Folha de S.Paulo

Nova geração de mulheres busca uma conquista de cada vez

Jovens adiam maternidad­e em função da carreira, mas não querem fazer sacrifício­s pessoais ou profission­ais

- -Júlia Zaremba

CECÍLIA RUSSO TROIANO

são paulo A nova geração de mulheres busca se organizar mais do que suas mães e avós: quer desenvolve­r o “eu” profission­al antes de casar e ter filhos, segundo a psicóloga Cecília Russo Troiano, diretora da empresa de gestão de marcas TroianoBra­nding e autora do livro “Garotas Equilibris­tas: o projeto de felicidade das mulheres que estão chegando ao mercado de trabalho”.

Mas sem gastar energia demais em uma ponta ou outra, buscando o equilíbrio entre vida pessoal e carreira. A geração anterior, diz a psicóloga, dedicou tempo demais ao trabalho —uma forma de lutar por espaço em ambientes dominados por homens.

Para as jovens, não adianta só pagar bem: o emprego deve estar alinhado com seus propósitos e valores. Também buscam uma rotina mais flexível, seja por meio do home office ou do empreended­orismo.

*

Você diz em seu livro que as jovens que entram no mercado de trabalho não querem abrir mão da vida pessoal por causa da profissão, nem o contrário. O que querem? Um ponto de equilíbrio entre os dois. É uma geração que quer respirar. Qualquer um desses extremos representa caminhos limitantes, pouco oxigenados. Querem liberdade, fazer escolhas em vez de ser conduzidas.

A nova geração tem mais facilidade para equilibrar as duas coisas? As jovens têm nisso uma motivação. Diferentem­ente da geração das suas mães, não querem exagerar no tempo dedicado ao trabalho. Não significa que queiram abrir mão das conquistas das últimas décadas ou da independên­cia financeira. Ou da maternidad­e, que pode acontecer mais tarde. É como se não quisessem viver o mesmo desgaste que as mães viveram ao tocar tudo ao mesmo tempo, vida pessoal, profission­al e maternidad­e. Não quer dizer que não queiram coisas parecidas, mas se organizam de um jeito próprio. Essa geração fortalece primeiro o “eu profission­al” para depois criar o “eu casal” e, se tudo correr bem, o “eu mãe”. Três momentos que antes se embolavam.

O que essa nova geração busca em um emprego? Procura um trabalho que tenha propósito e reflita seus valores. As mães dessas jovens tiveram que lutar para provar que eram tão capazes quanto os homens. A nova geração já entra no mercado com o “eu posso” resolvido e pode ir além, pensando mais sobre qual caminho quer seguir.

A valorizaçã­o do controle sobre suas vidas incentiva o empreended­orismo? O significad­o de carreira vem mudando. Não tem mais aquele sentido definitivo e estanque. O empreended­orismo surge como o ideal de construir o universo dos negócios ao meu modo, ao meu tempo e ao meu ritmo. É uma geração que quer construir coisas do seu jeito.

A maternidad­e também está em construção? Elas rejeitam o modelo de maternidad­e no qual criam os filhos sozinhas. Cobram um equilíbrio maior na distribuiç­ão de tarefas. Essas mudanças levam também as empresas a repensar os seus formatos.

De que forma? Horários mais flexíveis, home office, licençapat­ernidade. Mas não acredito em políticas de gestão de pessoas só para mulheres, exceto em caso de amamentaçã­o. Têm que valer para ambos os sexos.

Segundo a socióloga americana Pamela Stone, citada em seu livro, as mulheres estão sendo forçadas a “jogar a toalha” de suas ambições profission­ais e voltar para casa, como se houvesse um duto com vazamento que as empurrasse para fora do mercado. Concorda? Em parte, sim. Muitas mulheres sentem-se pressionad­as pelas cobranças, pelo horário, e acabam optando pela saída. Não é que tenham escolhido cuidar da família, apenas não tiveram outra opção.

A chefe de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, por sua vez, diz que as mulheres devem adotar uma postura “reta” e almejar nada menos que o topo para vencer numa esfera dominada por homens. Acredita ser o caminho? Discordo. Acho que cada mulher tem que fazer a sua escolha e definir qual é o seu topo. Dizer que só há um caminho é o avesso da liberdade de escolha.

Qual o segredo para equilibrar carreira e vida pessoal? Primeiro, refletir sobre qual é o caminho que se quer seguir para alcançar a felicidade. Em segundo lugar, se aproximar de pessoas que tenham o mesmo ideal, seja nos relacionam­entos profission­ais ou afetivos. E aceitar que perfeição não existe, o que ajuda a amenizar a pressão.

CECÍLIA RUSSO TROIANO

• 53 anos

• Diretora geral da consultori­a de gestão de marcas TroianoBra­nding

• Psicóloga pela PUCSP e mestre em estudos de gênero pela Georgia State University

Garotas Equilibris­tas: o projeto de felicidade das mulheres que estão chegando ao mercado de trabalho

Editora Pólen, 192 págs., R$ 38,71

 ?? Divulgação ??
Divulgação

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil