Folha de S.Paulo

Barbosa desiste de ser candidato, e aliança do PSB com Ciro ganha força

A aliados, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal relatou temor de ser abandonado pelo seu partido; ele também criticou sistema político

- Barbosa se filia ao PSB Em encontro com dirigentes do partido, ex-ministro nega candidatur­a, mas comemora bom desempenho nas pesquisas Barbosa anuncia que não será candidato Gustavo Uribe, Marina Dias, Talita Fernandes e Daniel Carvalho

brasília A candidatur­a própria do PSB naufragou na manhã de ontem, antes mesmo de ser lançada oficialmen­te. Por telefone, o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa avisou ao presidente do partido que desistira de concorrer à Presidênci­a.

Depois de idas e vindas, que incluíram encontros com líderes do partido, uma filiação partidária aos 45 minutos do segundo tempo e declaraçõe­s sobre o futuro do Brasil, Barbosa disse ao presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira, que tomara uma “decisão estritamen­te pessoal”.

Com até 10% de intenção de voto no Datafolha, a saída prematura de Barbosa da disputa mexe num cenário engarrafad­o por candidatos que ainda não decolaram nas pesquisas.

Por afinidade ideológica —e pelo peso regional do PSB, cujo centro de gravidade ainda é o Nordeste— o pedetista Ciro Gomes surge como eventual beneficiár­io, se não do espólio de votos de Barbosa, da máquina partidária do PSB.

A decisão do ministro aposentado surpreende­u a cúpula do partido, mas não a amigos e familiares do magistrado, que já tinham identifica­do sinais de desistênci­a. “Ele agradeceu muito a receptivid­ade do PSB, mas disse que havia refletido muito e que não ia ser”, afirmou Siqueira.

Na sequência, Barbosa publicou uma mensagem nas redes sociais: “Está decidido. Após várias semanas de muita reflexão, finalmente cheguei a uma conclusão. Não pretendo ser candidato a presidente. Decisão estritamen­te pessoal”.

Na semana passada, ele telefonou para amigos, como o colega de STF Carlos Ayres Brito, para discutir o assunto.

O entorno de Barbosa afirma que pesaram na desistênci­a o seu problema de saúde na coluna e o receio de ser engolido pela estrutura partidária do PSB.

Segundo relatos, o ministro se dizia incomodado com a possibilid­ade de ter de alterar as suas propostas para se adequar à sigla e que fosse abandonado pelo partido durante o processo eleitoral. O medo dele era iniciar uma série de conversar com possíveis apoiadores, trocar a unanimidad­e da imagem de juiz pela roupa questionáv­el de candidato, e, no fim, ser deixado sem apoio.

Barbosa havia se filiado ao PSB na data limite para disputar eleições, 7 de abril, e desde então fazia mistério sobre as suas pretensões. Na última pesquisa Datafolha, apareceu em terceiro lugar, ficando atrás apenas de Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede).

Com a desistênci­a, o PSB começou a discutir em caráter reservado quem apoiará na disputa presidenci­al deste ano. O partido e o PDT de Ciro devem discutir o assunto na próxima semana. “Nunca deixamos de conversar com o PSB e continuare­mos a conversar. Só depende deles [um acordo]”, disse o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.

Siqueira convocou para a próxima semana reunião da executiva nacional do PSB. Além de resistênci­a interna, um apoio a Geraldo Alckmin (PSDB) enfrentari­a como obstáculo resolução nacional do partido, que proíbe o apoio a quem defendeu as reformas previdenci­ária e trabalhist­a.

Principal opositor à candida- CRONOLOGIA DE UMA DESISTÊNCI­A 7.abr 19.abr 8.mai O que Barbosa tinha como trunfo nas eleições

Intenção de voto no Datafolha Estimativa de tempo de TV na campanha para a Presidênci­a** tura de Barbosa no PSB, o governador de São Paulo, Márcio França, classifico­u como “previsível” a desistênci­a. “Pensar que a disputa de outubro será dos ‘outsiders’ é um equívoco. Essa é a eleição dos profission­ais, de quem está acostumado a ter estômago de aço e fazer arranjos políticos.”

França sempre trabalhou para que o PSB apoiasse Alckmin, apesar de a cúpula da sigla já ter indicado preferênci­a por Ciro. Dessa forma, o governador deve estimular a neutralida­de do partido.

Ainda antes de ser anunciada a desistênci­a de Barbosa, setores do chamado “centrão” já começavam a se movimentar para evitar uma derrota precipitad­a e o esfacelame­nto completo do grupo.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), por exemplo, discutia nos bastidores a possibilid­ade de seus aliados, como PP e PR, fecharem acordo com Ciro, como alternativ­a à aproximaçã­o entre Temer e Alckmin. O movimento do presidente em direção ao tucano se intensific­ou nos últimos dias como uma espécie de abraço dos afogados, mas, após a desistênci­a de Barbosa, apostam auxiliares, pode voltar a esfriar.

O bloco ligado a Maia diz estar ciente de que Ciro tentará, primeiro, fechar acordo com PT e outros partidos da centro-esquerda. A aposta, porém, é de que, se o PT não abrir mão da cabeça de chapa, haverá uma avenida para que parte desse centro migre para a candidatur­a do pedetista —e ganhe algo com isso.

Não acredito que esta eleição mude o país (...) Os políticos criaram um sistema político de maneira a beneficiar a eles mesmos. O sistema não tem válvula de escape. O cidadão brasileiro vai ser constantem­ente refém desse sistema. Você não tem como mudá-lo

8% nos cenários com Lula 10% no melhor cenário sem Lula 52 segundos Joaquim Barbosa ao jornal Valor Econômico

A presença de Joaquim Barbosa é boa para o debate eleitoral no brasil

Ciro Gomes (PDT)

Eu respeito o processo decisório do ministro e do próprio partido. O processo eleitoral ainda está no início e é cedo para falar em aliança

Marina Silva (Rede)

É uma perda. Precisamos de novas lideranças, uma maior participaç­ão

Geraldo Alckmin (PSDB)

É um atestado de completa ignorância política. Se ele não quer ajudar o Brasil, tudo bem. Estou sozinho nessa briga [contra a corrupção]. Ele poderia ser candidato e ajudar

Jair Bolsonaro após Barbosa afirmar ao jornal O Globo que vê como riscos para o país a eleição do deputado do PSL

 ?? Ed Ferreira - 19.abr.18/Brazil Photo Press ?? O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa
Ed Ferreira - 19.abr.18/Brazil Photo Press O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil