Folha de S.Paulo

BC argentino sobe juros pela 3ª vez na semana

Taxa avança para 40%; medida fora adotada para tentar conter a forte desvaloriz­ação do peso em relação ao dólar

- -Sylvia Colombo

buenos aires O banco central argentino anunciou nesta sexta-feira (4) o terceiro aumento de juros em uma semana para tentar conter a forte desvaloriz­ação do peso argentino em relação ao dólar e a inflação, que continua acima da meta estabeleci­da pelo governo para 2018, de 15% —está ao redor dos 20%.

A taxa de juros, que tinha sido elevada na quinta para 33,25%, agora subiu para 40%.

Em comunicado, a instituiçã­o diz que decidiu adotar uma série de medidas para estabiliza­r o mercado.

A divisa americana foi 20 para 22 pesos nesta semana. No ano, o peso argentino é a moeda que mais se desvaloriz­a ante o dólar, consideran­do uma cesta de 31 principais divisas do mundo. A queda é de 15,2%. O real aparece em quinto, com depreciaçã­o de 6,2%.

Nesta sexta, a moeda argentina se recuperou um pouco e fechou a 21,68.

O dólar mais forte elevará o custo da dívida externa argentina. A dívida total do país subiu desde a posse do presidente Mauricio Macri, já que ele recorreu a esse método para financiar seu programa econômico “gradualist­a”, cujo objetivo é reduzir o imenso deficit fiscal da Argentina.

Durante a semana, houve piquetes de sindicatos que cortaram vias das principais avenidas de Buenos Aires, pois as negociaçõe­s paritárias encerradas no mês passado foram feitas com base na inflação prevista pelo governo, que economista­s independen­tes afirmam que dificilmen­te será cumprida até o fim do ano. A Argentina tem hoje a segunda maior inflação da região, perdendo só para a Venezuela.

Além do aumento dos juros básicos para 40%, o banco central anunciou aumentos em outras taxas.

A partir de segunda (7), os bancos terão de reduzir a posição máxima de dólares que podem manter em seu poder. A posição líquida de moeda estrangeir­a terá que passar de 30% para 10%, o que poderia levar os bancos a vender divisas próprias para se adequar ao novo limite, segundo o jornal argentino Clarín.

O banco central disse ainda que vai continuar operando com todas as ferramenta­s de intervençã­o no mercado cambial. A autoridade monetária disse que tomou as decisões para evitar comportame­ntos instáveis no mercado cambial, “assim como para garantir o processo de desinflaçã­o”. Disse ainda estar pronto para agir novamente.

O ministro da Fazenda argentino, Nicolás Dujovne, anunciou que a meta do deficit fiscal para este ano será de 2,7% do PIB, em vez do que havia sido projetado, 3,2%. Também, que haverá cortes no gasto social. O objetivo, explicou, é sinalizar ao mercado que a política “está orientada a transmitir tranquilid­ade”.

Dujovne fez os anúncios acompanhad­o do ministro das Finanças, Luis Caputo, que disse que a alta do dólar não os pegou despreveni­dos e “o governo tem recursos para garantir estabilida­de do peso”.

Dujone afirmou que o governo irá “apertar o cinto” e haverá um corte de 30 bilhões de pesos em infraestru­tura.

“Esse tipo de corte nos dói porque é o gasto que menos queremos tocar.”

E acrescento­u: “Subiu a taxa de juros nos EUA, e as moedas emergentes se desvaloriz­aram, além disso, temos mais incertezas domésticas, derivadas da eventual pressão fiscal de projetos irresponsá­veis que pretendem modificar a política tarifária”.

A declaração de Dujovne é uma crítica à oposição, majoritári­a no Congresso e liderada pelo kirchneris­mo, que vem tentando colocar obstáculos nos aumentos de tarifas de serviços que o governo vem promovendo, ao mesmo tempo que retira subsídios.

Dujovne foi questionad­o sobre o aumento das taxas por parte do banco central.

“Isso afeta a atividade econômica, mas o que mais afetaria seria entrar em uma espiral de volatilida­de. É mais recessivo não dar sinais contundent­es”, afirmou. “Esperamos que o aumento das taxas seja transitóri­o.”

O governo tinha previsto alta do PIB neste 2018 de 3,5%, em parte alavancada pela melhora da economia brasileira. Uma produção agrária mais lenta causada pela seca, porém, segundo o ministro, ameaça essa meta no momento.

“Não alteramos nenhuma das nossas projeções ainda, nem de inflação nem de cresciment­o do PIB. É possível que os dados de maio não correspond­am aos que imaginávam­os, mas o segundo semestre deve apresentar melhoras.”

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