Dono da Dolly é preso sob suspeita de fraude de R$ 4 bi
Segundo Ministério Público de SP, esquema iniciado nos anos 1990 gerou prejuízo para Receita e fisco paulista; empresa afirma que prisão é injusta e vai recorrer
são paulo O empresário Laerte Codonho, sócio da marca de refrigerantes Dolly, foi preso temporariamente nesta quinta-feira (10).
Segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo, a prisão foi fruto de um esquema fraudulento que se arrasta desde ao menos 1998 e que já acumulou R$ 4 bilhões em impostos estaduais e federais não pagos. De ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) foram R$ 2,1 bilhões, de acordo com a Promotoria.
“A dívida foi constituída por fraudes praticadas por muitos anos, que foram evoluindo ao longo do tempo, à medida que aumentava o cerco”, disse Rodrigo Silveira, promotor de Justiça do Gedec (Grupo de Representação a Delitos Econômicos).
Inicialmente, a empresa emitia notas de valores menores que os reais e apresentava rendas sem notas, segundo a investigação do Ministério Público paulista. Depois aperfeiçoou a fraude: por meio de laranjas, constituiu distribuidoras que simulavam a compra de refrigerantes, gerando créditos irregulares, disse o promotor.
A fraude evoluiu para um sistema formado por três fábricas, em que duas delas emitiam notas de refrigerantes Siga essa dica. Pesquisa Datafolha mostrou que quem lê a FOLHA tem um índice de aprovação na FUVEST 44% maior do que quem não lê. Por isso, se você vai prestar vestibular ou tem um filho vestibulando, assine a FOLHA.
Ligue 0800 015 8000 ou acesse: www.assinefolha.com.br que na verdade eram produzidos na unidade central, de Diadema (SP), disse Silveira.
A prisão de Codonho tem prazo de cinco dias, prorrogáveis por mais cinco. Também foram presos o ex-contador da empresa Rogério Raucci e o gerente financeiro, César Requena Mazzi.
A explicação para as prisões temporárias foi evitar a destruição de provas, o que já teria ocorrido em operações passadas envolvendo a companhia.
“Vamos buscar coletar o máximo de provas nesse tempo”, disse Cassiano Moreira, procurador do estado, .
Além das prisões, houve o bloqueio patrimonial dos integrantes do esquema e a quebra do sigilo bancário e fiscal, além do sequestro de diversos bens, cujo valor ainda não foi contabilizado.
Entre eles, estão 13 automóveis, alguns deles de luxo e de colecionadores, e três helicópteros —dois estavam em um hangar irregular em São Bernardo do Campo e o terceiro não teria registro na Anac (agência reguladora do setor aéreo).
Codonho seria o líder do esquema, de acordo com a procuradoria paulista.
Ao chegar ao 77º DP, na região central de São Paulo, o empresário estendeu uma folha de papel em que estava escrito “Preso pela Coca-Cola” e apresentou aos jornalistas. Sobre tal atitude, o promotor Silveira afirmou que não há nenhuma outra fabricante de refrigerantes envolvida nas investigações.
Procurada, a Coca-Cola, que é a maior concorrente da Dolly, disse que não comenta processos judiciais em que não esteja envolvida.
A Dolly afirma, em nota, que a prisão de Codonho é injusta, que ele sempre colaborou com as autoridades e que tem certeza de que o empresário provará sua inocência.
“A defesa recorrerá da decisão e confia na Justiça.”
O promotor Silveira, no entanto, disse que, durante as buscas e apreensões desta quinta-feira, não houve colaboração da companhia para viabilizar o acesso aos locais das empresas. Foram encontrados quase R$ 200 mil em espécie escondidos em paredes falsas e outros lugares, segundo ele.
Ao chegar à delegacia, onde era esperado por jornalistas, Codonho negou as suspeitas de fraude.
“Como eu vou sonegar com a Fazenda o dia inteiro em cima da gente? Nós somos vítimas de uma fraude de um contador contratado pela CocaCola”, disse Codonho.
O promotor afirmou que, de fato, há indícios de que o contador teria desviado recursos. “Mas os valores não justificam os desvios bilionários. Tratase de cortina de fumaça para justificar o injustificável.”
Essa não é a primeira vez que o nome de Codonho aparece envolvido em investigações por fraudes fiscais.
No ano passado, a Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo deflagrou a Operação Clone, contra a fabricante de bebidas Dolly, por suspeitas de que a companhia teria retomado as atividades de modo irregular, a partir da criação de novas empresas, após ter sua inscrição estadual cassada em 2016.
No histórico do empresário há também uma condenação por sonegação de contribuição previdenciária.