Órgão do COB pode sugerir até saída de técnico da ginástica
Conselho de Ética abre processo por supostos casos de abuso na modalidade
são paulo Criado após a alteração do estatuto do COB (Comitê Olímpico do Brasil), o Conselho de Ética da entidade fará sua estreia tendo como foco o escândalo dos abusos sexuais na ginástica artística brasileira.
O novo órgão, que passou a funcionar efetivamente após o dia 23 de março, abriu processo ético contra a CBG (Confederação Brasileira de Ginástica) e o treinador Marcos Goto em razão dos supostos casos de abuso que teriam sido cometidos pelo ex-treinador Fernando Carvalho Lopes.
A decisão para abertura deste processo ocorreu no início da noite da última sexta-feira (4), após o órgão receber uma representação encaminhada pela Comissão de Atletas do COB.
O documento foi assinado pelo presidente da comissão, o ex-judoca e duas vezes medalhista olímpico, Tiago Camilo.
“Recebemos a representação na sexta-feira e decidimos então intimar o Goto e a CBG para apresentarem in- formações. O prazo para isso é o de cinco dias úteis, conforme consta no regimento interno do Conselho de Ética”, afirmou à Folha o advogado Alberto Murray, presidente do conselho.
O prazo para que tanto a CBG quanto Marcos Goto, que é o coordenador técnico da entidade, apresentem suas justificativas, termina nesta quarta-feira (9).
A expectativa é de que a confederação e o treinador apresentem suas explicações por escrito dentro do prazo.
Após esta data, os cinco integrantes do Conselho de Ética —além de Murray, o órgão é formado por Caputo Bastos, Ney Bello, Samy Arap e Bernardino Santi— irão se reunir para analisar o caso.
Se entenderem que haverá a necessidade de abertura de investigação, será nomeado um relator que chamará os envolvidos para depor.
O caso será julgado de acordo com o que manda o novo código de ética do COB, que está em fase de redação final e será divulgado ao público até o próximo dia 22.
As punições nos processos, de acordo com o que prevê o regimento interno, já divulgado, podem ser desde advertência velada ou escrita até, para casos mais graves, uma suspensão, com prazo a ser determinado.
No caso de prestadores de serviço do COB (como é a situação de Goto, que é contratado pela CBG mas tem os salários pagos pelo comitê olímpico), dependendo da gravidade da falta ou deslize ético, pode haver ainda uma recomendação para que o funcionário seja desligado da entidade.
“Nós não temos competência legal para romper contratos de trabalho, por exemplo. Podemos apenas fazer uma recomendação à direção do COB para demitir um funcionário que tenha cometido um desvio ético”, afirmou Murray.
Vários ginastas ouvidos pelo Fantástico, da TV Globo, disseram que Marcos Goto tinha conhecimento dos abusos sexuais que sofreram de Fernando Lopes, mas, além de não tomar nenhuma atitude, fazia brincadeiras com os atletas supostamente abusados.
A CBG divulgou na última sexta-feira uma nota oficial após a realização de uma Assembleia Extraordinária, segundo a qual reafirmava sua confiança em Marcos Goto.
A entidade lembrou ainda que foi o treinador quem incluiu em um seminário realizado em janeiro deste ano o tema do combate ao abuso e assédio sexual no esporte.
Em entrevista à TV Globo na última terça-feira (1º), o treinador afirmou que “jamais algum atleta veio a mim e relatou o que aconteceu como está sendo falado agora”.
Caixa não renovará patrocínio da equipe de São Bernardo
são paulo A Caixa Econômica Federal decidiu encerrar o patrocínio à equipe de ginástica artística do clube Mesc de São Bernardo do Campo, que tinha como responsável o técnico Fernando de Carvalho Lopes, atualmente acusado por mais de 40 ex-atletas de ter cometido abuso sexual.
Nesta segunda-feira (7), o banco anunciou, por nota oficial, que não renovará o acordo de R$ 1,8 milhão ao ano, que vence em agosto.
Assim, o time que hoje tem Diego Hypolito e o CT que seria a base da seleção masculina ficarão sem patrocínio.
Há quatro anos, a Caixa resolveu estender o apoio que já dava à Confederação Brasileira de Ginástica e passou a patrocinar também o clube.
O fim do apoio envolve também naming rights do centro de treinamento de ginástica e o estádio de atletismo em São Bernardo do Campo.
A Caixa confirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, a decisão de não renovar o contrato com a equipe, mas evitou citar o escândalo como motivo do fim do apoio.
“A decisão [de não renovação] ocorreu por uma decisão estratégica para o ano, considerando inclusive a dotação orçamentária disponível”, afirmou a empresa em nota. NA TV Processo no conselho de ética do COB
Técnico Marcos Goto e Confederação Brasileira de Ginástica terão de explicar por que só agiram sobre denúncias de abuso sexual em clube de São Bernardo do Campo após caso ser revelado pela mídia
QUEM SERÁ OUVIDO CBG (Confederação Brasileira de Ginástica) Entidade que comanda a ginástica artística no Brasil. É filiada ao COB
QUEM VAI ANALISAR O CASO
Conselho de Ética do COB
Órgão criado em 23.mar.2018, após mudança no estatuto do COB. É formado por cinco integrantes, três deles independentes, com um mandato de cinco anos
Alberto Murray* Advogado e presidente do conselho Caputo Bastos* Ministro do Tribunal Superior do Trabalho
Ney Bello* Desembargador do Tribunal Regional Federal da 1ª Região
TRÂMITE DO CASO Samy Arap
Advogado e ex-presidente da Confederação Brasileira de Rúgbi
Bernardino Santi Médico, integrou diversas delegações olímpicas do COB
1. Notificação
CBG e Goto receberam na última sexta (4) pedido do conselho de ética do COB para que se expliquem
a. Inocentar os acusados
Caso não sejam encontradas provas de desrespeito ao código de ética do COB, o caso será arquivado