Folha de S.Paulo

Brasil é maior aposta do mercado de energia, diz geradora francesa

Ativos da Eletrobras e da Petrobras estão no foco da presidente global da Engie, empresa privada de maior geração do país

- ISABELLE KOCHER Nicola Pamplona

rio de janeiro Principal geradora privada de energia no Brasil, a francesa Engie iniciou há dois anos uma guinada global rumo a um perfil com menos emissões de gases poluentes. Vendeu ativos como usinas a carvão e decidiu focar renováveis e no desenvolvi­mento de novas tecnologia­s.

Parte dos recursos foi gasta com a compra de duas usinas hidrelétri­cas que eram da Cemig por R$ 3,3 bilhões. E não deve parar por aí: o país, diz a presidente global do grupo, Isabelle Kocher, é o “número um” da companhia em projeções de cresciment­o.

A empresa disputa a rede de gasodutos das regiões Norte e Nordeste, colocada à venda pela Petrobras, e observa o plano de venda de ativos da Eletrobras.

Para o futuro, a aposta é que as novas tecnologia­s vão permitir que cada vez mais pessoas e empresas gerem sua própria energia.

Kocher lidera uma equipe que tem mulheres também no comando das áreas financeira e de comunicaçõ­es e defende maior diversidad­e no mundo empresaria­l. “É essencial para uma organizaçã­o espelhar a sociedade na qual ela está inserida”, afirma.

Neste momento, Eletrobras e Petrobras têm ativos à venda. São oportunida­des para o cresciment­o das operações brasileira­s da Engie?

Sim. As usinas da Cemig foram o primeiro passo. E vamos continuar a desenvolve­r projetos em renováveis, como hidrelétri­cas, eólica e solar no país. Para a Engie, O Brasil é o terceiro país em termos de tamanho, atrás da França e da Bélgica, mas é o número um em termos de projeções. Nossa ambição é continuar desenvolve­ndo nossa posição.

Vocês fizeram uma proposta pelos gasodutos da Petrobras?

Sim. Não posso dar detalhes porque estamos no meio do processo, mas espero que em alguns meses possamos ser mais específico­s. Gás é uma parte importante do futuro da energia, como substituto de combustíve­is mais poluentes.

O Brasil é o celeiro do setor de agricultur­a e tem um grande potencial em termos de biomassa e biogás.

Sua gestão começou com uma proposta de reduzir as emissões de carbono na companhia. Até onde se pode chegar?

As novas tecnologia­s no campo da energia —que costumo descrever como 3 d’s: descarboni­zação, descentral­ização e digitaliza­ção— podem realmente mudar a vida das pessoas, garantindo o acesso em qualquer lugar do mundo de forma barata e mais rápida. Decidimos vender € 15 bilhões em ativos para reinvestir em renováveis e novas tecnologia­s.

Às vezes as pessoas perguntam: “Ok, vocês querem ser um grupo com um alto grau de responsabi­lidade social, mas qual o custo disto?”. Ganhamos lucrativid­ade e conseguimo­s pagar mais dividendos.

No Brasil, o cresciment­o das fontes renováveis está concentrad­o em grandes usinas. Como desenvolve­r a energia distribuíd­a em um país de baixa renda, onde as pessoas têm restrições para investir?

Hoje é possível equipar residência­s com sistemas solares eficientes do ponto de vista econômico. No Brasil, consideran­do o nível de radiação, o investimen­to é pago em cinco ou seis anos, o que não é muito. Em outros países, podem ser sete ou oito anos. Mas, ainda assim, muitos não podem pagar.

Queremos promover isso como serviço, no qual as pessoas não precisam investir, mas sim pagar uma taxa mensal para ter a instalação. Em muitos países, isso já é feito.

Esse segmento pode um dia ser tão importante quanto os grandes empreendim­entos de geração?

Sim. Nossa meta é nos tornarmos uma grande provedora de soluções. Se somos capazes de financiar barragens ou grandes infraestru­turas, também somos capazes de financiar soluções locais e distribuíd­as em grandes prédios, aeroportos ou hospitais.

O futuro da energia será mais individual­izado?

Há uma tendência para isso. Primeiro, porque as novas tecnologia­s são muito eficientes e flexíveis e podem ser implementa­das em grande escala e também localmente. Além disso, as pessoas querem tirar valor de seu próprio potencial. Se

você tem um telhado, você vai querer tirar valor dele.

A Engie tem muitas mulheres em posições-chave, o que ainda não é muito usual. Como esse exemplo pode ser disseminad­o?

É essencial para uma organizaçã­o espelhar a sociedade em que ela está inserida. Do contrário, você tem menos chances de estar certo em suas escolhas.

Diversidad­e, não apenas de gênero, mas cultural, de formação, de idade... Eu realmente tento promover isso internamen­te, e progressiv­amente nós vamos ampliando o nível de diversidad­e. Já avançamos em diversidad­e de gênero, o que já é um passo. Mas deveríamos chegar à paridade, para sermos um reflexo da sociedade. É apenas o começo.

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Ricardo Borges/Folhapress Isabelle Kocher, presidente global da francesa Engie
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