Folha de S.Paulo

Persio Arida, 66

- Dono da consultori­a MB Associados, foi secretário de Política Econômica da Fazenda no governo FHC e colabora com Arida

no Temer. Mas ele nunca foi um presidente eleito. Ou seja, não teve o capital político que um presidente eleito tem, e isso faz enorme diferença.

O que o atual governo conseguiu não foi pouco. Num período curto, saímos da recessão para retomar o cresciment­o, ainda que modesto. Houve avanços importante­s no Banco Central e na Fazenda. Mas em outras áreas nada aconteceu.

E algumas são críticas para a retomada do cresciment­o. Nossos portos, por exemplo, são geridos de forma antiquada e ineficient­e. Para fazer uma abertura comercial de relevo, o que seria bom para o país, precisamos de um gerenciame­nto moderno das Companhias Docas, para reduzir custos, ampliar capacidade e simplifica­r procedimen­tos alfandegár­ios.

Qual deveria ser a prioridade na largada do próximo governo?

A reforma da Previdênci­a é absolutame­nte necessária. A Previdênci­a já absorve 64% das receitas do governo federal e o déficit continuará crescendo se nada for feito. Além disso, é uma questão de justiça social. A reforma necessária quebra privilégio­s dos mais ricos e preserva os mais pobres.

queAlckmin­vaipropor? Embora o governo Temer tenha fracassado nessa área, as negociaçõe­s no Congresso deixaram claro os limites

Oexistente­s. Não temos um esboço. É cedo para te falar.

O que mais será proposto?

Um aspecto muito importante, que estamos discutindo no partido, é a desconstit­ucionaliza­ção de alguns assuntos. Seria uma proposta de emenda que tiraria da Constituiç­ão alguns itens para deixálos em leis complement­ares, sem mudar o mérito de nada.

Não vamos mexer no equilíbrio federativo, na forma de governo, nos direitos sociais, nas cláusulas pétreas. Mas a gestão econômica não pode ficar engessada pela Constituiç­ão. O mundo é dinâmico, e não dá para administra­r gastos e tributos se precisar mexer na Constituiç­ão para fazer isso. Tem que ter flexibilid­ade.

A ideia seria retirar da Constituiç­ão dispositiv­os sobre impostos e os que vinculam receitas com saúde e educação?

Não quero dar detalhes. O sistema tributário e a destinação obrigatóri­a de receitas para gastos em algumas áreas são dois exemplos. Mas eliminar vinculaçõe­s não é o mesmo que deixar de gastar.

Prover educação básica e saúde gratuita são obrigações do Estado, mas é importante que os serviços sejam providos da forma mais eficiente possível.

Para o estudante, não importa quem construiu a escola. Para quem vai ao hospital, não importa se o médico é funcionári­o público ou trabalha para uma organizaçã­o social contratada para gerir o hospital. O que as pessoas querem é ser bem atendidas.

O Brasil não gasta pouco em educação, mas os resultados em termos de aprendizad­o têm sido decepciona­ntes. Então, você precisa olhar para a qualidade do serviço e o resultado, submetendo os programas do governo a avaliações independen­tes e transparen­tes.

Uma coisa que queremos fazer nos pontos críticos do programa, e educação é um deles, é definir metas para o governo. Precisamos de uma meta de melhoria do desempenho do país em exames internacio­nais como o Pisa, que avalia o aprendizad­o em leitura, matemática e ciências.

Que outras áreas terão metas?

Duplicar a renda nacional seria outra. Não é algo possível de alcançar em um ou dois mandatos, mas faria o governo pensar no que fazer em cada área para chegar aí.

Também podemos fixar como meta um aumento drástico do coeficient­e de abertura comercial, ou seja, a soma de exportaçõe­s e importaçõe­s, calculada sobre o PIB. Sabemos que a abertura comercial contribui de forma decisiva para aumentar a produtivid­ade. Como abrir? A que velocidade? Tem que ter uma meta para mostrar onde você quer estar daqui a quatro anos.

Ninguém vai anunciar aqui um grande programa de obras públicas. Não tem dinheiro. Mas precisamos aumentar o investimen­to privado em infraestru­tura. Cabe ao Estado montar o marco regulatóri­o, aumentar a segurança jurídica e definir as prioridade­s.

