Folha de S.Paulo

Escalada de preço do petróleo eleva em 30% distribuiç­ão de royalties no Brasil

Valorizaçã­o de janeiro a abril ajuda o caixa de estados e municípios, mas encarece os combustíve­is

- -Nicola Pamplona Comercial R$ 3,551 / R$ 3,553 Bovespa -0,49% / 82.714 pts

rio de janeiro A disparada das cotações internacio­nais do petróleo pode ser motivo de preocupaçã­o para consumidor­es de combustíve­l, mas tem ajudado estados e municípios em dificuldad­es. A arrecadaçã­o com royalties do petróleo subiu 23,4% nos primeiros quatro meses do ano e chegou a R$ 6,4 bilhões.

Consideran­do o pagamento de participaç­ões especiais — espécie de Imposto de Renda cobrado sobre grandes campos produtores—, os beneficiár­ios pela renda do petróleo arrecadara­m R$ 11,8 bilhões no primeiro quadrimest­re, 30% a mais do que no mesmo período de 2017.

Os royalties são calculados mensalment­e de acordo com uma fórmula que considera a produção de cada campo, o preço do petróleo e a taxa de câmbio. E é dividida entre a União e estados e municípios produtores.

Já a participaç­ão especial é paga por trimestre e varia de acordo com a rentabilid­ade de cada campo produtor. Em fevereiro, foram depositado­s R$ 5,4 bilhões referentes à produção do quarto trimestre de 2017.

Entre os maiores beneficiad­os com o aumento dos preços, estão o estado do Rio de Janeiro —que vem sofrendo nos últimos anos de grave crise financeira também causada pela queda do petróleo— e municípios com grande produção, como Macaé, Maricá e Niterói, no Rio, e Ilhabela, em São Paulo.

Na primeira revisão de seu Orçamento, feita em fevereiro, o governo fluminense ampliou a estimativa de arrecadaçã­o com petróleo em 2018 para R$ 8,7 bilhões, ante os R$ 7,8 bilhões projetados quando o Orçamento foi elaborado, em setembro de 2017.

Os recursos estão ajudando a cobrir parte do rombo do Rioprevidê­ncia, o fundo de aposentado­ria dos servidores estaduais, e liberando outras fontes de receita para regulariza­r os salários, que foram postos em dia em abril, após mais de dois anos com atrasos.

O mais recente relatório de acompanham­ento do Regime de Recuperaçã­o Fiscal do Rio, referente ao mês de janeiro, destacou “o bom desempenho das receitas tributária­s e receitas advindas de royalties e participaç­ões especiais do petróleo”, que superaram as projeções.

O especialis­ta em contas públicas Raul Velloso diz que um sinal do efeito benéfico na arrecadaçã­o foi o anúncio pelo governo federal, no domingo (6), de liberação de crédito suplementa­r de R$ 4 bilhões referentes a royalties e compensaçõ­es pelo uso de recursos hídricos.

O dinheiro pertence aos estados e municípios beneficiad­os, mas, como as projeções anteriores de arrecadaçã­o foram superadas, o desembol- Petróleo supera os US$ 75 o barril em Londres 66,87 so foi necessário.

“É um efeito dessa alta do petróleo. Mas resta saber até quando isso vai durar”, afirma Velloso, que aposta em manutenção do quadro pelo menos durante o cenário eleitoral, que impacta a taxa de câmbio. 75,54 Variação das ações de empresas de petróleo nesta segunda (7)

Petrobras ordinárias BP

Petrobras preferenci­ais Exxon

Shell

Total

Alta no barril impulsiona receita com royalties* 13,4

Nesta segunda (7), o petróleo WTI, negociado em Nova York, ultrapasso­u a barreira dos US$ 70 por barril pela primeira vez desde 2014.

O Brent, negociado em Londres, também vem mantendo patamares de quatro anos atrás: nesta segunda, fechou

3,56% 2,61 1,71 1,09 1,01 0,84 em US$ 75,53.

A alta sustentada, aliada à disparada da cotação do dólar, ameaça o bolso dos brasileiro­s ao pressionar os preços dos combustíve­is: a gasolina, por exemplo, está sendo vendida pelas refinarias da Petrobras pelo maior valor desde que a estatal iniciou sua política de reajustes diários.

Nesta segunda, a Petrobras anunciou aumento de 7,1% no preço do gás de cozinha vendido em grandes vasilhames e a granel, mais consumidos por indústria e comércio. Foi o segundo aumento seguido —em abril, a alta foi de 4,7%.

Por outro lado, com as cotações do petróleo em alta, Estados e municípios produtores têm arrecadado mais do que em anos anteriores. Os R$ 11,8 bilhões acumulados em 2018 já representa­m mais do que o dobro da receita obtida com petróleo em 2016, R$ 5,7 bilhões.

O valor ainda é menor do que o pico de arrecadaçã­o com a rubrica, registrado em 2014, de R$ 13,4 bilhões. Mas a perspectiv­a para o ano é que os valores permaneçam em alta, diante de incertezas com o cenário político no exterior e no Brasil e da queda dos estoques nos Estados Unidos.

“O inverno foi mais rigoroso do que em outros anos e os estoques americanos caíram também. E, olhando para o futuro, o que se vê é uma queda de produção”, diz Manuel Fernandes, sócio da consultori­a KPMG. A cotação do WTI subiu 17% desde o fim de 2017, até os US$ 70,81 do fechamento desta segunda.

O risco de rompimento do acordo que pôs fim ao embargo econômico ao Irã e a delicada situação na Síria também têm pressionad­o os preços. A crise na Venezuela, dona das maiores reservas mundiais, é outro fator, diz o especialis­ta.

No Brasil, o impacto da alta das cotações internacio­nais é ainda maior por causa da desvaloriz­ação do real ante o dólar, que acumula quase 10% de alta no ano e tende a sofrer pressão até as eleições.

Fernandes, porém, vê o cenário como positivo. “Para um país exportador, o petróleo caro é bom”, explica.

 ?? Dirceu Portugal/Fotoarena/Folhapress ??
Dirceu Portugal/Fotoarena/Folhapress

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil