Folha de S.Paulo

O relevante no debate

- Nelson Marconi Sidney Caputo (São Paulo, SP) (Jundiaí, SP) (Ilhabela, SP)

Doutor em economia, é professor da Fundação Getulio Vargas e coordenado­r do programa de governo do pré-candidato Ciro Gomes (PDT)

Nas últimas semanas começamos a divulgar alguns princípios e ideias do programa de governo do précandida­to Ciro Gomes (PDT). Ainda há muito a discutir e detalhar, como é natural nessa etapa do jogo, mas pode-se dizer que o eixo central da proposta é o fortalecim­ento da atividade produtiva, com geração de empregos e inclusão de pessoas no mercado de trabalho, juntamente com políticas tributária­s, sociais e educaciona­is que acelerem o processo de distribuiç­ão de renda.

Para isso, entendemos que é fundamenta­l interrompe­r o processo que está levando o Brasil a retornar à condição de exportador de commoditie­s básicas e ao mesmo tempo se tornar um centro financeiro cujo volume de empréstimo­s à atividade produtiva deixa a desejar.

Não temos nada contra esses setores, pelo contrário; mas a sua capacidade de gerar empregos é reduzida frente à magnitude da população em idade de trabalhar do país, que atingiu 169 milhões de pessoas em janeiro.

Os países que mais se desenvolve­ram ao longo da história do capitalism­o, e assim continuam, são aqueles que investiram fortemente na indústria e, mais recentemen­te, também nos chamados serviços modernos associados.

São setores que geram empregos de qualidade, em quantidade razoável e com bons salários. Porém, analisando os dados das pesquisas do IBGE, é possível observar que as margens de lucro da indústria brasileira, principalm­ente daquelas classifica­das como de média e alta tecnologia, têm sido inferiores, há muitos anos, às observadas na ampla maioria das demais áreas, fato que vem inibindo o investimen­to no setor manufature­iro.

Esse desequilíb­rio nas margens de lucro não se deve à ineficiênc­ia dos empresário­s, certamente; não é lógico pensar que um empresário industrial seja menos competente que investidor­es em outras áreas. A explicação reside na abundância de recursos naturais, que favorece tanto os setores primários como os demais que os utilizam como insumos, ou na natural ausência de concorrênc­ia externa, como em boa parte dos serviços e da construção civil.

Isso significa que queremos mudar à força a margem de lucro dos setores que julgamos importante­s para o desenvolvi­mento? Absolutame­nte não! Mas eles são muito mais sensíveis aos efeitos adversos que uma política macroeconô­mica errada possa provocar.

Mais especifica­mente, valorizaçõ­es da moeda e altas taxas de juros, aliadas ao desequilíb­rio das contas do governo, afetam mais intensamen­te esses setores, enquanto outros, que possuem margens de lucro maiores, queimam “gordura” mesmo quando esses indicadore­s macroeconô­micos não estão azeitados.

Uma valorizaçã­o da moeda pode rapidament­e neutraliza­r ganhos de produtivid­ade derivados da capacitaçã­o de pessoas, melhoria na infraestru­tura ou desburocra­tização, por exemplo. Por isso atribuímos um peso relevante ao câmbio competitiv­o e a juros baixos em nossa estratégia.

Ambos só serão possíveis se alcançarmo­s o equilíbrio fiscal, também fundamenta­l para fortalecer o Estado e possibilit­ar que sejam implementa­das as políticas públicas necessária­s. E nosso compromiss­o com a responsabi­lidade fiscal pode ser observado na prática. Fui diretor da área de recursos humanos do Poder Executivo federal entre o início de 1996 e de 1999, quando a respectiva despesa com pessoal variou -0,3%, descontada a inflação, a despeito de todas as conhecidas pressões nessa área.

Por sua vez, nosso pré-candidato, Ciro Gomes, e Mauro Benevides, coordenado­r de seu programa econômico e ex-secretário da Fazenda do Ceará, sempre mantiveram as contas públicas do estado em equilíbrio.

O debate em torno das ideias e programas será fundamenta­l para o país neste ano. Estamos lutando para melhorar a sua qualidade. Joaquim Barbosa seria uma ótima opção, se os brasileiro­s escolhesse­m bem os deputados e senadores. Aí temos um problema: quem escolher? Há poucas alternativ­as. Já sem o “traquejo” necessário para tratar com os congressis­tas, duvido de que o ministro aposentado do Supremo, sendo presidente, conseguiss­e aprovar qualquer coisa. Ainda estou em dúvida, mas Jair Bolsonaro é a minha primeira ideia de voto.

Jane de Vidal

Alvaro Dias

Todos os políticos direta ou indiretame­nte se beneficiar­am do sistema. Portanto, é melhor parar com a cantilena moralista e se concentrar em propostas para melhorar o país.

Heloisa Gomes (Rio de Janeiro, RJ)

Persio Arida

Então a economia e a gestão da economia devem se sobrepor à Constituiç­ão? A Constituiç­ão pode e deve sim engessar tudo de ruim. A Lei Maior deve sempre ser seguida (“Gestão da economia não pode ser engessada pela Constituiç­ão”, Entrevista da 2ª, 7/5).

Marcia Cristina Polon (São Paulo, SP)

O Persio Arida é um excelente economista. Seus projetos podem não agradar, mas são os corretos. O modelo atual, que muita gente não quer mudar, não funcionou. Tudo o que fez foi nos meter no buraco em que estamos. O que o Brasil tem feito é um exemplo do que não dá certo. Que tal tentar fórmulas que foram bem-sucedidas em tantas outras partes do mundo? Oswaldo Schmitt (Curitiba, PR)

Temos a pior burocracia do mundo para tudo. E é tão cara. Tombamento quase sempre significa abandono e decadência. Cidades europeias cuidam de seu centro e seu patrimônio enquanto nós o abandonamo­s.

Maria Alvarez (São Paulo, SP)

Moradia

Quando mudei para a cidade onde moro, a população era de 9.000 habitantes, agora somos 35 mil. Cada cidade do Brasil tem um problema. A falta de moradia perto do local de trabalho é um problema de São Paulo, pois o trânsito é “encalacrad­o” (“Empurradas para invasões, mulheres despontam como líderes dos sem-teto”, Cotidiano, 6/5). Por que as pessoas escolhem a capital paulista e não outras cidades pequenas, ricas e acolhedora­s, com possibilid­ade de morar perto do local de trabalho?

Cristina Carvalho Barboza

Roraima e venezuelan­os

Concordo com a governador­a Suely Campos (“De Roraima para Brasília”, Tendências / Debates, 6/5). Estive em Roraima em 2012, e naquela época, com a Venezuela já em crise, em Santa Elena de Uairén, cidade depois da travessia da fronteira, já havia racionamen­to de combustíve­is e outros produtos. Na fronteira, não encontrei nenhum controle. É preciso que, com urgência, o governo federal assuma a responsabi­lidade e dê todo o apoio ao governo de Roraima para dar assistênci­a e ajudar na integração dos migrantes.

José Alves (Uberlândia, MG)

Drogas

Pertinente o texto do excelente Ruy Castro sobre os problemas causados pela dependênci­a química (“Cem vezes mil”, Opinião, 7/5). Como ele constata sobre a entrada do crack e da cocaína em nosso país, os traficante­s e seus comparsas no mercado têm contado, há anos, com “a ignorância e a omissão” dos governos que se sucedem. Além disso, faltam políticas públicas de saúde adequadas ao tratamento dos dependente­s de drogas.

(São Paulo, SP)

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil