Folha de S.Paulo

Três cenas de ladroagens, sem PT

Em 5 dias estouraram denúncias capazes de deixar a origem da Lava Jato no chinelo

- Elio Gaspari Jornalista, autor de cinco volumes sobre a história do regime militar, entre eles “A Ditadura Encurralad­a” DSTQ S S Elio Gaspari, Janio de Freitas | Celso Rocha de Barros | Joel Pinheiro da Fonseca | Elio Gaspari | | Reinaldo Azevedo | Demétr

Desde 2014, quando uma pequena investigaç­ão bateu no doleiro Alberto Youssef e deu origem à Lava Jato, não se via coisa igual. Em menos de uma semana, explodiram três bombas no andar de cima. Diferentes entre si, deverão trazer consequênc­ias comparávei­s às decisões do juiz Sergio Moro e ao povoamento das carceragen­s de Curitiba. Recapitula­ndo-as:

Na quarta-feira passada a polícia prendeu a nata dos operadores de câmbio paralelo na-

Q cional encarceran­do 33 doleiros. Mesmo sabendo-se que o maior deles, Dario Messer, está foragido, pode-se especular que pelo menos 20 deles eram muito maiores que Youssef. Se apenas cinco vierem a colaborar com a Justiça, caberão várias Lava Jatos na Operação Câmbio, Desligo. Ela está na vara do juiz Marcelo Bretas, que já botou na cadeia o exgovernad­or Sérgio Cabral e a cúpula da sua “gestão modernizad­ora” do Rio.

Por precaução, papeleiros ilustres já estão se afastando do mercado. Alguns deles sobreviver­am às Operações Satiagraha e Castelo de Areia. Nos dois casos, a falta de cuidado de investigad­ores e procurador­es permitiu que fossem atropelado­s pela cegueira da Justiça das cortes superiores. A Lava Jato tirou a venda da Justiça e deu no que deu.

No domingo soube-se que, em março, o PM paulista Abel Queiroz, funcionári­o de uma empresa de carros-fortes, contou à Polícia Federal que foi pelo menos duas vezes entregar dinheiro no escritório do empresário José Yunes, bom amigo de Michel Temer, e seu assessor especial no primeiros meses de governo. A PF acredita que esse ervanário valia R$ 1 milhão e saiu da Odebrecht.

No dia seguinte, outra novidade: autoridade­s suíças informaram que desde 2007 o engenheiro Paulo Vieira de Souza, o “Paulo Preto” do PSDB, transferiu

Janio de Freitas US$ 34,4 milhões para bancos locais. O doutor abriu sua conta na Suíça 43 dias depois de ter sido nomeado diretor de engenharia da Dersa, a estatal de rodovias de São Paulo.

Num episódio inusitado, a existência desse dinheiro foi revelada já há meses pela própria defesa de “Paulo Preto”. Em 2010, quando seu nome foi associado a traficânci­as no setor de transporte­s de São Paulo, ele disse que “não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada, não cometam esse erro”. O estado é governado pelo tucanato desde 95 e “Paulo Preto” está preso desde abril.

Uma eventual colaboraçã­o de doleiros ainda é matéria de especulaçã­o, mas os antecedent­es permitem supor que algumas virão. Youssef foi uma peça vital para a Lava Jato, e os irmãos Chebar fritaram Sérgio Cabral. O sinal mandado por “Paulo Preto” sugere que ele já não está a fim de ficar ferido na estrada.

A prisão dos doleiros terá efeitos multiparti­dários. De saída, ela bate em notáveis do PSDB e do MDB. A revelação do PM que levava dinheiro ao escritório de Yunes flamba Temer e seu MDB. Já a fortuna exportada por “Paulo Preto” vai ao coração do PSDB chique de SP.

Nessa sucessão de novidades ainda há mais: pela primeira vez desde que a Lava Jato entrou nas petrorroub­alheiras do PT, a rede caiu em cima de doutores que nada têm a ver com o comissaria­do. Pelo contrário, eram ilustres defensores da deposição de Dilma Rousseff em nome da moralidade pública. Quem foi para as ruas em 2016 deve se lembrar dessa esperança.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil