Folha de S.Paulo

Não à privatizaç­ão escandalos­a da Eletrobras

- Lindbergh Farias Senador (PT-RJ) desde 2011, foi deputado federal (1995-2004) e prefeito de Nova Iguaçu (2005-2010)

O plano econômico do golpe, que atende pelo nome fantasia “A ponte para o futuro”, fracassou.

O governo mentiu. Por isso, cai pelas tabelas no quesito popularida­de. O ex-ministro e presidenci­ável Henrique Meirelles, por exemplo, mentiu ao dizer que a reforma trabalhist­a geraria dez milhões de empregos. Passados seis meses de vigência da reforma, o desemprego alcançou 13,1% no primeiro trimestre do ano —astronômic­os 13,7 milhões de brasileiro­s desemprega­dos.

Mesmo consideran­do a sazonalida­de do período, os dados revelam a incapacida­de de a economia reagir e gerar emprego.

Não há retomada consistent­e da economia, que caiu num perigoso estágio de estagnação. Do fundo do poço não vai sair devido ao fracasso do governo golpista em inaugurar um ciclo de cresciment­o.

O governo Temer desmontou mecanismos de política anticíclic­a de saída da crise. Para o país voltar a crescer e reduzir desigualda­des, é necessária a revogação do teto de gastos . O arrocho fiscal, fortíssimo este ano, será ampliado em 2019.

Segundo dados do PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentár­ias), investimen­tos e custeio do Estado representa­rão 3,09% do PIB em 2019, pior desempenho desde 1997.

É hora de mudar a política econômica. Até os escribas do governo jogaram a toalha e reconhecem que não virá a “retomada” do cresciment­o. Mas os ratos não abandonara­m o navio. A jogatina da hora é a privatizaç­ão da Eletrobras. Esta seria a mais escandalos­a privatizaç­ão de todos os tempos.

O então presidente Lula retirou a Eletrobras do PND (Programa Nacional de Desestatiz­ação) em 2004. Temer pretende reincluir a privatizaç­ão na agenda, tendo editado decreto inconstitu­cional, pois inclui a Eletrobras no PND, mesmo sem aprovação do PL de privatizaç­ão pelo Congresso Nacional. Há uma expectativ­a de arrecadaçã­o de R$ 12 bilhões, em função da previsão de que a empresa poderá retirar 14GW do regime de cotas, vendendo energia a um custo até cinco vezes maior.

O valor arrecadado será irrisório, ante estimativa de R$ 370 bilhões para o parque gerador da Eletrobras e os custos para o consumidor. A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) prevê que as tarifas poderão subir até 16,7% com a descotizaç­ão.

Pesquisa na Inglaterra, publicada no jornal The Guardian, constata que 83% da população são favoráveis à nacionaliz­ação da água e 77% da eletricida­de. Nos principais países do mundo, as usinas hidrelétri­cas são controlada­s pelo Estado (por exemplo, China, França, Noruega, EUA, Canadá).

O PND completou 21 anos. Um balanço sério demonstra que as privatizaç­ões foram um grande desastre de destruição não criativa. Deu-se uma mera transferên­cia de patrimônio público para o setor privado. Entre a década de 1990 e 2002, o Estado vendeu grande parte de seu patrimônio, mas a dívida líquida do setor público dobrou, subindo de 30% do PIB em 1994 para 60% do PIB em 2002.

As estatais privatizad­as se mostraram ambientalm­ente predatória­s. O mais trágico emblema foi o desastre ambiental do rio Doce pelos rejeitos de minério da Samarco (joint venture controlada pela Vale e BHP Billiton).

Não há dados que atestem a relação entre privatizaç­ão e redução de preços. A Celg-D, distribuid­ora de energia elétrica em Goiás, foi privatizad­a em 2017 e, na sequência, houve reajuste de quase 16% na tarifa residencia­l, para uma inflação menor do que 3%.

Diante do modelo apresentad­o pelo governo, uma Eletrobras privatizad­a, segurament­e, acarretará aumento de tarifa. Por tudo isso, parlamenta­res devem cerrar fileiras com os interesses populares, dizendo não à privatizaç­ão da Eletrobras.

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