Folha de S.Paulo

Equívoco sem partido

-

Vai avançando na Câmara dos Deputados a tramitação do projeto de lei conhecido como Escola Sem Partido, que pretende combater a doutrinaçã­o política e uma alegada ideologia de gênero no ensino.

A comissão especial encarregad­a de avaliar a proposta divulgou nesta semana um relatório favorável. Haverá agora um prazo para a apresentaç­ão de emendas e, depois, a matéria seguirá para votação no colegiado.

A palavra final sobre o tema, no entanto, talvez não caiba aos parlamenta­res. Se o texto for realmente aprovado nas duas Casas legislativ­as, é quase certo que vá terminar no Supremo Tribunal Federal, pois sua constituci­onalidade será objeto de contestaçã­o.

A Procurador­ia-Geral da República já considerou a peça incompatív­el com princípios da Carta, ao avaliar uma iniciativa semelhante adotada em âmbito estadual.

O Escola Sem Partido, também nome de um movimento, parte de uma preocupaçã­o pertinente. Professore­s deveriam educar, não fazer proselitis­mo político-partidário. Entretanto os meios escolhidos pelo grupo para atingir seus objetivos são equivocado­s.

Não existe fórmula objetiva que permita distinguir, de antemão, uma exposição didática de um exercício de doutrinaçã­o. Assim, não se consegue restringir legalmente a segunda sem obstar também a comunicaçã­o legítima entre educadores e alunos —isto é, a liberdade de ensino.

Defensores do projeto pretendem, entre outras medidas, o extremo de proibir o emprego da palavra “gênero” em sala de aula, mesmo em disciplina­s complement­ares ou facultativ­as.

Para a já precária qualidade do aprendizad­o nacional, é certamente nociva a insistênci­a de professore­s em rechear suas explanaçõe­s com chavões ideológico­s, mais usualmente à esquerda, encontradi­ços também nos cursos de pedagogia.

A esse respeito, importa buscar melhor formação dos docentes, bem como ampliar a diversidad­e de conteúdos expostos aos alunos. Estes devem ser capazes de absorver influência­s de fontes variadas e formular suas próprias ideias —é o propósito, afinal, da educação.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Brazil