Folha de S.Paulo

Risco de contágio pela via financeira é baixo, dizem analistas

- -Danielle Brant

são paulo O risco de contágio da crise cambial argentina no mercado financeiro brasileiro é muito baixo, e seu efeito sobre os negócios na Bolsa nesta terça-feira (8) foi limitado, avaliam analistas.

Para eles, a situação econômica dos dois emergentes é muito diferente, o que protege a Bolsa brasileira e o câmbio de um impacto negativo maior das turbulênci­as enfrentada­s pelo país vizinho.

Nesta terça, o dólar subiu 0,4% no Brasil, para R$ 3,568. A Bolsa de São Paulo avançou 0,29%, para 82.956 pontos.

Celson Plácido, estrategis­ta-chefe da XP investimen­tos, lembra que uma das diferenças é o nível de reservas internacio­nais que o Brasil possui —a Argentina precisou pedir socorro ao FMI (Fundo Monetário Internacio­nal) justamente por queimar parte de suas reservas ao tentar conter a escalada do dólar.

Na quinta-feira (3), o Brasil tinha US$ 381,824 bilhões em reservas internacio­nais. A Argentina tinha, no mesmo dia, US$ 56,147 bilhões.

“Estamos em situação oposta. Eles tiveram de subir juros mais rapidament­e, a gente está discutindo um novo corte de 0,25 ponto percentual nos juros. A gente tem uma situação confortáve­l de inflação”, afirma Plácido.

O risco de contaminaç­ão também é visto como distante por José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator. “A Argentina voltou para o começo dos anos 1990, nós não. Turquia, Rússia, Argentina são mais prejudicad­os [pela alta de juros nos Estados Unidos que tem pressionad­o o dólar], tem uma hierarquia clara e o Brasil claramente não é o pior.”

O impacto potencial é maior quando considerad­as as exportaçõe­s do Brasil, diz Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimen­tos.

“Poderia ter efeito se a crise na Argentina se aprofundas­se, com um retardamen­to da recuperaçã­o do cresciment­o. A indústria automotiva poderia ser punida e afetar nossos números de produção industrial.”

Em relatório, o banco UBS considera que há riscos limitados aos emergentes por causa da situação argentina.

“A pressão sobre o peso argentino responde largamento a um fenômeno global [alta de juros nos Estados Unidos e um dólar mais forte] exacerbado pelas condições idiossincr­áticas da Argentina”, Dólar encosta em R$ 3,57 Moeda dos EUA avança após decisão de Trump de sairdo acordo nuclear com o Irã e por cautela com Argentina

3.5680 afirma o relatório.

Se a crise no vizinho não afetou tanto o mercado brasileiro, o mesmo não dá para falar da decisão do americano Donald Trump de deixar o acordo nuclear com o Irã.

Preocupado­s, os investidor­es correram para ativos mais seguros, como o dólar e títulos de dívida americana, cujos rendimento­s aumentaram. Trump também impôs sanções econômicas ao país.

“Pode haver um efeito na produção do petróleo e aumentar o preço”, diz Roberto Dumas, professor de economia do Insper.

“Se gerar pressão inflacioná­ria, o banco central americano pode aumentar juros, e isso é ruim para emergentes, ainda mais num cenário de expansioni­smo fiscal americano que já eleva a inflação.”

Em nota, a agência de classifica­ção de risco Moody’s disse que a saída dos EUA do acordo nuclear com o Irã “produzirá volatilida­de adicional nos preços do petróleo, enquanto o mercado avalia qual o impacto no fornecimen­to global”.

A Moody’s diz que, apesar do aumento das tensões geopolític­as, espera que os preços do petróleo se mantenham, no médio prazo, na faixa de US$ 45 a US$ 65 por barril. O Brent fechou a US$ 74,85.

O anúncio do ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa de que não concorreri­a à Presidênci­a trouxe alívio à Bolsa.

“Foi bom ele ter desistido para dar mais clareza à corrida eleitoral. É mais difícil traçar cenário com muitos candidatos, é difícil saber com qual percentual é possível chegar ao segundo turno”, avalia Buccini, da Rio Bravo.

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