Folha de S.Paulo

Governo quer limitar desconto na conta de luz de família pobre

Proposta visa reduzir subsídios no setor, que somaram de R$ 15 bilhões em 2017

- Taís Hirata e Nicola Pamplona

são paulo e rio de janeiro O governo federal quer limitar a tarifa social de energia elétrica, que dá descontos na conta de luz das famílias de baixa renda do país.

A proposta faz parte de um pacote para reduzir os subsídios incluídos na tarifa dos consumidor­es de energia —que são cobrados por meio da CDE (Conta de Desenvolvi­mento Energético).

As medidas estão em uma consulta pública aberta nesta sexta-feira (4) pelo Ministério de Minas e Energia. As propostas serão recebidas até 23 de abril.

Os subsídios, porém, não se restringem às famílias pobres.

Há também descontos para a compra de carvão mineral, (usado em usinas termelétri­cas), para produtores rurais, companhias de água e esgoto, indústrias de energias renováveis, para a compra de combustíve­l de usinas na região Norte, entre outros.

A conta consumiu R$ 14,9 bilhões no ano passado, em valores ainda estimados.

A ideia é que todos sofram cortes, mas ainda não está claro qual será a redução para todos esses segmentos.

No caso dos subsídios à compra de carvão, por exemplo, a proposta não prevê nenhuma alteração. Em relação aos benefícios dados à indústria de energia renovável e aos produtores rurais, ainda não há uma sugestão —as propostas serão colhidas na consulta pública, da qual deverão participar os setores beneficiad­os.

Em relação às famílias de baixa renda, o governo já calculou qual deverá ser a redução: R$ 800 milhões por ano. Em 2017, foram quase R$ 2,5 bilhões de desconto a famílias pobres. A ideia é limitar o benefício às famílias inscritas no programa Bolsa Família, restringin­do o número de beneficiár­ios a 65% do atual, e instituir um teto de desconto de R$ 22 por mês.

Neste ano, o orçamento para a CDE é de R$ 18,8 bilhões —valor 17,8% maior que o do ano passado.

Os gastos crescentes com a conta preocupam o setor.

“Houve uma série de pendurical­hos que foram se aderindo à conta de luz e hoje ainda há dezenas de projetos de lei criando subsídios adicionais. Esses encargos afetam mais as classes de menor renda, porque é para elas que a conta de luz pesa mais no orçamento mensal”, afirma Claudio Salles, presidente do Instituto Acende Brasil.

Para Joísa Dutra, professora FGV e ex-diretora da Aneel (órgão regulador do setor elétrico), é imperativo que o processo de revisão da CDE dê mais transparên­cia à conta.

“Esse processo deveria passar por uma simplifica­ção dos encargos. Hoje, é difícil acompanhar o que está incluso na conta de luz do consumidor.”

A conta foi criada em 2002, com três objetivos: promover fontes renováveis; fazer o desenvolvi­mento energético de estados; e universali­zar a energia no país. Desde então, os subsídios se ampliaram a nove tipos.

O item que mais pesa hoje é a CCC (Conta de Consumo de Combustíve­l), usada para subsidiar os custos de geração em regiões isoladas do país. Ainda não há proposta definida para limitar esse gasto.

O governo fala ainda em estabelece­r uma fórmula que limite o orçamento da CDE ao gasto do ano anterior.

O relatório também levanta a possibilid­ade de repassar gradualmen­te os subsídios ao orçamento da União, alegando que foram criados para custear políticas públicas.

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