Folha de S.Paulo

O homem por trás da página

- Ruy Castro

rio de janeiro A imprensa sempre viveu um caso de amor com artistas plásticos. Nos EUA, Norman Rockwell cresceu junto com a revista Saturday Evening Post. A Esquire revelou Alberto Vargas. A New Yorker foi e é o reduto dos cartunista­s: James Thurber, Peter Arno, Charles Addams, Saul Steinberg, dezenas de outros. E o New York Times teve Al Hirschfeld por mais de 70 anos!

O Brasil também gerou uma formidável tradição de caricaturi­stas, como J. Carlos, K. Lixto e Raul Pederneira­s, para citar só os maiores, em revistas como Careta, Para Todos..., Fon-Fon —por caricatura entendase que eles faziam charge, ilustração e humor no mesmo desenho. Di Cavalcanti produziu capas para O Malho. E Portinari ilustrou folhetins em O Cruzeiro, que, por sua vez, tinha, toda semana, Millôr Fernandes, Péricles (“O Amigo da Onça”) e Carlos Estevão.

Mas ninguém deve ter sido tão poderoso quanto Arthur Paul. Ele foi o diretor de arte da Playboy americana, desde o número um, com Marilyn Monroe na capa e no folder, em 1953, até quase os anos 90. Criou também o logotipo do coelho. Mas sua façanha foi tornar Playboy o máximo em criativida­de gráfica adequada aos textos, com recursos de papel e paginação nunca vistos. Se Salvador Dali e Andy Warhol topavam qualquer cachê para estar entre seus ilustrador­es, imagine os novatos.

A Playboy brasileira, em boa parte de sua história, também foi este modelo entre nós. Assim como Paul, Carlos Grassetti, seu diretor de arte, pautava os ilustrador­es, quase lhes dizendo o que deveriam desenhar. E quem eram esses ilustrador­es? Os nomões dos museus e galerias, como Aldemir Martins, Wesley Duke Lee, Rubens Gerchman, Ivald Granato, Newton Mesquita, Darel Valença, Claudio Tozzi, Siron Franco, e veteranos da especialid­ade, como Benicio, Lan, Elifas Andreato.

Arthur Paul morreu semana retrasada, em Chicago, aos 93 anos. Não por acaso, era fã da Playboy brasileira.

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