Folha de S.Paulo

Cena eletrônica alternativ­a de SP atrai festivais estrangeir­os

Evento holandês DGLT tem segunda edição na cidade em fábrica de livros desativada no Jaguaré neste sábado (5)

- -Amanda Lemos

são paulo Tocar seis horas seguidas não é problema para Suzana Haddad. “As pessoas berram, ficam loucas com o som que a gente faz”, conta a DJ e produtora da Vampire Haus, festa independen­te que leva 3.000 pessoas à praça Ramos de Azevedo, no centro de São Paulo há quatro anos.

A mais recente fase da cena eletrônica paulistana começou com a Voodohop, festa criada em 2009 pelo produtor alemão Thomas Haferlach, que há quatro anos trocou as ruas de São Paulo pela Europa e pelas cachoeiras do interior do país, onde a festa continua.

A Voodoohop foi, mas o público ficou. Em 2013, São Paulo registrou 64 festas de música eletrônica. Em 2017, foram 322 —um aumento de 503%. Estes eventos são promovidos por 48 coletivos espalhados pela cidade. Para fazer o levantamen­to, a Folha considerou os eventos publicados no Facebook, principal meio de divulgação dos produtores.

Em 2017, São Paulo passou a integrar a rota de festivais internacio­nais de música eletrônica undergroun­d. Dekmantel e DGTL, ambas da Holanda, investiram na capital paulista e em 2018 repetem os eventos com sucesso.

Suzana Haddad, da Vampire Haus, acredita que são as festas locais que criaram o público para os festivais internacio­nais. “Se hoje tem pessoas que vão ficar numa pista do Dekmantel e do DGTL é porque teve uma Vampire e outras que criaram gosto por esse techno alucinante”, diz.

Desde 2014, ela e o companheir­o, Anderson Loki, conhecidos como casal belalugosi, vão garimpar vinis em Berlim para produzir o Vampire Techno, como eles gostam de chamar o que fazem.

O visual da Vampire Haus é marcado pelo tom gótico, punk e futurista. Para Suzana, a festa é um palco para quem a frequenta, proporcion­ando momentos de libertação e inclusão. “Você pode ser mulher, pode ser trans, pode ser bicha louca, pode ser até um hétero, que você vai se sentir incrível e vai sentir que você faz parte da festa.”

Fundada em 2013 por Laura Diaz e pela DJ Cashu, a Mamba Negra foi eleita em 2017 festa do ano pelo Guia da Folha.

A festa é caracteriz­ada por ocorrer nas ruas e em fábricas abandonada­s. Além do ritmo, o evento é marcado pela projeção de vídeos instalaçõe­s e performanc­es artísticas, protagoniz­adas por Laura Diaz e outros artista. “Decidimos numa tarde fazer a festa. Uma festa bem venenosa. Somos do mesmo ano, 1989, serpente no horóscopo chinês”, diz.

Para Laura, as festas independen­tes de São Paulo funcionam por meio de uma economia criativa. Festivais externos apenas seguem as propostas estéticas e sonoras que a cena local tem produzido.

“Quando festivais como o Dekmantel e o DGTL percebem que o brasileiro também tem olhos para música eletrônica mais alternativ­a, isso mostra que São Paulo está preparada para isso”, afirma Claudia Assef, DJ, jornalista e autora do livro “Todo DJ Já Sambou”.

O Dekmantel, festival que surgiu na Holanda em 2013, foi realizado em São Paulo pela segunda vez em 2017. Foram dois dias com 52 artistas, sendo 40 atrações internacio­nais e 12 brasileira­s.

Fernanda Avelar, diretora de marketing do DGTL São Paulo, afirma que o interesse das marcas europeias em se estabelece­r em São Paulo ocorre por causa do grande público consumidor de música eletrônica.

Neste sábado (5), o DGTL desembarca em uma fábrica de livros desativada no Jaguaré para sua segunda edição no Brasil. Com 22 atrações, traz grandes nomes nacionais e internacio­nais, como Cashu, Vermelho, Dixon, Honey Dijon e Ben Klock.

DGTL Festival São Paulo 2018

Fábrica 619, r. Alexandre Mackenzie, 619, Jaguaré. Sáb.(5), a partir das 19h30. De R$ 170 a R$ 340 em https:// sao.dgtl.nl/pt/ingressos/ (meia entrada mediante a entrega de livro em bom estado na portaria). 18 anos

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Divulgação O DJ Tim Buiting em Tel Aviv durante o festival DGTL, que tem edição paulistana neste sábado (5)

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