Renovação no Congresso Nacional? Esqueça
Sabe o dado segundo o qual, em média, metade da Câmara dos Deputados se renova a cada eleição? Esqueça. A renovação real é uma fração mínima disso. Peguemos a eleição de 2014. Dos 513 deputados eleitos naquele ano, 290 já integravam a legislatura anterior, montada em 2010, e se reelegeram. Os outros 223 deputados compõem o tal índice oficial de renovação da Câmara, que em 2014 foi de 43,5%. Mas novo ali, como se verá, são só 24 —4,7% da Casa. Dos 223 “novos”:
• 27 já estiveram na Câmara em algum outro momento, como Benito Gama (PTB-BA), que exerceu quatro mandatos anteriores. Foi deputado constituinte, por exemplo, e, em 1992, presidiu a CPI que culminou com o impeachment de Fernando Collor. Em 2013, fora do parlamento, virou vice-presidente de governo do Banco do Brasil.
Jarbas Vasconcelos (MDB-PE) é outro caso. Foi deputado federal, deputado estadual, prefeito do Recife duas vezes, senador e governador. Em 2010, disputou o governo de Pernambuco e perdeu. Daí ter voltado só na última eleição. Benito Gama e Jarbas Vasconcelos são novos?
• 119 nunca foram deputados federais, mas possuem experiência eleitoral. Foram vereadores, prefeitos, deputados estaduais, governadores ou senadores. Um terço havia vencido ao menos duas eleições antes de 2014. O deputado “estreante” Alfredo Nascimento (PR-AM) foi duas vezes prefeito de Manaus e senador da República. De quebra, foi secretário municipal duas vezes, estadual duas vezes e ministro dos Transportes três vezes. Nascimento é novo?
• 20 nunca tiveram um cargo eletivo, é verdade. Mas ocuparam postos de primeiro escalão no governo. Presidiram autarquias, estatais ou foram secretários municipais e secretários estaduais, trampolim para a carreira política. É o caso de Alexandre Baldy (PP-GO), que foi secretário da Indústria e do Comércio em seu estado antes de se eleger e, atualmente, ocupa o Ministério das Cidades de Temer. Baldy é novo na política?
• 33 são parentes de políticos, como Uldurico Junior (PPL-BA), o deputado mais jovem da Câmara, que é filho, sobrinho e neto de deputados federais. Ou Pedro Cunha Neto (PSDB-PB). Seu pai é senador, foi prefeito (3 vezes), deputado federal (2 vezes) e governador (2 vezes). Seu avô paterno, já falecido, foi vereador, prefeito (2 vezes), deputado federal, governador e senador. Ainda pelo lado paterno, teve tio-avô senador. Pelo lado materno, seu bisavô foi prefeito e há ainda um parente que foi governador, ministro e senador. Dois primos seus são deputados estaduais. Uldurico Junior, 26, e Pedro Cunha Lima, 29, são jovens. Mas novos?
Dos 223, restam 24 que não se encaixam nas quatro categorias acima e podem ser considerados novos. Representam 4,7% da Câmara, não 43,5%. Desses, 9 se elegeram pela base religiosa (6 evangélicos e 3 católicos) e 5 são ex-policiais (4 PMs e 1 delegado). Há ainda 2 apresentadores de TV, 2 empresários, 2 advogados, 2 médicos, 1 cantor (Sérgio Reis) e 1 cartola (Andrés Sanchez).
No Senado, a conta se radicaliza. Em 2014, a eleição pôs em disputa um terço da Casa. Cinco se reelegeram, e 22 vieram “de fora”. O índice oficial de renovação, calculado sobre a base total de senadores (81), foi de 27,2%. Dos que vieram de fora, 1 foi vereador, 2 são ex-senadores, 4 chegaram a governador, 4 a prefeito e 10 a deputado federal. Resta 1 realmente novo: o advogado Lasier Martins (PSD-RS), popular no Rio Grande do Sul por seus quase 30 anos como âncora e comentarista na TV.
Lasier representa 1,2% do Senado. Como se vê, é mais fácil um camelo, aliás, toda uma cáfila passar pelo buraco de uma agulha do que um candidato novo entrar no Congresso Nacional.
Decisão de Barbosa
O ministro aposentado Joaquim Barbosa jamais teria o meu voto para a Presidência. Mas reconheço que a sua presença abrilhantaria —e muito — o Senado Federal. Milton Córdova Júnior
(Vicente Pires, DF)
A decisão de Barbosa foi correta. Ele já deu a sua contribuição ao país, que não precisa de um juiz, precisa de um presidente. Só isso. Mas, infelizmente, ainda não há nada parecido no mercado.
Edison Luciano (Rio Claro, SP)
O perfil de Barbosa é de senador. Lá no Senado ele faria a diferença. Luis Antonio Fernandes de Oliveira (Ilha Solteira, SP)
Em face da imensa crise de honestidade na política, penso que foi o país que perdeu. Infelizmente, o ministro aposentado deixou diversas “viúvas” desamparadas e mais próximas, talvez, de um “salvador da pátria” que possa aparecer.
Carlos Eduardo Salles (Santos, SP)
Marx
João Pereira Coutinho escreve em seu artigo que “o proletariado de Marx só existiu na imaginação dele” (“Profetas da desgraça”, Ilustrada, 8/5). Talvez tenhamos que analisar o período em que Karl Marx viveu, ou seja, o século 19. Século em que pessoas, entre as quais crianças, trabalhavam 12 horas por dia, sem os direitos e as “regalias” que a classe trabalhadora do século seguinte conquistaria por meio de greves e de acordos com a classe empresarial.
Luis Coutinho
Igreja Martin Luther
Pouco ou nada foi falado sobre a igreja luterana que foi destruída com o desabamento do edifício Wilton Paes de Almeida. O colapso do prédio foi uma tragédia anunciada. A igreja era referência da cultura alemã no Brasil. A omissão do governo resultou em perdas incalculáveis não só para os moradores (invasores) do prédio, mas para os cristãos e cidadãos de todo o país. Denis Schaefer (São Paulo, SP)
Charge
Insensível a charge de João Montanaro da última segunda (7). Quantos dos que voltaram a morar nas ruas e dos que se sensibilizaram com a tragédia acharam graça?