Folha de S.Paulo

Executivos de empresas privadas estão na mira da Operação Câmbio, Desligo

Delações levam à prisão ex-diretor do grupo Bozano e um suposto operador da Casa & Video

- -Italo Nogueira

rio de janeiro A delação feita pelos dois principais doleiros do país, Vinicius Claret e Cláudio Barboza, atingiu não só possíveis operadores financeiro­s de políticos mas também de dois grupos privados.

Foram alvos da Operação Câmbio, Desligo, na semana passada, o economista Oswaldo Prado Sanches, diretor do grupo Bozano até o mês passado, e Flávio Dib, suspeito de ser o responsáve­l por transações envolvendo a Casa & Video e seu antigo acionista, Luigi Milone.

Os dois são suspeitos de terem feito operações dólar-cabo com Claret e Barboza entre os anos de 2008 e 2016.

A dupla de doleiros atuava com Dario Messer, espécie de banqueiro da operação de ambos, ainda foragido.

Sanches foi até o mês passado diretor da companhia Bozano, empresa da família do milionário Julio Bozano, um dos homens mais ricos do país. É por meio dela que ele participa dos diferentes negóci- os de que é sócio, nos setores de petróleo, aéreo e financeiro, entre outros.

De acordo com o Ministério Público Federal, é atribuída a Sanches a movimentaç­ão de US$ 15,9 milhões (o equivalent­e a R$ 56,5 milhões) por meio dos doleiros. Quase a totalidade das operações tinha como objetivo obter reais em espécie no Brasil. Para isso, eram feitos pagamentos em dólares no exterior em contas indicadas por Claret e Barboza.

Os pagamentos de Sanches no exterior vinham de uma conta do banco Morgan Stanley, agência em Nova York, em nome de Bozano Ltd, de acordo com Claret. O doleiro atribui em seu depoimento as operações para o suspeito como sendo de interesse do banco Bozano Simosen.

O banco Bozano Simosen foi vendido em 2000 para o Santander, mas a operação só foi totalmente concluída em 2011.

Claret, principal contato de Sanches, afirmou à Procurador­ia que o grupo Bozano é cliente da família Messer desde a década de 1990.

O juiz Marcelo Bretas determinou o bloqueio de R$ 59,7 milhões em contas vinculadas à companhia Bozano e outra três empresas ligadas a ela. A fortuna de Julio Bozano é estimada em R$ 5,7 bilhões, segundo a revista Forbes, que faz o principal ranking de fortunas do mundo.

A operação também levou à prisão de Flávio Dib das Chagas Moura, segundo os doleiros, responsáve­l por operações dólar-cabo de interesse da rede varejista Casa & Vídeo e um de seus sócio, Luigi Milone.

Segundo o sistema financeiro da dupla, Dib movimentou US$ 11,5 milhões (o equivalent­e a R$ 41 milhões) para a empresa e seu sócio entre 2008 e 2014. A suspeita é que a empresa recorria ao dólar-cabo para pagar a importação de produtos. Ao recorrer ao sistema de dólar cabo, há a suspeita de que incorra em evasão de divisas e sonegação fiscal.

A rede varejista já foi alvo da Operação Negócio da China, em que Milone foi acusado e condenado por evasão de divisas, falsidade documental e descaminho na importação de produtos. As provas do caso, porém, foram anuladas pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça).

A empresa entrou em recuperaçã­o judicial em 2009 e passou a se chamar Mobillitá. No curso do processo, o nome da rede foi dado a outra empresa, sem relação com Milone.

Empresa se diz surpreendi­da e não ter relação com o caso

A defesa de Oswaldo Prado Sanches afirmou que só vai se manifestar sobre as suspeitas após analisar todo o processo. Já foi pedida a soltura do executivo sob alegação de que os fatos são antigos e não há risco para as investigaç­ões.

A companhia Bozano disse, em nota, “que foi surpreendi­da com a prisão cautelar do ex-diretor”.

“A companhia, que não é alvo da investigaç­ão e que não atua no mercado de câmbio, está à disposição das autoridade­s investigat­ivas para colaborar com os esclarecim­entos que se fizerem necessário­s, registrand­o, desde já, que os fatos tidos como suspeitos não guardam relação com a sua atuação empresaria­l”, afirma a nota do advogado Pedro Ivo Velloso.

A Casa & Video disse que não tem relação com a antiga empresa de mesmo nome.

“Logo, a Casa & Video, criada no âmbito da recuperaçã­o judicial da Mobilitá, não possui responsabi­lidade alguma pelo período em que a atividade empresaria­l era exercida pela Mobilitá”, afirmou a empresa, em nota.

O advogado Antônio Pitombo, que defende Luigi Milone, afirmou que “os fatos são velhos”.

“Isso tudo já foi apurado no processo judicial da Casa e Video. O número é leviano”, declarou. A Folha não localizou a defesa de Flávio Dib.

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