Folha de S.Paulo

Filha de Djavan cede edifício a sem-teto em troca de vaquinha

Antigo hotel no centro é ocupado por 200 pessoas, que dão para ela R$ 6 mil por mês

- -Guilherme Seto

são paulo Na avenida São João, número 288, a poucas quadras dos escombros do desabado edifício Wilton Paes de Almeida, no centro de São Paulo, está o antigo Hotel Central. Construído em 1918 pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo, que idealizou obras como o Theatro Municipal, o Palácio dos Correios e o prédio da Pinacoteca, o edifício hoje é ocupado por cerca de 200 pessoas do movimento FLM (Frente de Luta por Moradia) —que contam com o apoio daquela que reconhecem como proprietár­ia do imóvel.

A cantora, escritora e filósofa Flávia Virgínia, 46, filha do cantor e compositor Djavan, tem um acordo com os moradores do elegante prédio de quatro andares, que possui 40 apartament­os e uma fachada adornada por elementos barrocos, com colunas, volutas, portas-balcão e mansardas.

Segundo explicam os moradores —sem citar Flávia, que pede que sua participaç­ão não seja motivo de publicidad­e—, o dinheiro que sobra da contribuiç­ão voluntária mensal feita por todos deve ser investido em obras no imóvel.

Enquanto o entendimen­to vigora, ela não solicita a reintegraç­ão de posse e fica com um valor próximo de R$ 6.000 para suas necessidad­es pessoais. Cada um dos moradores participa com quantias entre R$ 80 e R$ 150. O imóvel tem valor venal de R$ 4,5 milhões.

O local é tido pela prefeitura como uma invasão de sem-teto acima do padrão, com instalação elétrica adequada, extintores de incêndio e condições de higiene favoráveis.

Os quartos medem entre 9 m² e 33 m² e receberam hóspedes grã-finos até a década de 1970. Depois, recebeu viajantes com poder aquisitivo mais modesto, e já estava inativo quando foi invadido, em 2012.

A gestão Bruno Covas (PSDB) usou o imóvel para desenvolve­r a metodologi­a das blitze que serão feitas em 70 prédios invadidos. Foi o primeiro a receber vistoria da prefeitura, na segunda-feira (7).

“Os moradores pagam uma espécie de locação social para a proprietár­ia e então ela não pede a reintegraç­ão de posse, porque honramos os compromiss­os com ela”, afirma Osmar Silva Borges, coordenado­r da FLM.

“A proprietár­ia vê o estado do local, acompanha se estamos conservand­o. Ela vem aqui conversar, participa de assembleia­s nossas. O acordo foi feito há quatro anos”, completa Silva, com o cuidado de não revelar o nome de Flávia.

Antonia Nascimento, do Movimento Sem Teto Pela Reforma Urbana, filiado à FLM, é quem cuida da relação com as autoridade­s municipais.

Ela afirma que é nas assembleia­s, com a participaç­ão dos moradores (e, ocasionalm­ente, de Flávia), que são decididos

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