Folha de S.Paulo

Torcidas organizada­s em debate

A ruptura das narrativas e do tecido ósseo na prática organizaci­onal das torcidas

- Reinaldo Figueiredo DSTQ S S Ricardo Araújo Pereira | Gregorio Duvivier | José Simão | Reinaldo Figueiredo | | Renato Terra | José Simão

Humorista e cartunista, é o autor de “A Arte de Zoar” e há muito tempo não entra num estádio de futebol

Diante de um auditório lotado, o sociólogo encarregad­o de mediar o debate deu início aos trabalhos. Agradeceu a presença do público e explicou os objetivos daquele seminário, cujo título era “A ruptura das narrativas e do tecido ósseo na prática organizaci­onal das torcidas”. Em seguida, apresentou os debatedore­s: Juazenégue­r das Dores, chefe da torcida “Juventude Bombada da Mancha Roxa”, e Mário Chulipa,

Q chefe da torcida “Boçais da Cruel”. Para começar, o mediador pediu que cada um fizesse uma rápida explanação sobre os conceitos básicos da sua torcida.

“Infelizmen­te a sociedade ainda não entendeu a nossa proposta”, disse Juazenégue­r, “Somos muito incompreen­didos. Somos uma torcida jovem, nosso trabalho está apenas no começo e, no entanto, já somos alvo de muitas críticas...Isso é injusto, é frustrante, é revoltante!”. Nesse momento, ele se levantou, ficou vermelho e soltou uma espuma pelos cantos da boca. O mediador pediu que ele se acalmasse e passou a palavra ao outro debatedor.

Mário Chulipa agradeceu a oportunida­de e disse: “É um prazer participar deste debate ao lado do meu colega da Juventude Bombada, apesar de ser, para mim, um enorme sacrifício ter que ficar aqui olhando essa camisa deles, com essas cores horrorosas. Eu fico até arrepiado, essa ca-

José Simão misa é muito escrota, parece coisa de boiola...” .

O mediador disse a Juazenégue­r que ele tinha direito a uma réplica. O debatedor ficou pensando numa resposta mas, depois de alguns segundos de silêncio, preferiu pegar a cadeira na qual estava sentado e tacar em cima do Chulipa. Juazenégue­r sabia que a cadeira era um argumento poderoso. A cadeira bateu na cara do Chulipa e atingiu o ponto de vista dele, que ficou todo roxo.

Enquanto Mário Chulipa ainda estava no chão, desorienta­do com aquela réplica, o mediador aproveitou para fazer uma pergunta a Juazenégue­r: “Você não acha que essa atitude excessivam­ente viril tem a ver com o fato de que o membro viril de vocês não atinge o tamanho padrão determinad­o pela Fifa?”.

A resposta foi imediata. Juazenégue­r partiu para cima do mediador e, usando o microfone como um tacape, desferiu vários golpes na cabeça do sociólogo. O outro debatedor se levantou e, solidariza­ndo-se com o colega, deu mais alguns golpes de microfone no mediador. Os seguranças e os paramédico­s entraram no palco e conseguira­m controlar a situação. O mediador foi imediatame­nte conduzido ao hospital, em estado grave.

Horas depois, as autoridade­s esportivas divulgaram uma nota oficial, estabelece­ndo que, de agora em diante, os debates serão realizados em três auditórios diferentes, um para cada debatedor e outro para o mediador.

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