Folha de S.Paulo

Israel bombardeia alvos iranianos na Síria em resposta a ataque de Teerã

Maior ação israelense no país vizinho em 44 anos deixa 23 mortos e é criticada por líderes europeus e ONU

- -Daniela Kresch Com agências de notícias

telaviv,jerusaléme­beirute O governo israelense anunciou nesta quinta-feira (10) ter bombardead­o dezenas de alvos iranianos na Síria em represália a disparos de foguetes feitos por Teerã contra território controlado por Israel nas colinas de Golã.

Os ataques noturnos mataram 23 combatente­s (cinco soldados sírios e 18 membros das forças aliadas ao regime), informou o Observatór­io Sírio dos Direitos Humanos, ONG com sede no Reino Unido. Os mísseis atingiram a capital Damasco e Homs, no oeste do país, mas não há detalhes da situação nas duas cidades.

Segundo uma fonte do aparato de segurança israelense, trata-se do maior ataque conduzido por Israel na Síria em 44 anos, desde que os dois países assinaram um tratado de distensão após a Guerra do Yom Kippur (1973).

Para o porta-voz militar de Israel, tenente-coronel Jonathan Conricus, a ação foi uma mensagem clara de Israel a Teerã: desista de atacar a partir da Síria.

“É preciso olhar para isso sob a perspectiv­a de que os iranianos estão a 1.600 km da fronteira deles, se estabelece­ndo num país que não é o deles e espalhando capacidade­s militares hostis para ameaçar o Estado de Israel. Estamos nos defendendo na medida certa”, afirmou à Folha.

Segundo Conricus, os alvos do bombardeio foram os locais de onde, horas antes, as forças iranianas tinham disparado cerca de 20 foguetes contra bases israelense­s nas colinas de Golã —região anexada pelos israelense­s em 1981 que é reivindica­da por Damasco.

Para o tenente-coronel, é possível que haja mais confrontos entre Israel e Irã na fronteira síria. Os iranianos teriam que conter as ambições de Qasem Soleimani, comandante da Força Quds, braço armado da Guarda Revolucion­ária no exterior.

Soleimani estaria determinad­o a atacar Israel diretament­e, e não por meio de terceiros, como a milícia libanesa Hizbullah e o grupo radical palestino Hamas.

De acordo com o Ministério da Defesa da Rússia, aliada do ditador Bashar al-Assad e de Teerã, o Exército israelense utilizou 28 aviões e dis- Bandeira israelense nas colinas de Golã, região na fronteira síria anexada por Israel e alvo de bombardeio­s do Irã Israel e Irã fazem bombardeio­s dos países.

parou 70 mísseis contra posições iranianas na Síria. Moscou disse que metade dos foguetes foi abatida pelo sistema de defesa antiaéreo. Teerã não comentou o caso.

O aumento da tensão entre Israel e Irã acontece após o presidente americano, Donald Trump, anunciar na terça-feira (8) que seu país vai deixar o acordo nuclear com Teerã e vai restaurar as sanções contra a economia iraniana, movimento que tem o apoio do governo israelense.

No mesmo dia, bases iranianas foram bombardead­as na Síria, matando 15 militares. O regime iraniano atribuiu o ataque a Israel.

Nesta quinta, o governo Trump disse que apoia o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, e voltou a criticar o Irã. Em nota, a Casa Branca chamou atenção para o “direito de autodefesa de Israel”.

O ataque em Golã foi “só mais uma demonstraç­ão de que o regime iraniano não é confiável e outro bom lembrete de que o presidente tomou a decisão certa de sair do acordo com o Irã”, disse a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, à rede Fox News.

Já a Rússia pediu um diálogo

entre os dois países. “Isso é uma tendência muito preocupant­e. Nós partimos do fato de que todos os problemas devem ser solucionad­os por meio do diálogo”, afirmou o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov.

O presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu uma “desescalad­a”, enquanto o governo da Alemanha disse que o ataque nas colinas de Golã foi uma grave provocação do Irã.

“A escalada das últimas horas nos mostra que se trata realmente de uma questão de guerra ou paz”, advertiu a chanceler alemã, Angela Merkel.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu, em comunicado, “um cessar imediato dos atos hostis e de provocação” no Oriente Médio.

No texto, Guterres exigiu também que o Conselho de Segurança da entidade monitore de perto o caso sírio para conduzir a uma solução política sob a carta da ONU.

Nesta quinta, porém, nenhum dos 15 países-membros do conselho parecia disposto a pedir uma reunião urgente sobre a escalada militar.

Comércio entre Brasil e Irã

O país persa está na 21ª posição no ranking de exportaçõe­s brasileira­s

Exportaçõe­s* Importaçõe­s* Balança comercial* Exportaçõe­s ano a ano, em US$ bilhões 1,84 2,33

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Jalaa Marey/AFP

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