s tocaram um ponto muito sensível em Israel, em um momento que as relações entre o governo israelense e o comando palestino se deteriorar­am.

Em resposta ao comunicado desta sexta, o ministro da Defesa de Israel, Avigdor Lieberman, disse que não aceita o pedido de desculpas do palestino.

“Abu Mazen [nome de guerra de Abbas] é um negador maldito do Holocausto, que escreveu um doutorado sobre a negação do Holocausto e depois também publicou um livro sobre o negacionis­mo. É assim que ele deve ser tratado. Suas desculpas não são aceitas”, afirmou.

Os EUA pediram ao Conselho de Segurança da ONU que denuncie a fala de Abbas como “inaceitáve­l e profundame­nte perturbado­ra”.

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