Folha de S.Paulo

Startups oferecem cursos de liderança e inteligênc­ia emocional para mulheres

Consultori­as preparam público-alvo para combater disparidad­e e ocupar altos cargos em empresas

- -Martina Medina

são paulo Mais da metade, ou 52%, dos novos negócios criados no país é administra­da por mulheres, segundo o Sebrae. Para atender esse público, startups desenvolve­m cursos e consultori­as de liderança voltados ao público feminino.

A startup paulistana Feminaria, criada há seis meses, auxilia microempre­endedoras na gestão de suas empresas.

O programa começa com um checklist gratuito, com perguntas sobre modelo de negócio, orçamento e capital de giro, no qual a empresária pode descobrir o que falta para sua operação decolar.

Com um investimen­to em marketing que soma R$ 13 mil desde a abertura, a startup teve alta de 150% no contato com potenciais compradore­s.

Após o questionár­io, se quiser a consultori­a, a cliente pagará mensalidad­es que vão de R$ 237 a R$ 427, dependendo do estágio do negócio.

Em apenas três meses, a Feminaria já rendia o suficiente para cobrir todos os custos de operação. A receita aumentou 63% e o número de clientes cresce 50% por mês.

“O lucro é usado para aperfeiçoa­r a plataforma e capacitar consultora­s. A ideia é manter o preço acessível, mas melhorar o resultado financeiro”, diz a sócia Ana Bavon, 39.

São seis consultora­s no total. Há módulos que vão de tópicos de administra­ção, gestão e vendas a testes de inteligênc­ia emocional.

O termo, cunhado pelo americano Daniel Goleman no best-seller homônimo lançado em 1995, popularizo­u a noção de que bons líderes conhecem e gerenciam as próprias emoções para manter bons relacionam­entos.

O curso inclui reuniões via Skype com uma consultora dedicada à cliente e um encontro longo no final de cada etapa. “As mulheres são as que mais abrem negócios, mas suas empresas são as que mais morrem. Queremos mudar isso”, diz Bavon.

Segundo a pesquisa Global Entreprene­urship Monitor de 2016, a taxa de mortalidad­e de empresas abertas por mulheres foi de 15,4% nos primeiros três anos de vida, ante 12,6% das criadas por homens.

Para educar sobre questões de gênero já na infância, a empresária Déborah De Mari, 36, criou o Força Meninas em 2016, inspirado em iniciativa­s estrangeir­as. “Na Inglaterra, 80% das líderes foram escoteiras, e há escolas que desenvolve­m a liderança das meninas nos EUA”, afirma.

A Força Meninas não revela faturament­o, apenas que é uma microempre­sa (com faturament­o de até R$ 360 mil por ano), mas já paga suas contas e viu a receita crescer após uma parceria com a Uber.

No projeto, os motoristas do aplicativo participam de palestras de conscienti­zação de gênero enquanto suas filhas assistem workshops sobre tecnologia.

Os ganhos com as oficinas dobraram desde janeiro. O custo de cada workshop é de R$ 120. O público-alvo é de garotas de 6 a 14 anos.

Os eventos presenciai­s em São Paulo e Goiânia (GO) já receberam 350 meninas e 250 pais. A meta é atingir 2.000 garotas em parcerias com escolas, iniciativa pública e privada, e chegar a outros estados.

Nas aulas, as crianças identifica­m suas habilidade­s e conhecem o trabalho de mulheres com traços semelhante­s. Também aprendem a questionar padrões de beleza e a se expressar de forma assertiva.

Ana Fontes, consultora e presidente da Rede Mulher Empreended­ora (RME), que conecta e auxilia mulheres em seus negócios, diz que há desafios para negócios desse tipo crescerem.

“Essas iniciativa­s começam de forma muito amadora e não consideram direito o que é importante para o público”, aponta Fontes. “Também não podem depender de uma única atividade nem de muita mão de obra para crescer, o que é um custo alto.”

Suas recomendaç­ões são mesclar consultori­a prestadas a empresas e a pessoas físicas, além de investir em marketing e tecnologia, que automatiza parte do trabalho.

Há oito anos no mercado, a Plano de Menina tem como carro-chefe a consultori­a para grandes companhias.

Criação de campanhas publicitár­ias e adequação da marca a valores de igualdade respondem por 70% da receita. A empresa hoje atende Fiat, Unilever, Marisa e Heineken.

“As empresas dizem ter paridade de gestores e gestoras, mas a última reunião é sempre com um homem”, diz a fundadora Viviane Duarte, 39.

A Plano de Menina oferece workshops mensais para treinar empreended­oras e executivas a evitarem interrupçõ­es durante reuniões, trabalhand­o oratória e autoestima.

A empresária conta que já houve resistênci­a das corporaçõe­s, mas a procura tem crescido. “As marcas veem que, se não se transforma­rem, vão se desvaloriz­ar”, diz.

Duarte prevê, contudo, um cresciment­o mais lento. “Para quem investe em educação, o retorno vem mais devagar do que na área de pesquisa de mercado e publicidad­e”, diz.

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Karime Xavier/Folhapress Roda de conversa de alunas de ensino médio da Etec Pirituba, na zona norte de São Paulo, em aula da Plano de Menina de mulheres são donas de empresas no Brasil dos empreended­ores brasileiro­s são do sexo feminino dessas empresas faturam mais de R$ 30...
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