Folha de S.Paulo

A festa do fim do foro

- Bruno Boghossian helio@uol.com.br

brasília Uma conversa no plenário do Senado reuniu nesta terça (8) um trio que anda às voltas com a Justiça. Aécio Neves (PSDB), Fernando Bezerra Coelho (MDB) e Renan Calheiros (MDB) debatiam agitadamen­te o julgamento do Supremo que restringiu o foro especial dos políticos. Cada um deles recebeu, em um intervalo de 24 horas, um destino diferente como efeito daquela decisão.

Os parlamenta­res discutiam exatamente as incertezas criadas pelo tribunal ao ordenar a remessa de alguns processos para a primeira instância em estados diversos, enquanto outros casos continuam no STF.

Nesse grupo, Bezerra teve menos sorte, admitiam os colegas. O Supremo encaminhou a Sergio Moro uma denúncia contra o senador por desvios na Refinaria Abreu e Lima. Como o caso tem relação com a Petrobras, ficará com o juiz de Curitiba, que tem conduzido processos contra políticos com rigidez e celeridade.

Já Aécio teve o inquérito sobre irregulari­dades na construção da Cidade Administra­tiva enviado para a Justiça de Minas Gerais. Será um teste sobre o tratamento dado às autoridade­s que exerceram influência por décadas em seus estados.

Durante o julgamento da ação sobre o foro especial no STF, o ministro Dias Toffoli alertou que a restrição poderia entregar parte dos casos a tribunais que estariam sujeitos a pressões de oligarquia­s locais. Aécio e seu grupo governaram Minas por 12 dos últimos 15 anos.

Quem gesticulav­a de maneira mais efusiva na roda de senadores era Renan. Horas antes, o STF havia indicado que parlamenta­res reeleitos responderi­am a seus processos na corte mesmo que os crimes tenham ocorrido em mandatos anteriores.

Renan é senador desde 1995 e disputará outra eleição em outubro. O Supremo demorou nove anos para transformá-lo em réu pela primeira vez, em 2016. No ano seguinte, o tribunal rejeitou uma das denúncias apresentad­as contra ele na Lava Jato.

O foro especial acabou pela metade. Agora, o STF precisa provar que não restaram privilegia­dos.

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