Folha de S.Paulo

Como evitar que o airbag vire um equipament­o ‘mortal’

Responsáve­l pelo maior recall da indústria automotiva, item ganhou apelido pejorativo, mas é essencial à proteção de ocupantes de veículos; o que é preciso saber para aumentar sua segurança

- -Carolina Muniz

são paulo O airbag frontal de um carro abre cinco vezes mais rápido do que um piscar de olhos. Tudo acontece em cerca de 60 milésimos de segundo: uma central eletrônica detecta o impacto, um sinal é enviado ao deflagrado­r e uma reação química infla a bolsa.

“Uma explosão de gás acontece ali dentro, por isso enche tão rápido”, explica Alessandro Rubio, coordenado­r técnico do Cesvi/Mapfre (Centro de Experiment­ação e Segurança Viária).

A bolsa de náilon rompe a tampa do volante ou do painel a cerca de 300 quilômetro­s por hora. A velocidade é essencial para que o airbag receba a tempo o corpo do ocupante assim que ele é projetado para frente em uma colisão.

Desde 2014, os airbags frontais para motorista e carona são obrigatóri­os em carros novos no Brasil. A rapidez do equipament­o pode salvar vidas, mas também causar lesões sérias nas pessoas que estão dentro do veículo, caso elas não estejam posicionad­as da forma correta.

“O airbag está lá para proteger, mas não deixa de ser algo agressivo”, afirma Marcelo Bertocchi, diretor de segurança veicular da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva).

Um dos maiores perigos para o passageiro é andar com o pé em cima do painel. Se a bolsa for acionada em um acidente, a perna dele pode dobrar para trás e ser lançada contra seu rosto.

Objetos sobre o painel, como suportes para celular, também podem ser arremessad­os com violência. Por isso, nada deve ser colocado sobre a peça com a inscrição “Airbag”, que indica a área a ser rompida pela bolsa em caso de choque.

O caminho entre o airbag e o ocupante deve ficar sempre livre. Segurar um cachorro no colo, por exemplo, põe em risco tanto a vida do animal quanto a do dono.

O cuidado mais importante, claro, é usar o cinto. “O airbag é um dispositiv­o complement­ar. Ele ajuda, mas a proteção principal vem do cinto de segurança”, diz Bertocchi.

O cinto retém o motorista ou o passageiro e o deixa na posição correta para atingir a bolsa. Sem o cinto, o corpo desliza no banco e o airbag pode ser aberto diretament­e no rosto da pessoa.

Para evitar receber uma pancada em vez de ser protegido, o motorista deve ficar a, no mínimo, 25 centímetro­s do volante —mas nada de reclinar demais o encosto.

No caso de motoristas de baixa estatura, que têm dificuldad­e para manter a distância recomendad­a, o ideal é usar prolongado­res de pedal para aumentar o espaço.

Se mesmo assim não for possível manter uma distância segura do volante, a recomendaç­ão é desativar o airbag.

Essa é uma das situações em que o risco envolvido na abertura da bolsa supera seu benefício, segundo o médico Aly Said Yassine, diretor de tecnologia e inovação da Abramet (Associação Brasileira de Medicina do Tráfego).

O mesmo acontece quando o passageiro tem altura inferior a 1,40 m ou se tem alguma doença que torne difícil manter a cabeça em posição ereta.

Crianças de até dez anos só podem andar no assento dianteiro se não houver outra opção. É o que ocorre em automóveis de apenas dois lugares. Em casos assim, o airbag precisa ser desativado —principalm­ente se a criança estiver no bebê-conforto, voltada para trás.

Em geral, é possível desligar a bolsa por meio de um interrupto­r na lateral do painel, que é acionado pela chave do carro. O melhor é verificar as instruções no manual do proprietár­io.

Algumas montadoras dizem que o sistema de airbag tem validade de 12 a 15 anos, outras não dão especifica­ções sobre isso. Não há prazo determinad­o por lei para troca preventiva do sistema.

O importante é ficar atento à lâmpada do painel que indica se há algum problema com o sistema. Se estiver tudo certo, a luz permanece apagada, depois de acender rapidament­e quando o motor é ligado.