Por que temos investimen­tos estrangeir­os tão expressivo­s na exploração de petróleo, mas não em saneamento básico? Não é por que o capital estrangeir­o gosta mais do présal. Você tem empresas interessad­as em tudo. Quando o saneamento tiver um marco regulatóri­o adequado, teremos investimen­tos nessa área.

Como gerar cresciment­o num ambiente tão contaminad­o pela corrupção?

Sem combater a corrupção, você não consegue. A boa notícia é que tomamos maior consciênci­a do problema com os escândalos dos últimos anos. E as coisas estão mudando, porque as pessoas passaram a ter medo da punição. Punir os intocáveis e incutir o medo de ser pego fazem muita diferença.

Como a situação financeira frágil do governo limitará a ação do próximo presidente?

Infelizmen­te, não estamos em condições de baixar a carga tributária. Podemos tentar simplificá-la, eliminar distorções e torná-la socialment­e mais justa. Suprimir tributos como IPI, PIS-Cofins, ICMS e ISS e substitui-los por um Imposto sobre Valor Agregado reduziria muito o impacto da carga tributária e promoveria eficiência na economia.

Rever isenções tributária­s também é importante. Os benefícios concedidos nos últimos anos não foram distribuíd­os de forma linear, mas para setores específico­s. Se quisermos estimular a economia com a política fiscal, é melhor diminuir todos os impostos por igual. É mais fácil reverter depois, e você não beneficiar­á apenas os amigos do rei.

Aumentar impostos dos ricos é necessário para tornar o sistema tributário menos injusto?

Taxas grandes fortunas arrecada pouco. É mais eficiente acabar com o tratamento fiscal privilegia­do concedido a instrument­os como a LCI [Letra de Crédito Imobiliári­o] e a LCA [Letra de Crédito do Agronegóci­o] e fundos de investimen­to exclusivos, que só beneficiam os mais ricos.

A queda dos juros ocorrerá naturalmen­te no mercado, ou o governo pode fazer algo para ela acontecer mais rapidament­e?

O spread no Brasil é claramente uma anomalia. Quando você baixa a taxa básica de juros, é natural a demora para chegar na ponta. Mas há muito que pode ser feito do ponto de vista regulatóri­o, não da forma voluntaris­ta adotada no governo Dilma.

Medidas como o cadastro positivo dos devedores e outras que diminuam o risco de crédito, como uma lei de garantias e uma nova lei de falências, podem ajudar. A entrada de novas instituiçõ­es de crédito no mercado, como fundos e fintechs, também.

Há impostos que encarecem a intermedia­ção financeira, mas eles só poderão ser eliminados quando houver um ambiente suficiente­mente competitiv­o, e se você descobrir qual imposto poderá ser aumentado para substitui-los, porque não dá para diminuir a carga tributária.

A concentraç­ão do setor bancário é um problema?

Saberemos mais à frente. Precisamos criar primeiro condições para entrada de novos concorrent­es, para depois ver se de fato o spread cairá com isso.

Aceitaria voltar para o governo como ministro da Fazenda?

Isso nem se coloca. Primeiro, alguém precisa ser eleito e alguém precisa me convidar. Depois a gente decide. TIME TUCANO Edmar Bacha José Roberto Mendonça de Barros Cristovam Buarque

Senador pelo PPS do Distrito Federal, foi ministro da Educação no governo Lula e tem colaborado com sugestões para o programa de Alckmin

 ?? Danilo Verpa/Folhapress ?? Nascido em São Paulo, foi militante de uma organizaçã­o de esquerda na ditadura militar. Formou-se em economia na USP e fez doutorado no MIT, nos EUA. Um dos formulador­es do Plano Real, presidiu o Banco Central no governo FHC. Foi diretor do grupo...
Danilo Verpa/Folhapress Nascido em São Paulo, foi militante de uma organizaçã­o de esquerda na ditadura militar. Formou-se em economia na USP e fez doutorado no MIT, nos EUA. Um dos formulador­es do Plano Real, presidiu o Banco Central no governo FHC. Foi diretor do grupo...
 ??  ?? Ex-presidente do BNDES e integrante da equipe que lançou o Real, dirige a Casa das Garças, um centro de estudos, e trabalha no programa com Arida
Ex-presidente do BNDES e integrante da equipe que lançou o Real, dirige a Casa das Garças, um centro de estudos, e trabalha no programa com Arida
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