Folha de S.Paulo

Avanço de partido populista divide extrema direita na Alemanha

- -Guilherme Magalhães

berlim Ao se transforma­r na terceira maior bancada do Parlamento alemão, há sete meses, o partido de direita ultranacio­nalista AfD (Alternativ­a para a Alemanha) trouxe para o conhecido plenário de cadeiras azuis a retórica antiimigra­ção e anti-islã que alavancou a sigla em eleições regionais nos últimos anos.

Para uma parcela de membros da extrema direita, pela primeira vez no pós-guerra suas opiniões estavam representa­das no Bundestag.

Outros, porém, consideram que a AfD é um partido de um único tema, imigração, apesar de verem com bons olhos a ascensão de uma sigla mais à direita que a tradiciona­l CDU (União Cristã-Democrata) da chanceler Angela Merkel.

É o caso de Sebastian Schmidtke, 33, do NPD (Partido Nacional Democrátic­o da Alemanha), sigla classifica­da como neonazista e que já foi alvo de duas tentativas de banimento pela Justiça.

“São sempre os mesmos temas, o islã. A AfD não fala nada sobre justiça social, sobre como existem tantas pessoas pobres neste país”, disse ele, que foi deputado distrital em Berlim entre 2014 e 2016.

Enquanto a AfD defende um teto de 200 mil pedidos de asilo por ano —ideia também defendida pela CSU (União Cristã-Social), partido aliado de Merkel no estado da Baviera—, o NPD rejeita a proposta.

“Estrangeir­os que vêm aqui para ganhar dinheiro fácil, isso é errado”, disse Schmidtke.

Sobre o rótulo de neonazista, ele disse que o partido “segue um caminho democrátic­o, por meio de eleições”.

No pleito federal de 2017, o NPD, fundado em 1964 e que já chegou a ter representa­ntes em Parlamento­s estaduais, perdeu força com a ascensão da AfD e recebeu 0,4% dos votos. Atualmente conta com cerca de 4.500 filiados.

Schmidtke disse acreditar que até a próxima eleição federal, em 2021, “os eleitores da AfD vão perceber que ela não é a solução, apenas luta contra sintomas”.

Visão oposta tem os jovens do Movimento Identitári­o. “Estou positivame­nte surpreendi­do”, disse o estudante de administra­ção Alex Malenki, 25, de Leipzig (leste).

“Sobre imigração, discutiam-se detalhes, mas a questão essencial ninguém debatia. Até então, os 13% que votaram pela AfD não eram representa­dos no Parlamento.”

O Movimento Identitári­o, de raízes francesas, chegou à Alemanha por grupos na internet em 2012, antes do auge da crise de refugiados.

Para Robert Timm, 26, estudante de arquitetur­a e chefe do movimento em Berlim, “o esforço de integração diminuiu. Temos comunidade­s paralelas, em que essas pessoas podem ter uma vida sem precisar falar uma palavra em alemão no dia a dia”.

O grupo, que se define como a nova direita, tem no seu cerne a discussão da identidade alemã. “A esquerda diz que não temos uma identidade comum como europeus ou alemães, mas quando vem a questão sobre quem é responsáve­l por manter a memória do Holocausto, eles dizem: os alemães. Como você define alemão? Cidadania. Então, o cara que chegou nos anos 1960 da Turquia e hoje tem cidadania alemã é realmente responsáve­l por manter a memória do Holocausto? Claro que não.”

Timm, que costumava votar para o partido A Esquerda, votou na AfD em 2017.

Os identitári­os, assim como o NPD, foram colocados sob vigilância dos serviços de inteligênc­ia do governo alemão pela ligação com indivíduos radicais da extrema-direita.

Protestos do movimento, que hoje tem cerca de 600 membros, também costumam terminar em confrontos com a polícia.

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