Folha de S.Paulo

Democracia corintiana sem hegemonia em 2018

- Paulo Vinícius Coelho pranchetad­opvc@gmail.com

O Corinthian­s já tinha passado quatro jogos sem vencer, sob o comando de Fábio Carille. Aconteceu em março e em outubro de 2017. Da primeira vez, o olhar era de desconfian­ça. Igualar-se à Luverdense, perder da Ferroviári­a, reforçava a tese da quarta força.

Em outubro, a derrota para a Ponte Preta manteve a distância de cinco pontos para o vice-líder, Palmeiras, mas criou a perspectiv­a de o rival assumir a liderança se vencesse o Cruzeiro e o dérbi. O Corinthian­s venceu o clássico por 3 a 2 e seguiu para o título.

A lembrança de que já houve situações semelhante­s serve para manter os pés no chão. Há duas semanas, havia quem perguntass­e se a goleada por 4 a 0 sobre o Paraná indicava que o Corinthian­s poderia disparar como em 2017. Duas derrotas e dois empates depois, a situação mudou.

O Ceará viajou a São Paulo relembrand­o que não passava as três primeiras rodadas de um Brasileiro sem fazer gols desde 1971. Daquela vez, quebrou a sequência vencendo o Fluminense, último campeão nacional, no Robertão de 1970.

Estão claras as razões da queda corintiana. O acúmulo de jogos aumenta o risco de lesões e diminui a chance de escalar o time base. Ano passado, a formação clássica tornou-se a mais escalada da história corintiana: Cássio, Fágner, Balbuena, Pablo e Arana; Gabriel e Maycon; Jádson, Rodriguinh­o e Romero; Jô. Os onze jogaram juntos treze vezes. Recorde.

Corinthian­s com

Desta vez, o time muda a cada partida. Agora é diferente. O Corinthian­s não repete uma mesma formação por duas partidas consecutiv­as desde o dia 4 de março.

Quando repetiu, não venceu. Empatou com o Millonario­s, em Bogotá, e o Santos, no Pacaembu. Há contradiçõ­es mesmo. Apesar de se perceber o acúmulo de competiçõe­s como agente inibidor da repetição do sucesso do ano passado, o Corinthian­s jogou só duas partidas a menos do que no mesmo período de 2017.

Não é só o acúmulo de partidas. Não é apenas a falta do centroavan­te.

No Brasileiro 2017, o Corinthian­s tinha Jô no segundo turno e venceu sete, de dezenove jogos. A observação se repete aqui, porque se repete a pergunta sobre a ausência de homem de área e, com ele, começou a irregulari­dade corintiana ainda em 2017.

O problema atual tem muito a ver com lesões. Carille não pode escalar Fagner, Ralf, Renê Júnior e Clayson, machucados. São quatro opções a menos, o que não é pouco. Outra questão é que nenhum time brasileiro tem a regularida­de dos europeus, porque não tem a mesma estabilida­de de trabalho e nem sombra da qualidade de elencos.

Discutimos se o melhor jogador do Brasil hoje é Luan ou Rodriguinh­o. Nenhum deles tem proposta da Europa. Luan teve há um ano, mas abaixo do que o Grêmio desejava.

O Corinthian­s sem vencer por quatro jogos indica que o Brasileiro tem o que os outros torneios da Europa não têm: equilíbrio. O Corinthian­s é democrátic­o. Não anuncia hegemonia como a do Bayern e da Juventus. Não há nenhum time brasileiro nesse patamar.

centroavan­te

 ?? Rodrigo Coca/Ag Corinthian­s ?? Roger (à esq.) disputa bola de cabeça durante partida contra o Ceará
Rodrigo Coca/Ag Corinthian­s Roger (à esq.) disputa bola de cabeça durante partida contra o Ceará

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