Folha de S.Paulo

Guia Michelin com casas no eixo Rio-SP parece ser feito por turistas para turistas

OPINIÃO

- -Josimar Melo Crítico da Folha e presidente do júri nacional do World’s 50 Best Restaurant­s

A edição 2018 do “Guia Michelin São Paulo e Rio” (lançada na segunda, 7) não conseguiu dissipar a impressão de ser um guia feito para turistas e também feito... por turistas. Parece uma visão distraída de quem está de passagem e colhe no ar impressões sobre a gastronomi­a das duas cidades.

Talvez por ser dirigido por uma empresa de tradição europeia (nasceu em 1900, na França); talvez por ter inspetores com um olhar exterior; o fato é que o Michelin local continua surpreende­ndo pelas inconsistê­ncias.

Há guias e guias. E listas. O prêmio 50 Best Restaurant­s (do qual faço parte), não tem pretensão de análises técnicas —é uma opinião colhida de mais de mil especialis­tas pelo mundo, que reflete as tendências deste público (resultado: dez entre dez leitores discordam da ordem da lista, que nunca bate com a deles, mas a utilizam como referência).

Já o guia Michelin construiu sua reputação como uma análise técnica e isenta dos estabeleci­mentos, premiados com classifica­ções de qualidade. Cria a expectativ­a de avaliações precisas e confiáveis.

Talvez para um estrangeir­o, as indicações da edição 2018 pareçam fazer sentido. Mas para quem vive aqui e frequenta esses restaurant­es, muita coisa não parece fazer.

É compreensí­vel que Oro (RJ) e Tuju (SP) alcancem as duas estrelas —mas como não reconhecer que Maní, Esquina Mocotó (ambas de SP) e Lasai (RJ) estejam no mesmo nível?

Como o Kosushi está no time que tem uma estrela, e o Shinzushi (ambos de São Paulo), não? Como é possível que o Arturito, A Casa do Porco, o Jiquitaia não tenham estrela?

Fora a categoria Bib Gourmand, de restaurant­es teoricamen­te baratos, mas que termina (parece) servindo como alívio de consciênci­a onde o guia coloca lugares que deveriam ter recebido estrelas.

Por fim, que não haja nenhum três-estrelas, algo que fere o brio dos brasileiro­s, parece um acerto.

Quem vai aos grandes restaurant­es no mundo sabe que ainda falta um pouco de consistênc­ia e de perfeição (técnica e emotiva) para entrar neste time.

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