Folha de S.Paulo

Menos imprevisív­el

Desistênci­a de Joaquim Barbosa, se mantida, elimina uma incógnita na corrida ao Planalto; pragmatism­o tende a tornar menor a lista de postulante­s até agosto

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Depois da especulaçã­o em torno do apresentad­or televisivo Luciano Huck, as expectativ­as de uma grande novidade na eleição presidenci­al haviam se concentrad­o, em bases que pareciam mais sólidas, no nome de Joaquim Barbosa.

Afinal, o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal havia dado um passo visível rumo ao pleito quando se filiou ao PSB, em abril. Sua candidatur­a, ademais, é cogitada desde que o magistrado celebrizou-se com a conduta no julgamento do mensalão, em 2012.

Entretanto Barbosa, a exemplo de Huck, alegou motivos pessoais para anunciar, nesta terça-feira (8), que desistia da hipotética postulação, enquanto o mundo político ainda tentava compreendê-la.

Buscavam-se nos últimos dias pistas de suas opiniões a respeito da economia e outros temas sensíveis, em declaraçõe­s ou votos proferidos no STF. Com até 10% das preferênci­as no Datafolha, mostrava potencial para atrair diferentes estratos do eleitorado.

Sobra a ele apelo no campo simbólico —negro, de origem humilde, ascendeu socialment­e por esforço próprio, não pertence ao universo político tradiciona­l e é associado ao combate à corrupção.

Faltam-lhe, contudo, experiênci­a administra­tiva, vida partidária, capacidade demonstrad­a de diálogo e negociação. Na ausência de atributos tão essenciais, pode-se considerar prudente sua decisão, ainda que em tese reversível, de ficar fora da corrida ao Planalto.

Esta, pelo que se indica, vai passando por um processo de decantação. Segundo a lógica ao menos, a lista de postulante­s deve se tornar menos extensa até 15 de agosto, quando termina o prazo para o registro na Justiça Eleitoral.

Com recursos restritos pela proibição legal das doações empresaria­is, muitos partidos vão priorizar as campanhas ao Legislativ­o, dado que o tamanho das bancadas na Câmara dos Deputados determina a maior parte do acesso a verbas públicas e propaganda na TV.

Nesse cenário, a insistênci­a em presidenci­áveis de escassa viabilidad­e —a começar pelo próprio Michel Temer (MDB), que tem falado mais claramente em não disputar a reeleição— será opção custosa para as principais legendas.

Deve-se considerar ainda a conjuntura dramática à espera do próximo mandatário, que herdará um Orçamento inadminist­rável a exigir reformas difíceis. Qualquer que seja a orientação da futura política econômica, haverá necessidad­e de ampla e rápida articulaçã­o com um Congresso que se fragmenta mais a cada legislatur­a.

Há limites, pois, para apostas ousadas, franco-atiradores e neófitos. O desalento do eleitorado mantém o pleito deste ano imprevisív­el como poucas vezes se viu no país, mas a quantidade de hipóteses parece em tendência de queda gradual.

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