Folha de S.Paulo

Saída de Barbosa zera jogo e dá fôlego a candidatos da esquerda e do centro

- -Bruno Boghossian

ANÁLISE brasília A decisão de Joaquim Barbosa de não disputar as eleições zera o jogo da corrida presidenci­al. O impacto de sua desistênci­a é vasto e produzirá efeitos sobre as campanhas de Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT).

A filiação de Barbosa ao PSB, em abril, incluiu na disputa um personagem com capacidade de abraçar uma escala ampla de eleitores, atraindo segmentos tradiciona­lmente alinhados tanto aos tucanos quanto aos petistas. Suas chances de chegar ao segundo turno eram significat­ivas.

A saída do ministro aposentado do STF da disputa provocará uma reacomodaç­ão desses votos e, principalm­ente, um recuo nas articulaçõ­es partidária­s para as eleições.

A desistênci­a representa um alívio para o grupo de Geraldo Alckmin, que enxergava Barbosa como obstáculo no chamado centro do espectro político. O ex-presidente do STF começava a ocupar um eleitorado-alvo do PSDB: grandes cidades, renda mais alta e educação superior.

O congestion­amento provocado pela entrada de Barbosa foi o que determinou a precipitaç­ão dos esforços pela unificação desse centro —exemplific­ada pela aproximaçã­o entre Alckmin e o presidente Michel Temer (MDB).

Os tucanos queriam evitar ou adiar qualquer articulaçã­o de uma aliança com o MDB, devido ao desgaste sofrido pelo partido do presidente, mas a multiplica­ção de adversário­s competitiv­os e a crescente chance de derrota os levou a antecipar esse movimento.

A saída de Barbosa deve dar algum fôlego a Alckmin nas pesquisas. Ainda que seu cresciment­o seja residual, qualquer solavanco pode ser suficiente para que ele se torne um polo de atração de alianças. Nesse caso, convém ao PSDB recuar duas casas nas conversas com Temer e esperar a reorganiza­ção do tabuleiro.

A desistênci­a do ex-presidente do Supremo também retira das urnas um candidato que absorveria parte de um eleitorado sem alinhament­o ideológico nítido, mas insatisfei­to com a corrupção e com a classe política tradiciona­l.

É natural que Marina Silva seja uma das principais herdeiras desse estoque de votos. Ainda que a ex-senadora tenha dado seguidas declaraçõe­s contrárias a uma aliança com Barbosa nesta eleição, os dois têm uma série de interlocut­ores comuns, como o ministro aposentado do STF Carlos Ayres Britto.

À esquerda, a desistênci­a de Barbosa devolve à arena eleitoral o PSB, que tem uma fatia de 45 segundos em cada bloco de propaganda de TV —tempo considerad­o razoável na nova formatação das campanhas.

No processo de articulaçã­o com o ex-presidente do Supremo, a cúpula do partido deu demonstraç­ões incisivas de que a linha-mestra da sigla é uma plataforma de centro-esquerda.

Uma ala da direção do PSB já declarou apreço pela candidatur­a de Ciro Gomes e, embora haja uma ligação íntima com o ex-presidente Lula, esse grupo se esforça para reduzir a associação da sigla com o PT.

A volta do PSB ao jogo como uma peça solteira também levará a rearranjos regionais. Sem Barbosa, os candidatos da legenda nos estados do Nordeste terão caminho livre para formar alianças com petistas, mesmo que a cúpula do partido queira seguir outros caminhos.

Pressionad­o por seus próprios dirigentes em direções diversas, o PSB pode até se declarar neutro na eleição presidenci­al, e liberar cada diretório local para agir como bem entender.

O governador paulista Márcio França (PSB), age nesse sentido. Ele precisa do apoio de Geraldo Alckmin em São Paulo, mas sabe que não terá força para levar a sigla a fechar uma aliança nacional com o tucano.

Desistênci­a deve dar algum fôlego ao tucano nas pesquisas. Ainda que seu cresciment­o seja residual, qualquer solavanco pode ser suficiente para que ele se torne um polo de atração de alianças. Nesse caso, convém ao PSDB recuar duas casas nas conversas com Temer

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