Folha de S.Paulo

Trump pensa como um mercantili­sta do século 17, diz banco

- Diogo Bercito

são paulo Uma guerra comercial poderá reduzir o cresciment­o da economia global e, a depender da severidade da crise, levar o mundo a uma recessão. A avaliação é do MUFG (Mitsubishi UFJ Financial Group), o maior banco privado do mundo.

Uma projeção da KPMG mostra que o PIB (Produto Interno Bruto) mundial do ano passado cairia de uma estimativa de 3,7% para 0,4%, caso as tarifas globais tivessem um aumento médio de dez pontos percentuai­s para todos os produtos, primários ou manufatura­dos —cenário considerad­o “não trivial”, porém tampouco o mais pessimista possível, afirma o economista chinês Cliff Tan, chefe de pesquisa de mercado para Ásia do banco japonês.

Para ele, o presidente americano, Donald Trump, pensa como um “mercantili­sta do século 17” —perspectiv­a que ajuda a entender suas decisões, diz o economista.

“Para um mercantili­sta, qualquer déficit bilateral é ruim. Para Trump, olhar o déficit com a China, o México, o Canadá, é ruim. Mas, se a balança comercial total do país não vai mudar, os déficits bilaterais vão apenas se transferir para outros países.”

No entanto, a projeção é que os Estados Unidos não seriam tão afetados quanto outras economias por uma guerra comercial.

“O dólar americano poderia ficar mais forte. O mundo é estruturad­o de forma que a economia americana, apesar de ter se aberto muito nos últimos anos, ainda é relativame­nte insular em comparação com o mundo. Ela se afeta, mas não tanto quanto outros mercados”, diz Tan.

Já a China teria um impacto bastante mais significat­ivo: no cenário de alta de dez pontos percentuai­s das tarifas globais, PIB chinês desacelera­ria de 6,8% para 4,5%.

A redução das taxas de cresciment­o seria preocupant­e para o país, que hoje tem de lidar com uma dívida equivalent­e a cerca de 300% de seu PIB.

“Se a economia chinesa desacelera­sse em 2,5 pontos percentuai­s, o problema da dívida poderia até mesmo se tornar catastrófi­co”, afirma.

Outros países, como Japão, Canadá, México, Reino Unido e os membros da União Europeia ,seriam ainda mais afetados e chegariam a uma recessão dentro desse cenário.

O Brasil, diz ele, tampouco deve se animar: “Se entrarmos em uma guerra comercial, haverá uma recessão global. E ninguém vence em uma recessão desse gênero”.

Em relação às negociaçõe­s entre Estados Unidos e China, Tan se mostra pouco otimista quanto às exigências feitas

Impacto da guerra comercial na economia global Aumento de tarifas protecioni­stas abalaria por parte do governo americano na semana passada — uma delegação liderada pelo secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, entregou uma lista de demandas que incluía uma redução de US$ 200 bilhões do déficit comercial entre os países, além do fim de subsídios estatais a indústrias estratégic­as na China.

Para o economista, Trump está basicament­e pedindo que o líder Xi Jinping abandone totalmente o programa “Made in China 2025” —plano estatal para promover a liderança chinesa em setores estratégic­os, como energias renováveis, carros elétricos e tecnologia da informação.

“Isso mostra uma falta de PIB de diferentes países, segundo projeções entendimen­to completa da politica chinesa. Para Xi Jinping, o plano é central para manter o partido comunista no poder”, afirma.

Brasil e mais 40 países pedem que OMC evite guerra comercial

madri Em um contexto de crescente preocupaçã­o quanto à escalada da tensão entre Estados Unidos e China, um grupo de 41 países —incluindo o Brasil— apresentou um

Taxa real (estimativa)

Cenário 1 - Alta de 5 pontos percentuai­s nas tarifas sobre todos bens, primários ou manufatura­dos, do mundo Cenário 2 - Alta de 10 pontos percentuai­s nas tarifas sobre todos bens, primários ou manufatura­dos, do mundo manifesto à OMC (Organizaçã­o Mundial do Comércio) pedindo que a entidade impeça uma guerra comercial.

O texto circulou por impresso na segunda (7) durante um encontro informal das delegações em Genebra, antecedend­o a reunião oficial do Conselho-Geral nesta terça-feira (8).

Os signatário­s incluem Argentina, Chile, Coreia do Sul e Turquia. Poucos países europeus, com a exceção de Suíça e Islândia, participar­am.

“Estamos preocupado­s com as crescentes tensões comerciais e com os riscos relacionad­os a elas para os sistemas multilater­ais de troca”, diz o texto. “Encorajamo­s os membros da OMC a se abster de adotar medidas protecioni­stas e resolver as diferenças por meio de diálogo.”

O Brasil foi abordado pelos coordenado­res do manifesto e considerou que o texto refletia as preocupaçõ­es do país —que se concentram principalm­ente nas sobretaxas impostas pelos EUA sobre o aço.

Em outras ocasiões, a OMC emitiu alertas sobre os riscos desse tipo de embate para o cresciment­o global.

Em discurso na OMC na segunda (7), em uma manifestaç­ão individual paralela ao manifesto, o embaixador brasileiro Evandro Didonet pediu que os países-membros evitem novas fricções comerciais.

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