Folha de S.Paulo

BC liquida banco que era parceiro de novata no setor financeiro

Autoridade monetária encontrou problemas no Banco Neon, instituiçã­o associada ao Neon Pagamentos

- -Maeli Prado, Filipe Oliveira e Danielle Brant

brasília e são paulo O Banco Central decretou liquidação extrajudic­ial do Banco Neon, com sede em Belo Horizonte (MG), e as contas de clientes da instituiçã­o financeira foram bloqueadas até que um levantamen­to inicial dos saldos seja realizado.

Os donos das contas-correntes do Neon serão totalmente restituído­s, segundo o BC. Após a verificaçã­o inicial, os valores serão ressarcido­s pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos) em um prazo de sete a dez dias, segundo estimativa da autoridade monetária.

O Banco Neon foi criado em 2016 a partir de uma associação entre a fintech de meios de pagamentos Contro.ly, que passou a se chamar Neon Pagamentos, e o Banco Pottencial. Logo depois do comunicado desta sexta, o Banco Central precisou esclarecer que a intervençã­o se referia à instituiçã­o financeira, e não à fintech, que usava os serviços do banco para operar.

O Banco Central informou que estão sendo analisadas mil contas do Banco Neon. O Neon Pagamentos afirma ter 600 mil contas de pagamento, que não estariam submetidas a essa verificaçã­o do BC. A Folha apurou, no entanto, que a maior parte das 600 mil contas estaria inativa ou teria valores baixos. Uma parcela também seria formada por cartões.

O Neon Pagamentos diz que os cartões pré-pagos de seus clientes poderão ser usados no débito, mas recargas e novas emissões ficam suspensas enquanto a fintech não encontra outro banco parceiro.

É a primeira vez que um banco com contas digitais sofre liquidação extrajudic­ial do BC.

Os problemas encontrado­s no Banco Neon vão desde pa- trimônio líquido negativo a graves violações a normas da CVM (Comissão de Valores Mobiliário­s).

A instituiçã­o precisaria de pelo menos R$ 23 milhões a mais no patrimônio líquido para alcançar o mínimo exigido pelo BC. Além disso, teria feito contabiliz­ação incorreta de ativos e deixado de reconhecer passivos.

Um dos problemas encontrado­s foi a “deficiênci­a de controle e monitorame­nto de lavagem de dinheiro”. De acordo com fonte da autoridade monetária, o banco cometeu violações que compromete­ram a relação de confiança com o regulador. Ou seja, envolvem suspeita de má-fé.

O Neon tem no financiame­nto a pequenas e médias empresas sua principal atividade, e possui menos de 20% do Neon Pagamentos.

O banco possui menos de mil contas digitais, com depósitos que variam entre R$ 50 e R$ 100, segundo o BC. Os ativos do banco totalizam R$ 200 milhões, dos quais 12,5% são referentes a contas digitais e cartões pré-pagos.

Desde esta sexta, o banco está com operações suspensas e administra­dores afastados.

Segundo o BC, os ativos do Neon serão vendidos com o objetivo de ressarcir credores, como dívidas trabalhist­as e com o Fisco, por exemplo. O Banco Central informou ainda que os bens dos controlado­res e ex-administra­dores do Neon ficam indisponív­eis.

O Neon Pagamentos, segundo o BC, não cometeu nenhuma irregulari­dade e, portanto, não está sob intervençã­o. Um dia antes de a liquidação ser anunciada, a empresa havia anunciado a captação de R$ 72 milhões em uma rodada de investimen­tos.

De acordo com a autoridade monetária, a fintech está livre para fechar parceria com outro banco e para usar os recursos que captou no mercado.

‘É chato banco parceiro fazer uma besteira dessas’, diz fundador

O fundador da fintech Neon Pagamentos, Pedro Conrade, lamentou a decisão de ter adotado o mesmo nome do Banco Neon.

Para manter contas de pagamento para seus clientes, a fintech precisa de parceria de uma instituiçã­o financeira autorizada pelo Banco Central.

“É super chato. Estamos fazendo um ótimo trabalho e um banco que usamos faz uma besteira dessas”, afirmou, em entrevista à Folha, poucas horas depois de saber da intervençã­o do BC na instituiçã­o financeira.

A Contro.ly, fintech de Conrade, trocou de nome ao fazer uma parceria com o então Banco Pottencial, em 2016, e acabou adotando o mesmo nome da financeira.

“A marca Neon pertence ao Neon Pagamentos. Emprestamo­s ao Banco Neon durante o período do acordo operaciona­l entre as empresas, para não gerar confusão entre os clientes. Se hoje tivesse dois nomes, nada desse furacão estaria acontecend­o”, afirma.

O fundador da fintech diz que nem ele como pessoa física, nem o Neon Pagamentos têm participaç­ão acionária no Banco Neon. Porém, os três sócios do banco —Argeu de Lima Géo, Carlos Géo Quick e João de Lima Géo Filho— investiram como pessoa física no Neon Pagamentos. “Eles investiram há dois anos, assim como mais de 20 investidor­es-anjo na época. O dinheiro saiu do bolso deles, não teve nada a ver com o Banco.”

Segundo Conrade, os 600 mil clientes que o Neon Pagamentos possui não serão afetados pela liquidação extrajudic­ial do Banco Neon. Ele diz que os clientes podem fazer pagamentos no débito, mas transferên­cias e pagamentos de contas estão bloqueados até que a fintech ache outro parceiro autorizado a fazer essas transações.

“O mais importante é resolver logo isso. Não temos nenhuma preocupaçã­o em relação a achar um banco parceiro, deve ter umas 300 mensagens de apoio, de donos de empresas, de bancos, pessoas do mercado. Eles sabem que somos sérios, não fizemos nada de errado. Tem muita gente se oferecendo para suportar a operação”, diz.

O empresário diz ter interesse em tornar o Neon Pagamentos um banco no futuro, para ter mais controle sobre a operação e evitar que problemas como esse se repitam.

“Trouxemos sócios espetacula­res, gente de primeira linha. A gente está plenamente confiante. Empreender não é fácil, tem suas dificuldad­es.”

A fintech, que tinha lançado cartão de crédito há três semanas, informou que cancelou as transações com esse meio de pagamento por causa da confusão.

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Rafael Roncato -22.jan.18/Folhapress O fundador da Neon Pagamentos, Pedro Conrade, lamentou a decisão de ter adotado o mesmo nome do Banco Neon

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