O relevante no debate
Doutor em economia, é professor da Fundação Getulio Vargas e coordenador do programa de governo do pré-candidato Ciro Gomes (PDT)
Nas últimas semanas começamos a divulgar alguns princípios e ideias do programa de governo do précandidato Ciro Gomes (PDT). Ainda há muito a discutir e detalhar, como é natural nessa etapa do jogo, mas pode-se dizer que o eixo central da proposta é o fortalecimento da atividade produtiva, com geração de empregos e inclusão de pessoas no mercado de trabalho, juntamente com políticas tributárias, sociais e educacionais que acelerem o processo de distribuição de renda.
Para isso, entendemos que é fundamental interromper o processo que está levando o Brasil a retornar à condição de exportador de commodities básicas e ao mesmo tempo se tornar um centro financeiro cujo volume de empréstimos à atividade produtiva deixa a desejar.
Não temos nada contra esses setores, pelo contrário; mas a sua capacidade de gerar empregos é reduzida frente à magnitude da população em idade de trabalhar do país, que atingiu 169 milhões de pessoas em janeiro.
Os países que mais se desenvolveram ao longo da história do capitalismo, e assim continuam, são aqueles que investiram fortemente na indústria e, mais recentemente, também nos chamados serviços modernos associados.
São setores que geram empregos de qualidade, em quantidade razoável e com bons salários. Porém, analisando os dados das pesquisas do IBGE, é possível observar que as margens de lucro da indústria brasileira, principalmente daquelas classificadas como de média e alta tecnologia, têm sido inferiores, há muitos anos, às observadas na ampla maioria das demais áreas, fato que vem inibindo o investimento no setor manufatureiro.
Esse desequilíbrio nas margens de lucro não se deve à ineficiência dos empresários, certamente; não é lógico pensar que um empresário industrial seja menos competente que investidores em outras áreas. A explicação reside na abundância de recursos naturais, que favorece tanto os setores primários como os demais que os utilizam como insumos, ou na natural ausência de concorrência externa, como em boa parte dos serviços e da construção civil.
Isso significa que queremos mudar à força a margem de lucro dos setores que julgamos importantes para o desenvolvimento? Absolutamente não! Mas eles são muito mais sensíveis aos efeitos adversos que uma política macroeconômica errada possa provocar.
Mais especificamente, valorizações da moeda e altas taxas de juros, aliadas ao desequilíbrio das contas do governo, afetam mais intensamente esses setores, enquanto outros, que possuem margens de lucro maiores, queimam “gordura” mesmo quando esses indicadores macroeconômicos não estão azeitados.
Uma valorização da moeda pode rapidamente neutralizar ganhos de produtividade derivados da capacitação de pessoas, melhoria na infraestrutura ou desburocratização, por exemplo. Por isso atribuímos um peso relevante ao câmbio competitivo e a juros baixos em nossa estratégia.
Ambos só serão possíveis se alcançarmos o equilíbrio fiscal, também fundamental para fortalecer o Estado e possibilitar que sejam implementadas as políticas públicas necessárias. E nosso compromisso com a responsabilidade fiscal pode ser observado na prática. Fui diretor da área de recursos humanos do Poder Executivo federal entre o início de 1996 e de 1999, quando a respectiva despesa com pessoal variou -0,3%, descontada a inflação, a despeito de todas as conhecidas pressões nessa área.
Por sua vez, nosso pré-candidato, Ciro Gomes, e Mauro Benevides, coordenador de seu programa econômico e ex-secretário da Fazenda do Ceará, sempre mantiveram as contas públicas do estado em equilíbrio.
O debate em torno das ideias e programas será fundamental para o país neste ano. Estamos lutando para melhorar a sua qualidade. Joaquim Barbosa seria uma ótima opção, se os brasileiros escolhessem bem os deputados e senadores. Aí temos um problema: quem escolher? Há poucas alternativas. Já sem o “traquejo” necessário para tratar com os congressistas, duvido de que o ministro aposentado do Supremo, sendo presidente, conseguisse aprovar qualquer coisa. Ainda estou em dúvida, mas Jair Bolsonaro é a minha primeira ideia de voto.
Jane de Vidal
Alvaro Dias
Todos os políticos direta ou indiretamente se beneficiaram do sistema. Portanto, é melhor parar com a cantilena moralista e se concentrar em propostas para melhorar o país.
Heloisa Gomes (Rio de Janeiro, RJ)
Persio Arida
Então a economia e a gestão da economia devem se sobrepor à Constituição? A Constituição pode e deve sim engessar tudo de ruim. A Lei Maior deve sempre ser seguida (“Gestão da economia não pode ser engessada pela Constituição”, Entrevista da 2ª, 7/5).
Marcia Cristina Polon (São Paulo, SP)
O Persio Arida é um excelente economista. Seus projetos podem não agradar, mas são os corretos. O modelo atual, que muita gente não quer mudar, não funcionou. Tudo o que fez foi nos meter no buraco em que estamos. O que o Brasil tem feito é um exemplo do que não dá certo. Que tal tentar fórmulas que foram bem-sucedidas em tantas outras partes do mundo? Oswaldo Schmitt (Curitiba, PR)
Temos a pior burocracia do mundo para tudo. E é tão cara. Tombamento quase sempre significa abandono e decadência. Cidades europeias cuidam de seu centro e seu patrimônio enquanto nós o abandonamos.
Maria Alvarez (São Paulo, SP)
Moradia
Quando mudei para a cidade onde moro, a população era de 9.000 habitantes, agora somos 35 mil. Cada cidade do Brasil tem um problema. A falta de moradia perto do local de trabalho é um problema de São Paulo, pois o trânsito é “encalacrado” (“Empurradas para invasões, mulheres despontam como líderes dos sem-teto”, Cotidiano, 6/5). Por que as pessoas escolhem a capital paulista e não outras cidades pequenas, ricas e acolhedoras, com possibilidade de morar perto do local de trabalho?
Cristina Carvalho Barboza
Roraima e venezuelanos
Concordo com a governadora Suely Campos (“De Roraima para Brasília”, Tendências / Debates, 6/5). Estive em Roraima em 2012, e naquela época, com a Venezuela já em crise, em Santa Elena de Uairén, cidade depois da travessia da fronteira, já havia racionamento de combustíveis e outros produtos. Na fronteira, não encontrei nenhum controle. É preciso que, com urgência, o governo federal assuma a responsabilidade e dê todo o apoio ao governo de Roraima para dar assistência e ajudar na integração dos migrantes.
José Alves (Uberlândia, MG)
Drogas
Pertinente o texto do excelente Ruy Castro sobre os problemas causados pela dependência química (“Cem vezes mil”, Opinião, 7/5). Como ele constata sobre a entrada do crack e da cocaína em nosso país, os traficantes e seus comparsas no mercado têm contado, há anos, com “a ignorância e a omissão” dos governos que se sucedem. Além disso, faltam políticas públicas de saúde adequadas ao tratamento dos dependentes de drogas.
(São Paulo, SP)