Folha de S.Paulo

Maio francês se espalhou pela Europa e ecoou no Brasil

- Colaborou Edgar Silva

Entre os apoios, estavam os dos cineastas JeanLuc Godard, 37, e François Truffaut, 36, e o do filósofo Jean-Paul Sartre, 62

A greve levou mais de 1 milhão de pessoas às ruas contra o governo e foi seguida de outras paralisaçõ­es e ocupações de fábricas

A situação piorou antes de melhorar para o governo, que amargou mais barricadas e violência. Aumentos a trabalhado­res e férias escolares enfraquece­ram os atos. No fim do mês, De Gaulle dissolveu a Assembleia e convocou eleições, obtendo vitória. Seus apoiadores tomaram as ruas contra a “ameaça vermelha”. A esquerda —a moderada— só levaria a Presidênci­a em 1981, com François Mitterrand til, de objetivo muitas vezes indefinido, preocupa o governo a hipótese de os trabalhado­res franceses aderirem à revolta.

Isso sim teria efeitos muito mais profundos para a economia e até para a continuaçã­o no poder de De Gaulle, o mesmo presidente que, em mensagem de fim de ano, em 31 de dezembro passado, afirmara: “Saúdo o ano de 1968 com serenidade”

7.

O maio francês e suas famosas e provocativ­as palavras de ordem —“É proibido proibir”, “Seja realista, peça o impossível”, “Goze sem entra- ves” e “A humanidade só será feliz quando o último capitalist­a for enforcado com as tripas do último esquerdist­a”— atravessar­am as fronteiras do país.

Atos estudantis se multiplica­ram ao longo do mês por Bélgica, Itália, Alemanha e até pelo leste europeu, região sob influência soviética.

Entre os jovens alemães, a contestaçã­o ganhou um componente adicional de urgência por ter como alvo a geração que cometeu os crimes do nazismo. “O ‘1968’ alemão foi um movimento moral antes de ser político”, definiu o jornalista Hans Kundnani no livro “Utopia or Auschwitz – Germany’s 1968 Generation and the Holocaust”, de 2009.

Assim como na França, o discurso revolucion­ário da juventude das ruas julgou excessivam­ente conciliado­r o discurso dos partidos comunistas históricos, o que gerou posteriorm­ente a criação de grupos extremista­s como as Brigadas Vermelhas italianas e o grupo Baader-Meinhof, na Alemanha, que praticaria­m atos de violência.

No Brasil, o governo militar ainda estava às voltas naquele maio com protestos após a morte do estudante Edson Luiz de Lima Souto pela PM no Rio, ocorrida em março.

Em junho, lembra Zuenir Ventura em “1968 —O Ano que Não Terminou”, a França ecoava em declaração do presidente Costa e Silva: “Enquanto eu estiver aqui, não permitirei que o Rio se transforme em uma nova Paris”. O ministro do Trabalho, Jarbas Passarinho, afirmou: “O Tietê não é o Sena”.

O líder estudantil Luís Raul Machado respondeu: “Os generais podem estar tranquilos que não se repetirá aqui o que houve na França. Vai ser muito pior”.

Não faltaram protestos e batalhas campais naquele ano para lembrar o país europeu, mas a reação do governo deixou claras as armas à disposição de uma ditadura latino-americana, sendo a mais decisiva delas a edição do AI-5, em dezembro daquele ano. acervo.folha.com.br Protestos dos estudantes foi destaque da edição da Folha de 12.mai.1968 FOLHA PUBLICA SÉRIE SOBRE 1968 Reportagen­s relatam, como se tivessem ocorrido nos dias de hoje, fatos que marcaram ano de mudanças

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