O índice de corrupção provável
Na ambição de adivinhar o futuro, marqueteiros, cientistas políticos, estatísticos e partidos inundam o mercado eleitoral com índices, taxas, indicadores de todas as espécies. Taxa de rejeição do candidato, índice de confiança no governo, índice de intenção de voto, taxa de recall etc.
Inexiste, porém, um índice de corrupção do candidato, o que seria importante. Pesquisas mostram que este ano talvez seja diferente.
Corrupção e violência podem, sim, ser fatores tão decisivos quanto os tradicionais: emprego, saúde, educação etc.
O que faria esse índice de corrupção subir ou descer? Três fatores devem ser considerados.
Primeiro, Judiciário, Polícia Federal e Ministério Público não têm recesso eleitoral a respeitar. Estarão plenamente ativos até as vésperas.
Segundo, muito antes do mensalão e da Lava Jato, o Ministério Público, a Polícia Federal e o Judiciário já recebiam denúncias de corrupção, improbidade, lavagem, tráfico de influência etc —isso em quase todos os setores da vida política, burocrática e econômica. Licitações, concessões, subsídios creditícios, paraísos fiscais. Sem falar na gestão dos fundos de pensão das estatais, crônica de bomba anunciada.
Historicamente, a estratégia de defesa de muitos potenciais acusados foi a de parar os processos na origem. Fazer arquivar, esquecer, prescrever ou engavetar. Houve até um “engavetador-geral” da República. Agora, não mais.
Grande parte das denúncias, inquéritos e processos parados pela metade ou as provas silenciadas no passado estão ainda disponíveis. Sem falar no tsunami de delações, leniências e confissões de agora.
Enfim, estamos diante de imensa biblioteca de denúncias a serem mais bem lidas pelos órgãos de controle.
Terceiro, o fato novo é que o Brasil agora quer ler. E as eleições são um momento oportuno.
Quando Aécio Neves se posicionou presidenciável, seu passado veio à tona, por sua própria voz. Desistiu.
Efeitos eleitorais similares ocorrem com Jaques Wagner. Com Geraldo Alckmin e Paulo Preto. Com Michel Temer e Coronel Lima.
É a transparência de um passado potencialmente ilícito que faz subir ou descer a taxa de corrupção provável do candidato. O mesmo ocorrerá com candidatos estaduais e municipais, com forte efeito no voto.
Não se trata de vingança pessoal, ativismo judicial ou mesmo de partidarização do MP. Os eleitores se deram conta de que os processos judiciais não terminados os fizeram votar em candidatos judicialmente limpos, mas de passado sujo.
Pela primeira vez nestas eleições, juízes, procuradores, policiais, professores, políticos, mídia investigativa, movimentos sociais, dentre outros, possibilitarão ao eleitor conectar o passado real com o futuro ideal.
Esta conectividade é a novidade eleitoral por excelência.
Não é, pois, aconselhável que candidatos com risco do passado concorram, nem a partidos que os escolham. A candidatura estimula multibuscas na biblioteca dos processos diluídos.
A prescrição ou o “arquive-se” judicial não apagam sua memória — nem fatos, que podem agora se digitar nas urnas. Para o bem ou para o mal, dependerá do eleitor.
O desalento do povo com os políticos é gigantesco (“Menos imprevisível”, Editoriais, 9/5). Nenhum dos pré-candidatos desperta o voto. Representantes de extremismos à esquerda ou à direita, de populismo e sonhadores somente nos trarão mais problemas. E o que nos resta além dos partidos de já conhecida índole? Melhor esperar para ver se surge um candidato de centro viável, apesar de o país estar tão polarizado.
Reinaldo Cunha
Joaquim Barbosa
A Presidência não é cargo para neófitos, mas sim a coroação de uma longa carreira política. Por mais qualidades que Joaquim Barbosa tenha, ele encontraria sérias dificuldades para governar. No final, ele tomou uma decisão acertada (“Barbosa desiste de ser candidato, e aliança do PSB com Ciro ganha força”, Poder, 9/5).
Assassinato de Marielle
Considerando o histórico brasileiro na elucidação de mortes violentas, o caso da vereadora Marielle Franco, se esclarecido nas próximas semanas, será uma verdadeira exceção em um mar de impunidades (“Testemunha liga vereador e ex-PM a assassinato de Marielle, diz jornal”, Cotidiano, 9/4). Helder Oliveira (Toledo, PR)
Limpeza
O presidente da Amlurb, Edson Tomaz de Lima Filho, pronunciou-se no Painel do Leitor (9/5) sobre a reportagem “Gestão tucana afrouxa fiscalização de contrato bilionário de limpeza em SP” (Cotidiano, 8/5). Ele apresentou números, mas não convenceu o morador de São Paulo. A capital, diferentemente do que é dito, é uma sujidade só. Tem razão a Folha. E que o digam as regiões do Brás, Mooca etc. Estamos abandonados em termos de zeladoria urbana.
Marcelo Pedro de Arruda
(São Paulo, SP)
Soluções
Muito pertinente o artigo “Desenhando cidades seguras” (Cotidiano, 9/5). A expansão da maioria dos municípios deve mesmo ser repensada. Brecada pelos modelos defensivos, a convivência míngua assustadoramente. Seria muito saudável os vizinhos retomarem o hábito de passear e de se sentar ao relento para papear, sem olhares desconfiados para todo lado. Modelos defensivos atraem os malfeitores.