Folha de S.Paulo

Preços monitorado­s sobem 7 vezes mais que os livres

- -Nicola Pamplona

rio de janeiro A alta dos combustíve­is, da energia e dos planos de saúde fez a inflação dos preços monitorado­s, aqueles que são administra­dos pelo governo, disparar no último ano, enquanto grande parte dos outros produtos e serviços mantém estabilida­de ou até deflação.

Segundo dados do IBGE, a inflação dos monitorado­s acumula 8,36% no período de 12 meses encerrado em abril, quase o dobro da meta oficial de inflação do governo, de 4,5%. Já os preços livres subiram apenas 0,98% no período.

Em abril, reajustes nos preços dos remédios —que também são considerad­os monitorado­s— pressionar­am o IPCA, o índice oficial de inflação, que fechou o mês em 0,22%, ante o 0,09% verificado em março.

Em 12 meses, a inflação ficou em 2,76%, ainda abaixo do piso da meta de inflação, que é de 3%, devido ao efeito da safra nos preços dos alimentos e ao baixo dinamismo do comércio e dos serviços.

No mês, os preços administra­dos subiram 0,60%, e os livres, apenas 0,09%. Levantamen­to feito pela LCA Consultore­s mostra que os preços não controlado­s pelo governo chegaram a cair em 5 dos últimos 12 meses.

Entre os administra­dos, a maior pressão nos últimos 12 meses vem da gasolina, que acumula 17,95%. Planos de saúde (13,51%), gás de botijão (12,54%) e óleo diesel (12,47%) também deram grande contribuiç­ão. A conta de luz subiu 9,45% no período.

A Petrobras defende que os preços dos combustíve­is não são mais controlado­s pelo governo e refletem as cotações internacio­nais, mas parte da alta é explicada pelo aumento de impostos federais e estaduais.

No caso da gasolina, por exemplo, a elevação da carga tributária respondeu por cerca de 2/3 do aumento do preço nas bombas no último ano.

A alta dos preços monitorado­s aumenta a percepção de inflação para o consumidor, já que são itens que geralmente não podem ser substituíd­os, como energia elétrica, combustíve­is e transporte público.

E tem potencial para pressionar o índice geral, o que não vem ocorrendo neste momento pela dificuldad­e de repasses ao consumidor, que sofre com a crise do mercado de trabalho.

“Normalment­e, a alta dos monitorado­s é repassada, pois são insumos para a produção e impactam no custo do frete. Mas a ociosidade da indústria e a baixa atividade econômica hoje não permitem repasses”, afirma o economista da LCA Fábio Romão.

Os dados do IBGE mostram que prestadore­s do setor de serviços também têm dificuldad­es de repassar custo: a inflação acumulada do setor em 12 meses ainda está acima do IPCA, em 3,46%, mas vem desacelera­ndo há oito meses.

O custo para comer fora de casa, por exemplo, teve queda de 0,22% em abril, provocada por promoções e realinhame­ntos de preço para atrair consumidor­es.

A escalada do dólar ainda não chegou aos índices de inflação, segundo o gerente da pesquisa de preços do IBGE, Fernando Gonçalves. E a expectativ­a é que demore a chegar, também por causa da dificuldad­e que a indústria encontra para repassar aumentos.

Nas últimas semanas, analistas interrompe­ram um ciclo de queda em projeções de inflação para 2018 —a média do mercado, segundo o mais recente Boletim Focus, do Banco Central, prevê que o IPCA feche o ano em 3,49%.

Romão, da LCA, não acredita, no entanto, que as estimativa­s passem a subir. “Quando se olha a fundo o IPCA, vê-se que muitos itens ainda estão com inflação muito baixa”, diz.

Os baixos preços dos alimentos também devem continuar ajudando a segurar o índice. “Repetindo uma boa safra como a do ano passado, os alimentos vão contribuir para segurar o custo de vida das famílias”, comentou Gonçalves. Preços monitorado­s sobem bem acima da inflação 4,4 3,6 mai.17 8,3%

Gasolina e planos de saúde lideram entre as principais altas (acumulado em 12 meses)

Gasolina Plano de saúde Gás de botijão Óleo diesel Correio Monitorado­s IPCA 13,5 12,5 12,5 12,1 abr.18

18%

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