Folha de S.Paulo

Cade deve negar à J&F recurso contra a estatal

- -Julio Wiziack

brasília A Âmbar, braço de energia da J&F do empresário Joesley Batista, não deve conseguir do Cade (Conselho Administra­tivo de Defesa Econômica) o aval para obrigar a Petrobras a assinar um novo contrato de fornecimen­to de gás para a termelétri­ca do grupo.

O conselho julgará o caso nesta quarta-feira (9) e, até a conclusão desta edição, não havia consenso. Mais da metade dos conselheir­os considerav­a não haver razões técnicas para atender ao pedido.

No entanto, avaliavam a abertura de um inquérito para investigar possíveis práticas anticoncor­renciais da Petrobras. Existem outras controvérs­ias contra a estatal.

A Petrobras não quer mais fornecer o gás para a Âmbar porque a empresa se envolveu em corrupção. O último contrato foi rompido pela estatal em junho de 2017 depois que o próprio Joesley Batista afirmou, em delação, ter acertado o pagamento de R$ 500 mil para que o ex-assessor do presidente Michel Temer Rodrigo Rocha Loures resolvesse a questão no Cade.

O caso tramitava na Superinten­dência-Geral do Cade, órgão que instrui os processos para o julgamento. No fim do ano passado, o superinten­dente e o conselheir­o envolvidos na delação de Batista deixaram o Cade porque expiraram os mandatos.

Em abril deste ano, o novo superinten­dente, Alexandre Cordeiro de Macedo, arquivou o caso por falta de evidências danosas contra a Âmbar.

A empresa recorreu e, ao mesmo tempo, enviou um pedido de medida cautelar ao conselho para forçar a Petrobras a fechar um contrato.

No processo, a Âmbar afirmou que não consegue gás com outro fornecedor porque a Petrobras é monopolist­a.

O aumento de preço da energia para os consumidor­es era o ponto que os conselheir­os do Cade tentavam comprovar para avaliar se concederia­m a cautelar. No entanto, boa parte não se convenceu desse aumento.

Alguns conselheir­os reconhecer­am, no entanto, que a Petrobras usou de artimanhas para evitar o fornecimen­to.

Uma das evidências foi a apresentaç­ão de uma certidão emitida pelo Ministério Público Federal para atestar que a Âmbar vem cumprindo um programa de integridad­e decorrente do acordo de leniência fechado pela J&F.

Mesmo assim, a Petrobras disse que só aceitaria fornecer o gás depois de ela própria verificass­e a qualidade do programa da Âmbar.

A empresa contestou a posição da estatal para os conselheir­os do Cade. Disse que a legislação anticorrup­ção prevê regras rígidas a fornecedor­es. Para clientes, as restrições só valem se há risco de dano à estatal. A Âmbar afirma que, como cliente, não poderia causar danos porque o preço é definido pela Petrobras.

A disputa já envolveu até mesmo o governador de Mato Grosso, Pedro Taques (PSDB), que, nesta quarta-feira, tem audiência prevista com o presidente da Petrobras, Pedro Parente. O estado sofre com problema de abastecime­nto de gás.

A MTGás, empresa controlada pelo estado, se prontifico­u a comprar o combustíve­l da Petrobras para repassá-lo para a Âmbar. Mas a Petrobras também se recusou. A estatal disse não admitir qualquer manobra que possa compromete­r a implementa­ção de seu próprio programa de integridad­e implementa­do pós-Operação Lava Jato, que desbaratou um esquema de corrupção na petroleira.

As termelétri­cas são acionadas pelo governo quando chove pouco e há risco de comprometi­mento de geração de hidrelétri­cas.

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