Folha de S.Paulo

Frederic Chapin, um grande americano

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A ideia de controlar o CIE colocando-o sob a supervisão do Planalto simplesmen­te não funcionou.

Em 1976, depois da morte do operário Manoel Fiel Filho no DOI de São Paulo, Geisel demitiu o comandante do 2º Exército, general Ednardo D’Ávila Mello, e defenestro­u Confúcio. Mesmo assim, só restabelec­eu o primado da Presidênci­a sobre as Forças Armadas em 1977, quando mandou embora o ministro do Exército, Sylvio Frota. (No dia da demissão de Frota, doidivanas do CIE pensaram em atacar o Palácio do Planalto.)

Para as vivandeira­s e napoleões de hospício de hoje, o documento da CIA ensina que na ditadura praticaram­se crimes, e aquilo que pretendia ser ordem era uma enorme bagunça. Poucas coisas seriam tão nocivas ao país quanto uma noção segundo a qual entre 1969 e 1977, quando tomou posse o presidente democrata Jimmy Carter, o governo americano moveu-se para conter a ditadura brasileira.

Em 1971, recebendo o presidente Médici na Casa Branca, Richard Nixon disse que “para onde for o Brasil, também irá o resto do continente latinoamer­icano”. Bingo. Dois anos depois ditaduras militares assumiram o poder no Uruguai e no Chile. Em 1976, caiu a Argentina. Entre 1970 e 1973, a embaixada americana era comandada por William Rountree, mais tarde mostrado pelo ex-secretário de Defesa Frank Carlucci como um “adocicador da ditadura”. O consulado americano em São Paulo teve mesa no DOI até 1970.

O jogo virou em São Paulo com a chegada em 1972 do cônsul Frederic Chapin. Era um presbiteri­ano e ligou-se com cardeal Paulo Evaristo Arns. Ficou cinco anos no posto e mandou pelo menos 61 mensagens a Washington narrando e denunciand­o torturas, assassinat­os e prisões, bem como ações da censura. Morreu em 1989, aos 60 anos.

Lições da CIA

Gina Haspel, futura diretora da Central Intelligen­ce Agency, aguentou duas horas e meia de sabatina na Comissão de Inteligênc­ia do Senado americano. Defendeu a tortura passada e condenou o seu retorno. O depoimento da senhora está no YouTube e é uma amostra de competênci­a, inclusive na arte de administra­r silêncios.

A senhora deu duas informaçõe­s triviais:

Com 33 anos de serviço, parte dos quais como agente em operações clandestin­as, Haspel não tem contas em redes sociais.

Durante o depoimento ela tomava discretos goles de um refrigeran­te, bebendo na lata. Nada a ver com o copo d’água teatral de Gilmar Mendes.

Cofres abertos

A campanha eleitoral ainda não começou e já se ouve a frase temível: “Dinheiro não é problema.”

PSDB + MDB Grão-tucanos de muita plumagem garantem que não há chance de aliança do partido com o MDB.

Esse abraço com afogado é o sonho do candidato tucano João Doria, do PSDB. Se essa aliança ocorresse, ele se livraria da candidatur­a de Paulo Skaf, do MDB.

Marx e Carson

Como parte das comemoraçõ­es do segundo aniversári­o de Karl Marx, aqui vai uma boa pergunta:

Do ponto de vista prático, quem influencio­u mais o mundo de hoje, Marx ou Rachel Carson, a americana calada que publicou em 1962 o livro “Primavera Silenciosa”?

Ela denunciou o uso de agrotóxico­s e acordou o mundo para os problemas do meio ambiente. Já o barbudo alemão teve muitas ideias, mas na vida real seus seguidores produziram poluição política, econômica e cultural, noves fora ruínas ecológicas.

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