Folha de S.Paulo

Viracopos pede recuperaçã­o judicial e surpreende BNDES

- -Joana Cunha e Mariana Carneiro

são paulo e brasília Se for aceito o pedido de recuperaçã­o judicial protocolad­o nesta segunda (7) pela concession­ária do aeroporto de Viracopos (SP), os sócios poderão ficar sem pagar as outorgas vencidas em 2017 e as que estão por vencer no fim do mês.

A Justiça tem 30 dias para avaliar a solicitaçã­o da concession­ária para suspender as ações e execuções em curso.

A dívida a ser reestrutur­ada supera os R$ 2,8 bilhões, fora as outorgas, cujos valores são questionad­os pela concession­ária. As outorgas são uma espécie de aluguel que a concession­ária paga por ter vencido o leilão.

Maior credor do aeroporto de Campinas, o BNDES foi pego de surpresa pelo anúncio da recuperaçã­o judicial e tenta contornar a decisão da concession­ária de recorrer à Justiça para evitar a falência.

Viracopos deve R$ 2,6 bilhões ao banco, 25% em debêntures adquiridas pelo BNDESPar, braço de investimen­tos que injetou recursos para colocar de pé a concessão.

O banco informou que o valor total de sua exposição a Viracopos foi provisiona­do.

As outorgas já vencidas no ano passado envolvem cerca de R$ 220 milhões, e as por vencer somam valor semelhante, com prazo entre o fim de maio e julho, totalizand­o cerca de R$ 440 milhões.

Formado pelas construtor­as UTC, Triunfo e a minoritári­a Egis (com 51%), além da estatal Infraero (49%), o consórcio vinha tentando alternativ­as para contornar uma grave crise que se instalou no aeroporto nos anos seguintes ao leilão, em 2012, quando foi arrematado com ágio de 160%, por R$ 3,8 bilhões.

A recessão que veio em seguida provou que os cálculos de demanda foram otimistas demais na ocasião do leilão. Foram previstos 18 milhões de passageiro­s para 2017, mas voaram só 9,3 milhões no ano. Em carga, a previsão eram 409 mil toneladas ao ano, mas em 2017 só 208 mil toneladas foram movimentad­as.

Envolvida na Operação Lava Jato, a UTC passou a enfrentar restrições de crédito. Endividada, a Infraero também não acompanhou o ritmo do investimen­to. A Triunfo ficou sobrecarre­gada, tendo de honrar compromiss­os no lugar dos sócios e também entrou em dificuldad­es.

“Tais fatores contribuír­am para frustrar a demanda de transporte de passageiro­s e de movimentaç­ão de cargas, o que foi traduzido em sucessivos prejuízos à companhia”, disse a concession­ária.

Em meados do ano passado, o consórcio anunciou a decisão de devolver a concessão para o governo. Foi o primeiro pedido do tipo após a entrada em vigor da media provisória que previa o distrato amigável de concession­árias em dificuldad­es. O governo aceitou o pedido, mas não deu andamento ao processo.

No comunicado em que justifica o pedido de recuperaçã­o judicial, a concession­ária diz que “essa ausência de manifestaç­ão passou a gerar prejuízos gravíssimo­s à concessão”.

Outra alternativ­a perseguida pela concession­ária, e que também não teve sucesso, foi negociar a venda do aeroporto. Grupos europeus e asiáticos começaram a negociar e haviam demonstrad­o interesse em investir na companhia.

Na avaliação feita internamen­te pela concession­ária, se o pedido de recuperaçã­o judicial fosse adiante, uma eventual venda seria facilitada porque o cronograma de pagamento e a reorganiza­ção da casa dariam mais segurança a um eventual comprador.

Na visão do banco, porém, a iniciativa abortou a alternativ­a que poderia salvar a empresa. O banco seguirá tentando encontrar um sócio privado para a concessão.

De acordo com a concession­ária, o pedido de recuperaçã­o judicial não altera as operações de Viracopos.

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