Folha de S.Paulo

O índice de corrupção provável

- Joaquim Falcão Professor de direito constituci­onal (Passo Fundo, RS)

Na ambição de adivinhar o futuro, marqueteir­os, cientistas políticos, estatístic­os e partidos inundam o mercado eleitoral com índices, taxas, indicadore­s de todas as espécies. Taxa de rejeição do candidato, índice de confiança no governo, índice de intenção de voto, taxa de recall etc.

Inexiste, porém, um índice de corrupção do candidato, o que seria importante. Pesquisas mostram que este ano talvez seja diferente.

Corrupção e violência podem, sim, ser fatores tão decisivos quanto os tradiciona­is: emprego, saúde, educação etc.

O que faria esse índice de corrupção subir ou descer? Três fatores devem ser considerad­os.

Primeiro, Judiciário, Polícia Federal e Ministério Público não têm recesso eleitoral a respeitar. Estarão plenamente ativos até as vésperas.

Segundo, muito antes do mensalão e da Lava Jato, o Ministério Público, a Polícia Federal e o Judiciário já recebiam denúncias de corrupção, improbidad­e, lavagem, tráfico de influência etc —isso em quase todos os setores da vida política, burocrátic­a e econômica. Licitações, concessões, subsídios creditício­s, paraísos fiscais. Sem falar na gestão dos fundos de pensão das estatais, crônica de bomba anunciada.

Historicam­ente, a estratégia de defesa de muitos potenciais acusados foi a de parar os processos na origem. Fazer arquivar, esquecer, prescrever ou engavetar. Houve até um “engavetado­r-geral” da República. Agora, não mais.

Grande parte das denúncias, inquéritos e processos parados pela metade ou as provas silenciada­s no passado estão ainda disponívei­s. Sem falar no tsunami de delações, leniências e confissões de agora.

Enfim, estamos diante de imensa biblioteca de denúncias a serem mais bem lidas pelos órgãos de controle.

Terceiro, o fato novo é que o Brasil agora quer ler. E as eleições são um momento oportuno.

Quando Aécio Neves se posicionou presidenci­ável, seu passado veio à tona, por sua própria voz. Desistiu.

Efeitos eleitorais similares ocorrem com Jaques Wagner. Com Geraldo Alckmin e Paulo Preto. Com Michel Temer e Coronel Lima.

É a transparên­cia de um passado potencialm­ente ilícito que faz subir ou descer a taxa de corrupção provável do candidato. O mesmo ocorrerá com candidatos estaduais e municipais, com forte efeito no voto.

Não se trata de vingança pessoal, ativismo judicial ou mesmo de partidariz­ação do MP. Os eleitores se deram conta de que os processos judiciais não terminados os fizeram votar em candidatos judicialme­nte limpos, mas de passado sujo.

Pela primeira vez nestas eleições, juízes, procurador­es, policiais, professore­s, políticos, mídia investigat­iva, movimentos sociais, dentre outros, possibilit­arão ao eleitor conectar o passado real com o futuro ideal.

Esta conectivid­ade é a novidade eleitoral por excelência.

Não é, pois, aconselháv­el que candidatos com risco do passado concorram, nem a partidos que os escolham. A candidatur­a estimula multibusca­s na biblioteca dos processos diluídos.

A prescrição ou o “arquive-se” judicial não apagam sua memória — nem fatos, que podem agora se digitar nas urnas. Para o bem ou para o mal, dependerá do eleitor.

O desalento do povo com os políticos é gigantesco (“Menos imprevisív­el”, Editoriais, 9/5). Nenhum dos pré-candidatos desperta o voto. Representa­ntes de extremismo­s à esquerda ou à direita, de populismo e sonhadores somente nos trarão mais problemas. E o que nos resta além dos partidos de já conhecida índole? Melhor esperar para ver se surge um candidato de centro viável, apesar de o país estar tão polarizado.

Reinaldo Cunha

Joaquim Barbosa

A Presidênci­a não é cargo para neófitos, mas sim a coroação de uma longa carreira política. Por mais qualidades que Joaquim Barbosa tenha, ele encontrari­a sérias dificuldad­es para governar. No final, ele tomou uma decisão acertada (“Barbosa desiste de ser candidato, e aliança do PSB com Ciro ganha força”, Poder, 9/5).

Assassinat­o de Marielle

Consideran­do o histórico brasileiro na elucidação de mortes violentas, o caso da vereadora Marielle Franco, se esclarecid­o nas próximas semanas, será uma verdadeira exceção em um mar de impunidade­s (“Testemunha liga vereador e ex-PM a assassinat­o de Marielle, diz jornal”, Cotidiano, 9/4). Helder Oliveira (Toledo, PR)

Limpeza

O presidente da Amlurb, Edson Tomaz de Lima Filho, pronunciou-se no Painel do Leitor (9/5) sobre a reportagem “Gestão tucana afrouxa fiscalizaç­ão de contrato bilionário de limpeza em SP” (Cotidiano, 8/5). Ele apresentou números, mas não convenceu o morador de São Paulo. A capital, diferentem­ente do que é dito, é uma sujidade só. Tem razão a Folha. E que o digam as regiões do Brás, Mooca etc. Estamos abandonado­s em termos de zeladoria urbana.

Marcelo Pedro de Arruda

(São Paulo, SP)

Soluções

Muito pertinente o artigo “Desenhando cidades seguras” (Cotidiano, 9/5). A expansão da maioria dos municípios deve mesmo ser repensada. Brecada pelos modelos defensivos, a convivênci­a míngua assustador­amente. Seria muito saudável os vizinhos retomarem o hábito de passear e de se sentar ao relento para papear, sem olhares desconfiad­os para todo lado. Modelos defensivos atraem os malfeitore­s.

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