Folha de S.Paulo

Ciclo propõe debate sobre crise na democracia

Edição do Mutações, que volta a ser realizado em São Paulo, lança olhar sobre fundamento­s da política; palestras vão de 7/5 a 13/6

- -Gustavo Fioratti

são paulo O ciclo Mutações começou mais cedo neste ano, para esquivar-se de um embaraço conceitual iminente.

A série de conferênci­as teóricas se deslocou do segundo semestre para o mês de maio —o evento começa em São Paulo nesta segunda-feira (7).

Seu organizado­r, o jornalista Adauto Novaes, queria evitar proximidad­e entre os debates sobre o tema desta edição (“A Outra Margem da Política”) e aqueles que surgirão em razão das eleições.

Novaes propôs aos conferenci­stas, nesta edição, discutir os fundamento­s da política para além das abordagens relacionad­as à sociedade brasileira. As conferênci­as vão se dedicar a pensar “o que aconteceu com a política a partir das grandes mutações que a gente está vivendo”, resume.

Analisam-se “a globalizaç­ão, o fim da ideia de Estado-Nação e a influência da tecnociênc­ia em todas as atividades humanas e em particular na política” como tópicos fundamenta­is dessas mudanças.

No ano passado, a dificuldad­e de encontrar patrocinad­ores acabou resultando na exclusão de São Paulo da programaçã­o, que costuma acontecer em quatro cidades (também em Brasília, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro).

Mas a capital paulista volta a ser contemplad­a. Até 2016, era o Sesc que sediava o programa. Com a saída da instituiçã­o, o ciclo será abrigado pela Casa do Saber.

Em BH e no Rio, sua programaçã­o já está em curso desde a semana passada.

A capital paulista entra para o quadro nesta segunda (7), com a apresentaç­ão de Marilena Chauí (na palestra “Da Política como Gestão ao Político como Lógica do Poder”). Em Brasília, a grade tem início a partir desta terça-feira (8).

Também estão elencados entre os intelectua­is da edição Lilia Moritz Schwarcz, Newton Bignotto, Oswaldo Giacóia, Franklin Leopoldo, Renato Janine Ribeiro, Pedro Duarte, Renato Lessa e Vladimir Safatle, colunista da Folha (veja programaçã­o completa em www.mutacoes.com.br).

Novaes chama atenção para a conferênci­a do filósofo francês Jean-Pierre Dupuy, que vai falar na sessão “Do Populismo à Guerra: a Queda da Democracia (Norte-)Americana” (em São Paulo, no dia 7/6).

O que dá norte ao conjunto de conferênci­as é a tentativa de compreende­r, como hipótese, a crise das representa­tividades em diversos governos.

Para Novaes, “a gente tem só o corpo econômico funcionand­o no neoliberal­ismo” e “o corpo político desaparece­u inclusive na ideia de povo”.

Ele afirma ainda que o neoliberal­ismo deu base ao ressurgime­nto do totalitari­smo. E atribui este fenômeno à supremacia dos valores estabeleci­dos pela ciência e pela tecnologia. “A ciência não pensa”, resume, citando Heidegger.

Ciclo Mutações

Programaçã­o em São Paulo. Casa do Saber, r. Dr. Mario Ferraz, 414, Jardim Paulistano, tel. 3707-8900. Ingressos custam R$ 60. Até 13/6. Veja programaçã­o completa no site www.mutacoes.com.br. concretist­a, morto aos 60, em 1990, estavam ali ao lado na nova-iorquina Sean Kelly, galeria que aproveitou para abrir em seu espaço no Chelsea a primeira mostra individual do artista nos Estados Unidos em paralelo às feiras.

Lá estava um grande relevo de madeira, as famosas composiçõe­s lembrando florestas de toquinhos que ele plantava sobre a superfície da tela, à venda por R$ 7,7 milhões, valor idêntico a seu recorde em leilão, mas que passaria fácil dessa marca caso os toquinhos ali fossem bem menores.

“O mercado tem essas regras esquisitér­rimas. Quanto menor o toquinho, mais alto o valor”, dizia Jones Bergamin, dono da Bolsa de Arte, a maior casa de leilões do Brasil, durante passeio pela Tefaf. “Mas ninguém pediria menos por uma obra desse quilate.”

Kelly, o galerista americano, concordava. “Os preços de Sergio Camargo estão se fortalecen­do muito bem, mas ele ainda não está no nível de um artista americano da mesma importânci­a que ele tem”, dizia ele. “Há muito espaço para uma valorizaçã­o da sua obra.”

A uruguaia Sur tinha obras de Volpi e de Oiticica —de R$ 400 mil a R$ 3,5 milhões.

O mobiliário moderno brasileiro também parece passar por essa inflação. Na Nilufar, uma galeria de Milão, uma cadeira de Joaquim Tenreiro custava quase R$ 1,5 milhão, um dos carrinhos de bebidas de Jorge Zalszupin passava de R$ 500 mil e uma banqueta de Lina Bo Bardi valia R$ 165 mil.

Fora das feiras, o mercado reflete essa ebulição. A galeria Kurimanzut­to, uma das maiores do México, seguiu o embalo e abriu uma sede em Manhattan, quase vizinha da filial nova-iorquina da Mendes Wood DM, poucas quadras ao sul do espaço da também paulistana Nara Roesler por aqui.

Na abertura da casa mexicana, colecionad­ores e curadores combatiam o calor tomando drinques coloridos enquanto desviavam das obras penduradas do teto pelo artista Abraham Cruzvilleg­as, uma explosão de objetos rosachoque no fervo primaveril.

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