A invasão dos chefs de araque
Ah, os eventos do “mundinho” da gastronomia.
Eles reúnem sempre as mesmas pessoas —jornalistas, influenciadores e famintos diversos que encaram programas chatos pelo menos cinco vezes por semana, apenas para não pagar por comida e bebida.
Essa gente se reúne em pequenos grupos, todos com taça em punho, para falar mal da rodinha adjacente. Quando um membro da outra turma se aproxima, é recebido como se fosse a pessoa mais querida do mundo.
A rotina às vezes é interrompida por alguém que atrai todas as atenções.
Essa pessoa transita pelas panelinhas. Quando a cumprimento, percebo alguma decepção em seu olhar: o estranho percebeu que eu não o reconheci. Deveria eu?
Que rata, Marcão. Eu deveria me esforçar mais para ligar nomes aos rostos, para não parecer antipático.
Invariavelmente descubro que o indivíduo em questão é egresso do MasterChef ou de outro reality culinário. Uma subcelebridade das panelas.
Depois vou pesquisar a tal pessoa e fico sabendo que ela tem “100K” de seguidores no Instagram. O nome de perfil sempre é @ chef.isso ou @chef.aquilo. Chef de quem, cara-pálida?
Estou ficando velho, sei, e cada dia mais rabugento. Não consigo evitar a irritação com a leviandade que a garotada trata coisas que não são tão banais assim.
Não é difícil deduzir que a palavra “chef” —um galicismo, como o grosso do jargão gastronômico— significa “chefe”. É preciso chefiar ou ter chefiado alguma equipe para ostentar esse título. “Cozinheiro(a)” é o nome da profissão.
Entendo que esse pessoal gastou uma grana preta para fazer faculdade, mas o canudo de gastronomia não é uma varinha de condão que transforma o estagiário em chefe.
Os paparicos e salamaleques têm data de validade, o que não os impede de inflar a bolha dos deslumbrados. Todo mundo quer ser MasterChef, ninguém quer picar cebola.
Somos um barco com milhares de capitães e nenhum marinheiro. Óbvio que essa nau, na melhor das hipóteses, está destinada a encalhar.