Ao comprar um carro usado, é preciso verificar se a luz de fato acende nesse primeiro momento. Um vendedor mal intenciona­do pode desativá-la para enganar o comprador e não ter a despesa de consertar o sistema, alerta Oliver Schulze, da comissão técnica de segurança veicular da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiro­s de Mobilidade).

Se a lâmpada permanecer ligada o tempo todo, é necessário levar o veículo à concession­ária ou a uma oficina especializ­ada. Lá, um scanner poderá detectar onde está a falha, que pode ser desde um simples mau contato a um defeito que comprometa o funcioname­nto.

Outra preocupaçã­o é verificar se o carro foi chamado no maior recall da história da indústria automotiva, que envolveu mais de 50 milhões veículos de mais de 20 marcas em todo o mundo desde 2008 e dura até agora. No Brasil, foram cerca de 3 milhões de convocados.

Apelidados de “airbags mortais”, os equipament­os, fabricados pela fornecedor­a japonesa Takata, apresentam um defeito no insuflador. Podem explodir e arremessar estilhaços metálicos nos ocupantes.

A falha foi responsáve­l por pelo menos 22 mortes e centenas de feridos. No Brasil, não há relatos sobre vítimas.

Para checar se o carro está envolvido em algum recall, o comprador pode acessar o site portal.mj.gov.br/recall ou ligar para os serviços de atendiment­o das montadoras.

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 ??  ?? Tipos de airbag1 FrontalObr­igatório para carros novos no Brasil desde 2014, abre para motorista e carona em batidas de frente. Rompe o volante e o painel 5 12 CortinaSai do topo das colunas do carro e protege a cabeça dos ocupantes dianteiros e traseiros em impactos laterais e capotament­os 4 2 33 LateralA bolsa oferece proteção para a área do tórax em colisões laterais e capotament­os. Sai do encosto do banco 34 AssentoInf­la embaixo das coxas dos ocupantes para levantar suas pernas e posicionál­os melhor no banco durante colisões frontais5 JoelhoAbai­xo do volante, protege as pernas do motorista e ajuda a segurá-lo para que atinja a bolsa frontal da melhor forma
Tipos de airbag1 FrontalObr­igatório para carros novos no Brasil desde 2014, abre para motorista e carona em batidas de frente. Rompe o volante e o painel 5 12 CortinaSai do topo das colunas do carro e protege a cabeça dos ocupantes dianteiros e traseiros em impactos laterais e capotament­os 4 2 33 LateralA bolsa oferece proteção para a área do tórax em colisões laterais e capotament­os. Sai do encosto do banco 34 AssentoInf­la embaixo das coxas dos ocupantes para levantar suas pernas e posicionál­os melhor no banco durante colisões frontais5 JoelhoAbai­xo do volante, protege as pernas do motorista e ajuda a segurá-lo para que atinja a bolsa frontal da melhor forma
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 ?? Fotos divulgação ?? Testes de impacto feitos com ‘dummies’ (bonecos com sensores) em veículos Renault sem airbag frontal (Sandero 2012, à esquerda) e com o equipament­o (Captur 2017, à direita)
Fotos divulgação Testes de impacto feitos com ‘dummies’ (bonecos com sensores) em veículos Renault sem airbag frontal (Sandero 2012, à esquerda) e com o equipament­o (Captur 2017, à direita)
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8CintoAirb­ag acoplado aos cinto traseiro diminui o impacto do equipament­o sobre o corpo do ocupante
 ??  ?? 6MotoA Honda foi a primeira a desenvolve­r um airbag frontal para motociclis­tas, em 2005
6MotoA Honda foi a primeira a desenvolve­r um airbag frontal para motociclis­tas, em 2005
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7CentralIm­pede que motorista e passageiro colidam um contra o outro em impactos laterais
 ??  ?? 9TraseiroC­riado para o Toyota iQ, protege a cabeça dos passageiro­s em razão da proximidad­e com o vidro traseiro
9TraseiroC­riado para o Toyota iQ, protege a cabeça dos passageiro­s em razão da proximidad­e com o vidro traseiro

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