Folha de S.Paulo

Antes de morrer, ex-presidente do Santos registrou carta contra pai de Neymar

Durante tratamento de câncer, Luis Alvaro protocolou documento contestand­o ida do jogador ao Barça

- -Alex Sabino e Diego Garcia

são paulo Presidente do Santos entre dezembro de 2009 e maio de 2014, Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, morreu em 16 de agosto de 2016 com uma mágoa: a polêmica transferên­cia de Neymar para o Barcelona durante sua gestão.

Antes de morrer, o ex-dirigente deixou uma carta registrada em cartório alegando que jamais autorizou a negociação do atleta com o time catalão. O documento foi registrado em dois idiomas: português e espanhol.

A carta foi escrita em 15 de março de 2016 e protocolad­o no cartório em 19 de junho — menos de dois meses antes da morte de Luis Alvaro, aos 73 anos, por um tumor no reto.

Em duas páginas, ele dá sua versão sobre a saída do atacante e critica o fato de Neymar ter jogado a final do Mundial de Clubes de 2011, no Japão, já com a transferên­cia para o clube espanhol acertada. A negociação foi concretiza­da quase um ano e meio depois.

“O Santos e eu pessoalmen­te jamais recebemos qualquer informação ou qualquer documento sobre o fato de que antes da final no Japão o senhor Neymar, pai do atleta, já havia se comprometi­do com o Barcelona e recebido pagamentos”, relatou no documento, ao qual a Folha teve acesso.

Em 2014, o Blog do Rodrigo Mattos, no UOL, revelou que Neymar recebeu 10 milhões de euros (cerca de R$ 45 milhões) do Barcelona seis dias antes de entrar em campo para enfrentar o time catalão na final do Mundial de Clubes por um acordo em que o jogador se comprometi­a a se transferir para a equipe no futuro.

“O Santos disputou aquela final com um jogador que havia recebido dinheiro do adversário. Isso influencio­u o desempenho de Neymar Júnior daí para frente no Santos”, disse o ex-presidente na carta.

“Não era o mesmo jogador brincalhão, que ia para cima dos adversário­s. Ele parecia estar contando os minutos para sair. Isso já foi dito por mim à imprensa e, infelizmen­te, é um fato”, completou.

Procurada pela Folha, Ana Luísa de Oliveira Ribeiro Marques, uma das seis filhas do expresiden­te santista, se mostrou surpresa ao saber da existência documento.

“Falei com as minhas irmãs e algumas sabiam da carta, outras não. De qualquer maneira, a carta registra o que ele sempre afirmou sobre esse episódio”, disse.

Luis Alvaro sempre disse que não autorizou a negociação de Neymar com o Barcelona antes do Mundial.

No entanto, o pai do jogador, quando questionad­o sobre isso, mostrou outra carta assinada por Luis Álvaro, datada de 8 de novembro de 2011, que “autoriza o atleta Neymar a iniciar tratativas com quaisquer entidades (…), podendo concretiza­r eventual transferên­cia, desde que isso somente ocorra a partir de 2014 e respeite os termos do contrato mantido com o Santos”.

Na carta registrada em cartório, o ex-presidente relembra os termos do acordo, enfatizand­o a necessidad­e estabeleci­da naquele documento de que o jogador só deixasse o clube após 2014.

“O contrato com o Santos estava em vigor e deveria ser obrigatori­amente cumprido. O texto daquela carta de novembro de 2011 diz isso claramente”, escreveu.

A assessoria de imprensa do pai de Neymar foi procurada e informou que não iria comentar a carta deixada por Luis Alvaro antes de morrer.

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O atacante do PSG (de boné) desembarca, sem muletas, nesta sexta-feira (5) em Paris para continuar o tratamento de sua lesão no quinto metatarso do pé direito
Christophe Simon/Reuters NEYMAR CHEGA À FRANÇA SEM MULETAS O atacante do PSG (de boné) desembarca, sem muletas, nesta sexta-feira (5) em Paris para continuar o tratamento de sua lesão no quinto metatarso do pé direito

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