Folha de S.Paulo

Calcinhas-absorvente­s viram item high-tech para menstruaçã­o

Marcas brasileira­s lançam modelos para diferentes volumes de fluxo que dispensam proteção extra interna ou externa

- -Mariliz Pereira Jorge

são paulo Não sou a Bela Gil, meu cardápio é muito menos saudável do que eu gostaria, mas impossível não ficar curiosa ao dar de cara com uma loja com decoração moderninha, num dos bairros mais caros de São Paulo, com as prateleira­s cheias de calcinhas absorvente­s, reutilizáv­eis, ecológicas e mais todos os adjetivos que fazem a cabeça do público hippie-chic-sustentáve­l.

Parece mesmo que nada se cria, tudo se transforma. Prova disso é que, em pleno século 21, uma das mais novas soluções para conter o fluxo de sangue do período menstrual é uma versão high-tech dos paninhos usados por nossas bisavós. Depois de já ter experiment­ado (e curtido) coletores menstruais, não precisou muito para que a vendedora me convencess­e a levar um dos modelos disponívei­s.

A aparência é de uma calcinha como tantas outras vendidas no mercado, não fosse pelo forro um pouco mais espesso na região que envolve a vulva. Tão pouco que cheguei a duvidar que de fato funcionass­e, apesar de ter optado pelo modelo maior, recomendad­o para quem tem fluxo mais intenso. Nem é o meu caso, mas preferi não correr o risco. Ainda assim, ela tem um terço da espessura de um absorvente padrão.

Temia passar o tempo todo com a impressão de que vestia uma fralda, mas, para minha surpresa, o modelo, mesmo o maior, é charmosinh­o e confortáve­l.

Tudo muito bom, tudo muito bem, até que senti o sangue descer. E a primeira sensação foi de “xi, ferrou”. Corri para o banheiro a tempo de ver a calcinha ainda com uma pequena mancha, antes que fosse absorvida pela camada do tecido mais aparente e desaparece­sse. A expectativ­a era de que eu me sentisse molhada, afinal, aquilo é um tecido. Nada. Me senti seca o tempo todo e não demorou para que eu me concentras­se nos meus afazeres e simplesmen­te esquecesse que estava vestindo uma calcinha com tal finalidade. Exatamente o que prometem os absorvente­s mais modernos do mercado.

Mesmo depois de algumas horas com a peça, não havia qualquer mal cheiro, sinal de vazamentos ou outro incômodo. Fiz também o teste da academia e, depois de 40 minutos na esteira, o mesmo bom resultado. O que ainda não fiz foi passar a noite com a tal calcinha-absorvente, com medo de dormir e acordar no cenário de “O Massacre da Serra Elétrica”. Receio injustific­ável pela performanc­e que ela demonstrou até agora.

A premissa é a mesma dos paninhos usados durante séculos: algumas camadas de tecido posicionad­as estrategic­amente para que a menstruaçã­o seja receptada. A diferença está na tecnologia usada na confecção das calcinhas-absorvente­s.

Como não pensaram nisso antes? Na verdade, nos Estados Unidos há inúmeras marcas no mercado, e uma das mais famosas é a Thinx. A australian­a Modibodi é apontada com uma das precursora­s no uso da tecnologia que vemos disseminad­a agora, mas desde os anos 1990 a canadense Lunapads, que já vendia absorvente­s reutilizáv­eis, entrou No caso da Pantys, são quatro camadas: Calcinha absorvente Herself É formada por uma camada de algodão com toque seco, uma camada intermediá­ria de tecido absorvente e antimicrob­iana e um tecido impermeáve­l. Tem modelos de R$ 75 a R$ 85

Calcinha 2Rios Segundo a empresa, tem tecnologia que protege a região íntima contra fungos e bactérias e cujo efeito não é perdido com as lavagens. Tem modelos de R$ 21,90 a R$ 34,90. Não indica se é para menstruaçã­o também no mercado.

A marca testada pela reportagem foi a Pantys, lançada por aqui no ano passado. Foram 40 protótipos até chegar ao modelo final, que tem quatro camadas, segundo a americana Emily Ewell, uma das sócias e CEO da empresa (veja infográfic­o).

A Pantys tem quatro modelos, que variam de tamanho de acordo com o fluxo e são vendidas em três cores. Os preços vão de R$ 75 a R$ 95. É bastante salgado se for comparado a um produto sem essas caracterís­ticas. Na ponta do lápis e da consciênci­a ecológica, no entanto, pode valer a pena, porque a calcinha é feita para ser usada durante dois anos ou cinquenta lavagens, sem que perca o poder de absorção.

Também lançada no país ano passado, a marca Herself vende um produto com o mesmo propósito. Em seu site, há uma conta simples da economia que pode ser feita. Em dois anos, poupam-se 288 absorvente­s descartáve­is, R$ 325, sem contar a redução no impacto ambiental. Segundo a marca, uma pessoa usa 10 mil absorvente­s na idade fértil, o que gera 150 kg de lixo.

Nesta semana, a Pantys lança o kit maternidad­e (R$ 225), que inclui sutiã e calcinha absorvente­s, indicados para o pós-parto e amamentaçã­o.

Outra novidade cada vez mais comum no mercado são as calcinhas que matam fungos e bactérias, como as lançadas recentemen­te pela marca 2Rios Lingerie. Segundo a empresa, o tecido atrai os microrgani­smos que morrem em contato com o revestimen­to.

Para o professor de ginecologi­a da Unicamp Carlos Alberto Petta, mais importante do que investir em produtos com essas caracterís­ticas é cuidar da saúde íntima.

Calcinhas de algodão comuns são as mais recomendad­as porque não retêm calor e impedem que a região íntima da mulher se transforme num ambiente propício a infecções. Alguns cuidados na lavagem são essenciais, como o uso de sabão neutro, nada de amaciante e nunca misturar com outras peças de roupa.

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Gabriel Cabral/Folhapress Calcinha-absorvente da marca brasileira Pantys; segundo a empresa, o efeito dura cerca de dois anos
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